A nova rainha do tênis e a reviravolta de Ruud

Foto: ATP Tour

Não vai ser fácil tirar Aryna Sabalenka da ponta do ranking, nem mesmo evitar que seu sucesso se prolongue ao longo de 2025. Ao mostrar um tênis ainda mais competitivo, agora menos dependente do saque poderoso ou das bolas de risco, a bielorrussa de 26 anos ainda se aproveita da instabilidade e queda de concorrentes diretas para ampliar seu domínio no circuito.

O título de Madri neste sábado não é exceção. Aryna disputou todas as grandes finais da temporada até aqui. Foi vice no Australian Open e Indian Wells antes de ganhar Miami, decidiu no saibro de Stuttgart e agora se impôs na Caixa Mágica, ou seja, fez campanhas muito relevantes independente da velocidade e do tipo de piso.

Em sua entrevista à WTA, Sabalenka contou que a derrota para Madison Keys em Melbourne foi muito dolorosa, mas que serviu de motivação para treinar mais e uma das metas foi melhorar a parte defensiva, o que exigia investir na movimentação de quadra. Isso tem ficado claro. Ao mesmo tempo, tentou refinar os golpes, com deixadas e slices. Só não está ainda satisfeita com o jogo de rede. “Tenho buscado volear mais, mas não sei se está dando tão certo. Vou continuar tentando”.

Com 31 vitórias na temporada e única com três troféus – o outro veio em Brisbane -, Aryna se tornará nesta segunda-feira a terceira mulher a superar a casa dos 11 mil pontos no ranking feminino, uma distância de incríveis 4.345  para a polonesa Iga Swiatek, que ainda tem a defender Roma e Roland Garros e portanto está pressionada por Coco Gauff, agora 170 pontos atrás. A má notícia para todas elas é que Sabalenka sequer jogou Wimbledon no ano passado e portanto terá todo o Grand Slam da grama para acrescentar pontos. A distância para Keys no ranking da temporada também é expressiva: 1.600.

Gauff aliás merece destaque por seu progresso em Madri. Não começou bem a semana, vacilante no saque e no forehand, e evoluiu a cada partida, a ponto de se impor totalmente a Swiatek na semifinal. Também não se entregou diante de Sabalenka. Chegou a perder 17 pontos consecutivos antes de a adversária fazer 4/1 e quase empatou tudo no oitavo game. Já tinha entendido que precisava atacar mais e desta vez o forehand funcionou bem. Sacou com 5/4 para fechar o segundo set e veio um game em que aconteceu de tudo, incluindo a reação de 0-40, um lance incrível em que a raquete escapou de Aryna e um set-point desperdiçado. Gauff ainda evitaria um match-point antes do tiebreak, mas cruelmente perdeu o ponto final com dupla falta, que segue o maior de seus fantasmas.

Madri foi um excelente avant-première para Roma, este sim um tradicional espelho para Roland Garros.

Ruud dá a volta por cima

Desde suas duas finais em Roland Garros, Casper Ruud se tornou sinônimo de eficiência sobre as quadras de saibro, piso sobre o qual ganhou quase 60% de suas partidas de nível ATP e onde faturou 11 de seus então 12 troféus. O motivo é óbvio: o saque faz menor diferença, as trocas de bola se tornam essenciais na construção dos pontos e a velocidade de pernas ergue um muro defensivo.

Mas faltava a Ruud um título de peso sobre a terra. No ano passado, ele enfim ganhou um 500, em Barcelona, deixando escapar uma semana antes o troféu de Monte Carlo. Com a aposentadoria de Rafael Nadal e a queda física de Novak Djokovic, parecia aberta a porta para que ele se impusesse mais, porém falhou na semi de Paris diante de Alexander Zverev, uma rodada depois de avançar graças ao abandono de Nole.

A tentativa de deixar seu tênis um pouco menos passivo encontrou evidentes dificuldades e Ruud chegou a Madri com apenas 15 vitórias em 21 jogos desde janeiro, incluindo derrotas duras em Monte Carlo e Barcelona. Então, as coisas se encaixaram, E veio até mesmo um sequência perfeita de adversários na Caixa Mágica, como Sebastian Korda, Taylor Fritz, Daniil Medvedev e Francisco Cerúndolo, quatro triunfos sem perder set.

A final contra o surpreendente Jack Draper foi difícil. Ruud demorou a entender que teria de tomar iniciativas para não abrir tanto espaço ao jogo ofensivo do canhoto britânico. Foi presenteado pelo adversário na hora de sacar para o primeiro set e conseguiu duas quebras seguidas para sair na frente. Draper segurou a cabeça e levou a segunda parcial, num jogo que via a maioria dos pontos decidida em poucos lances. Enfim, o norueguês fez Draper correr mais, ameaçou seguidamente o saque do 5º do mundo e liquidou a tarefa com autoridade. Comemorou seu maior troféu de forma quase protocolar. Não se pode exigir tanto dele.

O bom para o circuito é que Ruud se recoloca como um nome de peso para Roma e Paris e se torna novamente uma ameaça séria para qualquer dos favoritos sobre o saibro, torneios que reveem Jannik Sinner sem se saber ao certo o que esperar, Carlos Alcaraz com condições físicas incertas, a desmotivação de Novak Djokovic e a instabilidade de Alexander Zverev. Por que não, Ruud?

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Jmsa
Jmsa
4 horas atrás

Dalcim , até gosto do jogo do.ruud ,me lembra o Ferrer ,mas pra ganhar grand slam ainda falta um grande golpe ,e sinceramente alcaraz e sinner estão bem a frente .
Dalcim ,e o Draper tá surpreendendo ou é bom jogador mesmo ?

Maurício Luís Sabbag
Maurício Luís Sabbag
4 horas atrás

Boa noite, Dalcim. Uma correção: no penúltimo parágrafo, tá escrito que Ruud é dinamarquês. Ele é norueguês…
No mais, ótima análise, e melhor ainda por dar grande destaque ao título da Sabalenka, pra quem eu torço.
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É chover no molhado dizer que foi merecido o título do Casper Ruud, ainda mais depois daquela contusão da costela na semi.
Porém acredito que organizadores, mídia e patrocinadores não devem estar “pulando de alegria dessa altura” com esta final. Por que?
Porque foi entre 2 jogadores que não tem uma legião de fãs se degladiando pra saber quem quem é o maior. E a mídia adoooora esse embate. Dá IBOPE.
Neste momento pré-RG, a situação dos que seriam favoritos é bem estranha.
– Sinner: suspenso e não se sabe como vai voltar;
– Alcaraz – contundido e também não se sabe como retorna;
– Federer e Nadal – aposentados;
– Djokovic – em má fase;
– Zverev – vice-líder do ‘ranking’, mas quem põe a mão no fogo por ele?
– Daniil Medvedev (pequena torcida, mas grande currículo) – idem ao Djokovic, com o agravante que não gosta do saibro;
-Tsitsipas – tem 2 finais de RG, mas já não é mais o mesmo;
– Taylor Fritz – quarto do ‘ranking’, mas o negócio dele não é o saibro.
– Holger Rune – peca pela cabeça e pela irregularidade.
Ficamos com as promessas: João Fonseca, Jakub Mensik, Learner Tien & Cia Ltda.
… Ou, num palpite mais imediato, Casper Ruud desponta como favorito, mas, como eu disse acima, não monopoliza grande torcida.

eabdba
eabdba
3 horas atrás
Responder para  Maurício Luís Sabbag

Tenho que discordar quanto ao engajamento da assistência. Claro que o tamanho da torcida é um fator mas não é o único. Assisti a partida inteira e foi muito boa, com lances emocionantes e de alto nível. Draper e Ruud não estão entre meus jogadores favoritos mas posso dizer que desfrutei sim da final. Foi uma ótima partida e um ótimo entretenimento. Não tenho números de assistência para corroborar então não dá pra comparar com outras finais deste torneio, mas o estádio Manolo Santana estava cheio, isso deu pra ver. Quem aprecia um bom tênis não se decepcionou.

Marcos RJ
Marcos RJ
3 horas atrás

Ruud mereceu muito esse ATP1000 no saibro. Vale observar que venceu essa final não só pela capacidade de defesa, pois teve uma aplicação tática perfeita atacando constantemente com forehand cruzado com muito topspin contra o backhand do Draper (que é canhoto). O quique alto no revés do inglês tirou sua capacidade de ditar o ritmo atacar com o seu excelente forehand.
Torço para esses dois se encontrem novamente nas semis de Roma.

Sergio Barreto
Sergio Barreto
3 horas atrás

Sabalenka tem um tênis agressivo e está em boa fase.
Casper Ruud mostra o tênis que sempre apresentou em quadras de saibro.
Devido a incerteza de desempenho dos “favoritos”, não se pode arriscar qualquer palpite. Por outro lado, não se pode deixar de lado o ressurgir de alguma “zebra”.

Marcos RJ
Marcos RJ
3 horas atrás

… para ditar o ritmo “e” atacar com o seu excelente forehand.

Maurício Luís Sabbag
Maurício Luís Sabbag
2 horas atrás

Vez por outra aparece internauta alegando preferir o tênis masculino por causa da força e da velocidade. Questão de gosto.
Só que às vezes os mesmos vem criticar as meninas que gostam de meter a mão na bola – Sabalenka, Sakari, a aposentada Serena… dizendo que são marreteiras. Quanta incoerência.
Dito isto, quem gosta tanto de força, não seria o caso de acompanhar levantamento de peso, braço-de-ferro? E quem gosta de velocidade, 100m rasos do atletismo é um prato cheio.

Luciano
Luciano
1 hora atrás

Venceu a consistência! O principal atributo de Ruud. Sempre tá lá. Merecido.

Paulista de 63 anos, é jornalista especializado em esporte há mais de 45 anos, com coberturas em Jogos Olímpicos e Copa do Mundo. Acompanha o circuito do tênis desde 1980, tendo editado a revista Tênis News. É o criador, proprietário e diretor editorial de TenisBrasil. Contato: joni@tenisbrasil.com.br
Paulista de 63 anos, é jornalista especializado em esporte há mais de 45 anos, com coberturas em Jogos Olímpicos e Copa do Mundo. Acompanha o circuito do tênis desde 1980, tendo editado a revista Tênis News. É o criador, proprietário e diretor editorial de TenisBrasil. Contato: joni@tenisbrasil.com.br

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