Alcaraz sem Ferrero: problema ou solução?

Foto: FFT

No momento em que começa a preparação para a nova temporada, tendo como meta imediata a conquista do único troféu de Grand Slam que lhe falta, Carlos Alcaraz chocou o mundo do tênis ao anunciar o encerramento das oito temporadas de trabalho e de enorme sucesso ao lado de Juan Carlos Ferrero.

A separação surpreendeu a própria imprensa espanhola, geralmente bem antenada sobre os bastidores de seus tenistas. Foi divulgada por Alcaraz através de suas redes sociais, num tom todo amistoso, cheio de agradecimentos e elogios. Mas uma postagem feita logo depois pelo treinador deu a entender que foi uma dispensa: “Gostaria de ter continuado” diz muita coisa, apesar dos afagos protocolares.

Não se discute a importância de Ferrero na formação do pupilo. Foi ele quem moldou o tênis de Alcaraz, a quem passou a orientar ainda com 15 anos, logo depois de se separar do alemão Alexander Zverev. Fez um trabalho paciente e conseguiu extrair o melhor do talentosíssimo garoto.

A parceria conquistou 24 títulos, seis deles de nível Grand Slam, e chegou duas vezes à liderança do ranking, somando 50 semanas. E viveu em 2025 sua melhor temporada em termos de números, nível técnico e façanhas. Daí o inesperado da situação.

É bem verdade que Samuel López passou a dividir a função de orientar e viajar com Carlitos em 2024 e isso foi o primeiro sinal de que eram necessárias mudanças. Pouco antes, no final de 2023, diante de resultados fracos, Ferrero reclamou de atitude mais profissional de Alcaraz e disparou um “o ano não termina em setembro”. A chegada de López conseguiu diminuir a tensão e caberá a ele agora seguir como técnico único.

Ninguém ainda se atreveu a apontar motivos, mas os rumores são um tanto óbvios. Ferrero tem um estilo disciplinador e nunca poupou críticas ou ironias quando ao comportamento mais relaxado de Carlitos em determinadas ocasiões, incluindo o documentário da Netflix lançado durante Miami, justamente o torneio que marcou a pior derrota de Alcaraz no ano, eliminado na estreia pelo veterano David Goffin.

Analistas espanhóis não se cansam de apontar um exagero no calendário do número 1, que disputou nada menos que 80 partidas nesta temporada, mesmo tendo ficado de fora de Madri, Xangai e da fase final da Copa Davis. Nos três casos, os motivos foram físicos, que apareceram durante a presença em torneios menores.

A gota d´água pode ser a presença constante de Alcaraz em exibições, como foram os casos dos Six Kings Slam e da Laver Cup e dos recentes confrontos nos EUA, contra Frances Tiafoe e João Fonseca, o que certamente conturba a chamada pré-temporada.

Assim, este começo de 2026 traz curiosas interrogações para o dueto que domina o circuito há dois anos. Enquanto Alcaraz não terá mais a presença e a experiência de Ferrero, o italiano Jannik Sinner não convenceu – ao menos até agora – o australiano Darren Cahill a seguir junto ao italiano Simone Vegnazzi. São perdas de peso.

Se isso colocar molho no tênis masculino, não há do que reclamar.

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João
João
2 horas atrás

Para enfrentar esse bando de fanfarrões superestimados que dominam o circuito, tendo um preparador físico já está de bom tamanho.

JClaudio
JClaudio
1 hora atrás

Será que no tênis, um técnico tem tanta importância?
Federer em 2004, fez uma das melhores temporadas dele, com 11 títulos (3 Slam), sem a figura do técnico, durante a carreira, teve outras temporadas que dispensou a necessidade de um treinador.
Muitos vezes confundimos, a figura do mentor com a do técnico.
Geralmente no circuito, quem tem importância é o pai (ou mãe), que contrata o treinador conforme a necessidade (com aceitação do tenista).
Muitas vezes, a figura do profissional, tem a mesma importância de um fisioterapeuta, um preparador físico, é quase um “celetista”.

Groff
Groff
1 hora atrás

Minha impressão dessa escolha é negativa. O Mosquito entendia o jogo e o potencial do Alcaraz talvez melhor do que ele próprio. A ver.

Paulo F.
Paulo F.
1 hora atrás

Solução.
Eu sou dos que pensam que mudar treinador durante a carreira faz bem para o tenista.
Consegue agregar e ver outros aspectos táticos e técnicos, por exemplo.
Um fora da curva como o Alcaraz só irá se beneficiar.
De modo algum depreciando o excepcional trabalho que o Ferrero fez com ele.

Paulista de 63 anos, é jornalista especializado em esporte há mais de 45 anos, com coberturas em Jogos Olímpicos e Copa do Mundo. Acompanha o circuito do tênis desde 1980, tendo editado a revista Tênis News. É o criador, proprietário e diretor editorial de TenisBrasil. Contato: joni@tenisbrasil.com.br
Paulista de 63 anos, é jornalista especializado em esporte há mais de 45 anos, com coberturas em Jogos Olímpicos e Copa do Mundo. Acompanha o circuito do tênis desde 1980, tendo editado a revista Tênis News. É o criador, proprietário e diretor editorial de TenisBrasil. Contato: joni@tenisbrasil.com.br

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