PLACAR

Baby Federer está de volta

A comparação de estilos com Roger Federer raramente fez bem a Grigor Dimitrov, mas suas atuações mais recentes desta temporada remetem indiscutivelmente ao genial suíço. Foi o caso da vitória notável desta quarta-feira em Xangai, em que a agressividade orquestrou sua opção tática e lhe permitiu enfim derrotar Carlos Alcaraz. O búlgaro sempre rendeu mais quando deixou o vistoso porém excessivo atleticismo defensivo e partiu para cima do adversário.

Aos 32 anos e de novo orientado por Daniel Vallverdu, com quem conseguiu sua grande arrancada de 2017, Dimitrov viveu momentos instáveis em sua carreira, mas a rigor tem se mantido no alto nível por toda a última década. Talvez sejam justamente a lembrança e amizade com Federer que colocaram o circuito na expectativa de que ele conseguiria fazer mais em termos de títulos de peso. Ele aliás não ganha um torneio desde a conquista do Finals em 2017, o que é um gigantesco hiato.

Dimi começou a chamar a atenção quando venceu dois 500 e um 250 em 2014, em três pisos distintos. Isso o levou ao top 10 por 14 semanas. Mas não embalou como se esperava. Em junho de 2016, contratou Vallverdu, o ex de Andy Murray, e começou novamente a colher frutos. Retornou ao top 20 e na temporada seguinte viveu o ápice, com a conquista do Finals e de seu único 1000, em Cincinnati, o que o faria terminar como número 3 do ranking. Meses depois, chegaria à final de Roterdã – a última por cinco anos.

O fato é que o búlgaro passou praticamente toda a temporada de 2018 no top 10 e aproveitou pouco. Sem defender resultados, despencou para o 78º e encerrou a parceria com Vallverdu. Apesar da falta de troféus, Dimitrov passou a maior parte das temporadas 2020 e 2021 na faixa dos 20 primeiros, o que é exemplo claro de sua regularidade. Nesse período, contratou Dante Bottini, que havia trabalhado com Kei Nishikori, mas a limitação tática de Dimitrov incomodava. Sempre muito atrás da quadra, correndo demais atrás da bola e com dependência enorme do primeiro saque.

Quando soube do rompimento de Vallverdu com Stan Wawrinka, Grigor não pensou muito e trouxe o treinador de volta. Fizeram um teste de dois meses e resolveream seguir em 2023, o que me parece ter sido essencial. Dimitrov voltou a fazer uma final, no saibro de Genebra, e somou semi em Roterdã, Washington e Chengdu. Também ganhou de gente importante, como Hubert Hurkacz, Holger Rune, Taylor Fritz e Frances Tiafoe, ainda que curiosamente tenha se atrapalhado nas quatro vezes que cruzou Alexander Zverev neste ano.

A vitória sobre Alcaraz foi sua 34ª em 52 jogos disputados desde janeiro, o que já é de longe sua mais destacada temporada desde 2017, quando marcou seu recorde pessoal de 49 triunfos. Nesse intervalo, jamais passou de 26 num mesmo calendário. “Fiquei no jogo mentalmente, essa foi a primeira grande tarefa”, destacou, referindo-se à vantagem de 5/3 no primeiro set que deixou escapar. O destaque na sua atuação foi a troca constante de direções, usando menos slices de backhand, e o intuito claro de definir os lances e sair da correria, com sucesso de 73%. Foram 29 winners, número expressivo diante da lentidão do piso. No terceiro set, só perdeu dois pontos com o primeiro saque. Agora, reencontra Nicolas Jarry, o mesmo que impediu seu título em Genebra.

Quanto ao espanhol, não apenas suas campanhas no dois torneios chineses foram abaixo do esperado, mas principalmente suas atuações. Já em Pequim mostrava dificuldade com o serviço e bastou encontrar um adversário realmente sólido e agressivo, como foi Jannik Sinner, para cair. Em Xangai, sofreu contra Daniel Evans antes de perder o histórico então impecável de 3 a 0 sobre Dimitrov.

Vejo muita gente explicando a queda de Alcaraz pelo cansaço. De fato já fez 72 partidas desde janeiro. Porém, este foi seu 15º torneio, o que mostra um calendário ponderado. Só mesmo Novak Djokovic jogou menos, com 10, enquanto Rune soma 20, Daniil Medvedev chegou a 19 e Sinner tem 17.

Quem sabe, a pressão do favoritismo e a necessidade de somar pontos para recuperar o número 1 nas semanas finais da temporada estejam pesando muito mais do que as horas em quadra.

E mais

  • Alcaraz está inscrito para os 500 de Tóquio e Basileia antes de Paris. Sai da China exatos 500 pontos atrás de Djokovic na Corrida, que é o ranking sem descontos.
  • Andrey Rublev é agora único top 10 nas quartas de Xangai e está virtualmente classificado para o Finals. Enfrentará o recuperado Humbert.
  • Do outro lado, jogam Hurkacz contra a surpresa Marozsan, que já tirou De Minaur e Ruud, enquanto Korda encara Shelton. Os americanos também vêm de ótimas vitórias: Korda tirou Medvedev com autoridade e Shelton barrou Sinner, o campeão de Pequim, em emocionante tiebreak de terceiro set.
  • Com a disputa do 1000 de Pequim, o Finals feminino definiu as oito concorrentes. Sabalenka e Swiatek irão pontuar diferentes grupos e terão companhia de Gauff ou de Rybakina. Fica expectativa de possível grupo com três campeãs de Slam, já que Vondrousova será sorteada com Pegula. Completam Muchova e Jabeur.
  • O título em Pequim deixou Swiatek 630 pontos atrás de Sabalenka e isso indicará luta pelo número 1 no Finals de Cancún.
  • Bia Haddad fez seu sexto jogo da temporada com mais de três horas antes de passar por dura estreia no 250 de Hong Kong. Enfrentará agora a experiente Pavlyuchenkova.
Paulista de 63 anos, é jornalista especializado em esporte há mais de 45 anos, com coberturas em Jogos Olímpicos e Copa do Mundo. Acompanha o circuito do tênis desde 1980, tendo editado a revista Tênis News. É o criador, proprietário e diretor editorial de TenisBrasil. Contato: joni@tenisbrasil.com.br
Paulista de 63 anos, é jornalista especializado em esporte há mais de 45 anos, com coberturas em Jogos Olímpicos e Copa do Mundo. Acompanha o circuito do tênis desde 1980, tendo editado a revista Tênis News. É o criador, proprietário e diretor editorial de TenisBrasil. Contato: joni@tenisbrasil.com.br

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