“Onde você quer estar daqui a cinco anos?” É uma pergunta comum para muitos jovens que estão iniciando uma carreira. E que certamente Carlos Alcaraz e Jannik Sinner responderam e se preguntaram a respeito. A temporada de Grand Slam do tênis masculino terminou com dois títulos para cada um, o italiano triunfou na Austrália e no US Open, enquanto o espanhol conquistou Roland Garros e Wimbledon.
Fala-se nesses dois nomes há pelo menos cinco anos. Ainda em 2019, os dois começavam a se destacar em torneios de nível challenger. Alguns pontos feitos por Alcaraz e marcas relacionadas à sua precocidade viralizavam. Sinner dividia atenções sobre o futuro do tênis italiano com Lorenzo Musetti, mas escalava rapidamente o ranking, impulsionado por bons resultados no grande número de torneios em casa. Ambos também conviveram desde cedo com grandes nomes, assimilaram rotinas e mentalidades de grandes campeões, sempre pensando no futuro. E o futuro, enfim chegou.
Campeão do US Open no último domingo, Sinner soube lidar com todo o seu favoritismo, e que ficou ainda maior com as eliminações precoces do próprio Alcaraz e também de Novak Djokovic ainda nas duas primeiras rodadas. Sem correr grandes riscos em nenhum de seus sete jogos, mesmo com alguns sustos e períodos de oscilação, o italiano conquistou o segundo Grand Slam da carreira e ampliou a distância na lideram do ranking mundial.
Jogador de muita potência nos golpes, Sinner soube aproveitar as condições mais rápidas do torneio deste ano para impor um estilo de jogo agressivo, com maior iniciativa durante os pontos. Mas desde a chegada de Darren Cahill à equipe, o italiano tem incluído mais recursos em seu tênis. Chamou atenção a partida contra Daniil Medvedev, ex-líder do ranking e campeão em 2021, em que Sinner arriscou 33 subidas à rede e teve ótimo desempenho ao vencer 28 desses pontos. Em muitos casos, usou bem o slice como bola de aproximação. “Tentamos trabalhar muito nesse aspecto do jogo. Sei que posso melhorar muito, principalmente indo para a rede. Tentei sacar e volear algumas vezes, tentando variar alguma coisa”.
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Desde a vitória sobre Medvedev, em jogo maluco nas quartas, contra Sinner já sabia que seria o único top 10 e também o único vencedor de Grand entre os semifinalistas. E nas rodadas decisivas contra Jack Draper e Taylor Fritz, teve atuações seguras, mesmo com o susto de ter sofrido uma queda em quadra na semifinal e sentido um desconforto no punho. Nada que ameaçasse seu domínio para as fases finais
Vaias, pressão extra e defesa da reputação após caso de doping
O US Open foi também o primeiro torneio disputado por Sinner após o polêmico caso de doping revelado às vésperas do Grand Slam nova-iorquino, logo depois que o número 1 do mundo conquistou o Masters 1000 de Cincinnati. Ele testou positivo duas vezes para a substância proibida clostebol, agente anabólico proibido pela Agência Mundial Antidoping (Wada), em março de 2024, durante a disputa de Indian Wells, onde foi semifinalista. Porém, um tribunal independente decidiu que o italiano não teve culpa ou negligência no ocorrido. Por conta da baixíssima concentração da substância em seu organismo, o tenista pôde continuar jogando, mas perdeu o prêmio em dinheiro de US$ 325 mil e os 400 pontos no ranking de sua campanha no torneio.
Desde as primeiras entrevistas após a divulgação do caso, Sinner defendeu sua reputação ao dizer que “não fez nada de errado”, explicando que sempre seguiu as regras do controle de dopagem. Por outro lado, admitiu que temia o vazamento da notícia antes da divulgação da sentença, confirmou as saídas do preparador físico Umberto Ferrara e do fisioterapeuta Giacomo Naldi, alegando perda de confiança nos profissionais, e expressou sentimento de alívio por poder falar abertamente sobre o caso.
Por tudo isso, conviveu com críticas de colegas de circuito, sob argumento de receber tratamento diferenciado em comparação com outros casos de doping e ouviu vaias no estádio nas primeiras rodadas. Mas nas fases decisivas, o assunto já estava superado. Mesmo enfrentando um norte-americano na final, o que não acontecia na chave masculina desde 2006, atmosfera não foi hostil ao italiano, que destacou o tratamento justo recebido pelo público.
Preparação mais longa de Sabalenka deu resultado e Bia recupera confiança
Na chave feminina, a conquista de Aryna Sabalenka premiou aquela que foi a melhor jogadora do mês no circuito, com 12 vitórias consecutivas entre nos dois últimos torneios que disputou. Sabalenka ficou fora de Wimbledon por lesão no ombro e também não disputou os Jogos Olímpicos de Paris. Investiu, então, em antecipar a preparação para o US Open, jogando três eventos no piso duro, enquanto a maioria das adversárias diretas precisou se alternar entre saibro e grama em poucas semanas.
Mesmo depois de oscilações em Washington e Toronto, voltou a jogar seu melhor tênis no último torneio preparatório, em Cincinnati, aproveitando-se também de uma quadra rapidíssima e que tão bem faz a seu jogo pesado e agressivo. O tempo de adaptação e a confiança lá em cima pavimentaram o caminho para uma conquista inédita em Nova York e o terceiro Grand Slam da carreira. Promessa de uma disputa boa com Iga Swiatek pela liderança do ranking no fim do ano, ainda mais porque a polonesa defende títulos de Pequim e do WTA Finals, conquistados no ano passado.
Destaque também para Bia Haddad Maia, que fez história para o tênis brasileiro ao alcançar as quartas de final. O melhor resultado de uma brasileira na chave de simples no torneio desde a última semifinal de Maria Esther Bueno em 1968. Bia eliminou jogadoras importantes, como a top 15 russa Anna Kalinskaya e a dinamarquesa Caroline Wozniacki, ex-líder do ranking e duas vezes finalista do US Open.
Eliminada nas quartas pela tcheca Karolina Muchova, que chegou a duas semifinais seguidas em Nova York, disse que não conseguiu manter o nível de tênis das rodadas anteriores, mas ressaltou que o torneio foi de muito aprendizado, especialmente no lado mental. Avalia que “poderia ter controlado melhor as emoções. Por outro lado, reforçou o sentimento de orgulho pelo melhor resultado da carreira no torneio e o também o desejo de voltar aos grandes palcos.
De olho no futuro, espanhol derruba gigantes
No juvenil, o espanhol de 17 anos Rafael Jodar conquistou o título depois de derrubar os campeões dos outros três Grand Slam em dias seguidos! A impressionante sequência começou com vitória sobre o norte-americano Kaylan Bigun, vencendor de Roland Garros, nas quartas de final. Já na semi, passou pelo japonês Rei Sakamoto, campeão do Australian Open. Já na final superou o noruguês Nicolai Kjaer líder do ranking da categoria e vindo de título de Wimbledon.
“Estou muito orgulhoso de mim mesmo. Acho que todo o trabalho que tenho feito, não só nesta temporada, mas em toda a minha vida, foi mostrado aqui neste torneio”, comemrou Jodar, que salta do 16º para o 4º lugar no ranking mundial. Segundo informou a ITF em seu site, o espanhol deverá seguir nos Estados Unidos e se matricular na Universidade da Virgínia em janeiro. Ele repetiu duas conquistas recentes de seu país, com Daniel Rincon em 2021 e Martin Landaluce em 2022. Antes deles, Javier Sanchez ganhou em 1986.
Na chave feminina, Mika Stojsavljevic tornou-se a primeira britânica a vencer a competição desde Heather Watson em 2009. E aos 15 anos, é a campeã mais jovem desde a russa Anastasia Pavlyuchenkova em 2006. Ente os destaques de sua campanha, derrotou nas oitavas a australiana Emerson Jones, finalista de dois Grand Slam na temporada. E na semifinal, passou pela norte-americana de 16 anos Iva Jovic, uma tenista que já venceu jogo até na chave principal do US Open. Na final de sábado, passou pela japonesa Wakana Sonobe em sets diretos.
Entre os juvenis brasileiros, a potiguar de apenas 14 anos Victória Barros chegou às quartas de final de duplas, com a parceira sérvia Teodora Kostovic. Foi apenas o segundo Grand Slam de sua carreira juvenil e o primeiro em que ela conseguiu vitórias. Em simples, o goiano de 15 anos Guto Miguel avançou uma rodada com vitória expressiva sobre o cabeça 10 do torneio, o cazaque Amir Omarkhanov. E por falar em nova geração, destaque para a mineira de 17 anos Vitória Miranda, finalista de simples e duplas na categoria júnior do tênis em cadeira de rodas em Nova York. A tenista que treina com o técnico Leo Butija já havia sido finalista de duplas Roland Garros neste ano e é uma das promessas para o futuro, assim como Jade Lanai, campeã do torneio em 2022.
Voltando à pergunta inicial, onde esses campeões querem estar daqui a cinco anos? Não faz muito tempo que Alcaraz e Sinner eram duas promessas de quem se esperava um futuro vitorioso. Mas para chegarem onde estão, e com tão pouca idade, tiveram sim seus privilégios, mas precisaram passar por uma série de processos em que muitos outros estacionam pelas mais diversas razões. Se quisermos ver a nossa molecada chegando longe, temos que dar condições para que tenham um menor número de obstáculos nessa fase fase de transição que é tão importante. O futuro sempre chega.
Espero ver o Joao Fonseca e a Victória Barros já no top 15/25 ,na atp e no wta.
Vamos com calma
Mário, muito completa a sua matéria. Achei irretocável. Pra mim, você é o + técnico dos articulistas, detalhista e caprichoso. Parabéns pelo trabalho.
Obrigado, Maurício! Faço o possível para trazer o máximo de informação tanto nas matérias quanto no blog.
Parabéns Mário, como vc escreve bem, traz dados, coerência. Sempre te leio e aprendo muito contigo. Parabéns!!
Agradeço muito, Tiago. Trazer a informação mais completa possível e dividir isso com os leitores é meu principal objetivo. Fico feliz que tenha gostado.