Cabeça sob controle

João Fonseca não apenas tem mais golpes do que boa parte dos atuais top 30 do ranking, mas, ainda que viva suas primeiras experiências na elite do esporte, já provou que possui também um elemento talvez mais essencial: cabeça no lugar.

O que se viu nesta sexta-feira na Basileia foi um jogador procurando soluções, mantendo-se firme na partida mesmo sem jogar seu melhor e aceitando as oscilações, enquanto o adversário não apenas se perdeu nos seus altos e baixos, como se mostrou incomodado com as variações e ainda protagonizou um verdadeiro papelão ao se retirar de quadra com 1/4 no terceiro set, algo que merece uma bela multa por parte da ATP. Afinal, o regulamento é bem claro: o tenista precisa demonstrar o máximo empenho em quadra.

A partida mostrou dois jogadores bastante instáveis com o saque a favor, sem saber muitas vezes tirar proveito do piso veloz do estádio coberto. Fonseca até começou com quebra, mas demorou demais a achar um ritmo adequado para o serviço e assim foi dominado por um determinado Denis Shapovalov. O momento crucial talvez tenha acontecido no game inicial do segundo set, quando Fonseca se viu com segundo saque no 0-40 e aí arrancou uma sequência de winners milimétricos.

Mas os dois continuavam alternando bons e maus momentos com o saque. O brasileiro fez 4/1, levou nova quebra e, na hora de o canhoto canadense empatar,, faltou precisão. É bem verdade que Fonseca vinha arrancando passadas incríveis com o backhand cruzado, minando uma das opções táticas evidentes do ex-top 10. Sem falar no forehand bombástico, disparado na hora certa, ótimo jogo de pernas para fugir para a esquerda.

Na virada para o terceiro set, o técnico Guilherme Teixeira procurou convencer seu pupilo a fazer Shapovalov jogar mais, iniciando o ponto pelo centro da quadra, o que provavelmente buscava reduzir os ângulos que o canadense tanto gosta. Foi uma dica certeira. João, que já vinha dando alguns bons slices para alternar o ritmo, saiu com quebra e reduziu cada vez mais a confiança de Shapovalov. O canadense escapou por muita sorte da quebra no terceiro game, mas sucumbiu no serviço seguinte e aí, numa atitude lamentável, desistiu da partida.

Como os deuses do tênis não perdem a chance de se divertir, colocaram Fonseca e Shapovalov para se enfrentar de novo daqui a poucos dias, na primeira rodada do Masters 1000 de Paris. Já estou curioso para assistir como Shapovalov vai se comportar. Não me surpreenderia com uma desistência prévia de jogar o torneio.

Enquanto isso, Fonseca disputará sua primeira semifinal de nível 500 já na privilegiada condição de número 39 do futuro ranking. Será o 12º jogador profissional brasileiro a figurar no top 40, isso com seus tenros 19 anos. E pode vir mais. Subirá para 34º em caso de final e irá ao 28º se ficar com o título. Sim, isso tudo é possível.

Dono de um estilo completamente diferente de Shapovalov, o espanhol Jaume Munar merece todo o cuidado. Está em bom momento e acaba também se atingir sua mais alta classificação, como 35º provisório. Não tem grande saque, mas joga com muita regularidade, potência e pernas lá da base. Sou mais João.

E mais

– Que rodada estranha na Basileia. Além da fuga de Shapovalov, Aliassime só jogou um set contra Munar e Ruud desistiu depois de perder o tiebreak para Davidovich. Só mesmo Umbert fez partida inteira contra Opelka.
– Isso sem falar que, nas oitavas, Mensik também não foi para a quadra para enfrentar Fonseca, depois da estreia duríssima que teve. Está com pé machucado, mas manteve inscrição em Paris.
– Em Viena, semifinais só com top 10. Zverev nem entrou para enfrentar Griekspoor e garantiu a vaga no Finals. Vai enfrentar Musetti, enquanto Sinner encara De Minaur pela 12ª vez sem jamais ter perdido para o australiano.
– Rybakina conclui a primeira parte da tarefa com destreza, está na semi e no Finals. Enfrenta Noskova e deve decidir Tóquio contra Bencic ou Kenin.
– Stefani e Babos estão em mais uma semifinal e fazem um bom teste contra Townsend e Perez. A dupla da brasileira não pode avançar além do atual sétimo posto, mas Luísa será novamente top 15 se for à final.

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Paulo A.
Paulo A.
1 hora atrás

Os milionários tenistas atuais são muito mimados e voluntariosos!

Paulista de 63 anos, é jornalista especializado em esporte há mais de 45 anos, com coberturas em Jogos Olímpicos e Copa do Mundo. Acompanha o circuito do tênis desde 1980, tendo editado a revista Tênis News. É o criador, proprietário e diretor editorial de TenisBrasil. Contato: joni@tenisbrasil.com.br
Paulista de 63 anos, é jornalista especializado em esporte há mais de 45 anos, com coberturas em Jogos Olímpicos e Copa do Mundo. Acompanha o circuito do tênis desde 1980, tendo editado a revista Tênis News. É o criador, proprietário e diretor editorial de TenisBrasil. Contato: joni@tenisbrasil.com.br

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