Thomaz Koch completa 80 anos com a mesma paixão pelo tênis

Walmor Elias
Especial para TenisBrasil

Um dos mais importantes tenistas brasileiros de todos os tempos, o gaúcho Thomaz Koch completa neste dia 11 de maio seus 80 anos muito bem vividos. Permanece em plena atividade nas quadras, faz viagens constantes para visitar família e amigos e permanece eterno amante da música, dos filmes e dos livros e, é claro, do tênis. O genial canhoto, que atravessou tantas gerações, segue de olho no circuito.

O casal Irma e o dr. Walter Koch morava numa confortável casa, até hoje na posse da família na Rua Marques do Herval, no aristocrático bairro Moinhos de Vento, exatamente na frente da Leopoldina. Isso fez com que o pequeno Thomaz, ainda aos quatro anos, atravessasse a rua e fosse para as quadras de tênis. Ganhou a primeira raquete aos cinco anos, quando mal alcançava a altura da rede, Teve uma única aula e foi muito estranho, pois era o único canhoto no grupo.

As ligações dos Koch com o tênis remontavam ao século 19. Germano Koch foi um dos fundadores e presidente da antiga Sociedade Leopoldina e depois o avô de Koch, Augusto, foi jogador do Grêmio e autor da ideia de que o clube tinha que mudar as cores para azul, preto e branco. O pai Walter entrou para a história do clube, pois em 1938 teve a ideia de fundir a Sociedade Leopoldina com o Recreio Juvenil, daí nascendo a Associação Leopoldina Juvenil, em homenagem à imperatriz brasileira da nossa monarquia.

Dr. Walter articulou e conseguiram comprar em 1941 o terreno atual do clube e mudou a sede. Antes, em 1938, criou o Departamento de Tênis, cuja inauguração contou com as presenças do pai, Augusto e do príncipe Dom Pedro de Órleans e Bragança, bisneto da princesa Leopoldina. Também teve uma curta passagem na presidência da atual Federação Gaúcha, pois como todo o dirigente se incomodou muito e, decepcionado, renunciou.

Por fim, Luiz Fernando, irmão de Thomaz e que seguiria no ramo do Direito, foi o primeiro campeão sul-americano gaúcho infanto-juvenil em 1955, na Copa Patiño. Repetiu isso em 1960, quando também ganhou o Brasileiro nas categorias de base. Oito anos mais velho, teve muito contato com o maior parceiro de Thomaz, o José Édison Mandarino, que viria a ser o famoso parceiro de duplas e de Copa Davis. Mandarino nasceu em Jaguarão, teve família em Uruguaiana, morou em Buenos Aires e agora vive em Madri.

A promessa Koch (Fotos: Memorial Tênis Brasileiro)
O melhor juvenil do mundo

Um dia, um dos Koch teria que marcar a história. E Thomaz construiu uma das mais belas carreiras do tênis brasileiro e foi referência e ídolo de gerações, especialmente entre 1960 e final de 1990, quando surgiu o nosso fenômeno Guga Kuerten. Entre 1960 e a década de 1980, um torneio de tênis masculino no Brasil que não tivesse Thomaz
Koch estava fadado ao fracasso ou ao anonimato.

No final de sua carreira juvenil, ganhou o Orange Bowl, que era reconhecido com um Mundial na categoria, tendo então mais importância que os torneios juvenis de Grand Slam. E num feito notável, aos 18, chegou às quartas de final do Nacional dos EUA, hoje US Open, tendo dois match-points para eliminar o número 1 norte-americano e então campeão de Wimbledon, Chuck McKinley. Naquele ano, Thomaz foi considerado o melhor juvenil do mundo.

Pouco antes, Thomaz havia sido destaque nos Jogos Pan-Americanos de São Paulo, com a medalha de prata nas mistas ao lado de Maria Esther Bueno, e derrotado o então melhor tenista do mundo, o australiano Ry Emerson, no importante torneio de Caracas. Nas primeiras aventuras nos Grand Slam europeus, foi duas vezes vice-campeão juvenil de Roland Garros e fez quartas de duplas logo em seu primeiro Wimbledon, ao lado de Mandarino.

Troféu em Barcelona
Grandes títulos

Antes do surgimento do ranking profissional, em 1973. Koch foi listado entre os 15 melhores tenistas em atividade pelas importantes publicações norte-americanas “World Tennis” e “Tennis Magazine”, que faziam a indicação ao ouvir tenistas, imprensa, organizadores de torneios, técnicos e dirigentes. Ao final de 1967, apareceu no 11º lugar e depois em 12º.

Afinal, Thomaz de saque veloz e impecável jogo de rede somava títulos de peso no circuito, como a conquista de Barcelona em 1966 em cima de Fred Stolle e Nikki Pilic e a de Washington, em 1969, batendo Charles Pasarell e Arthur Ashe na final. De todos os grandes nomes de sua geração, Koch só não venceu Rod Laver – a quem levou a cinco sets no US Open de 1968 -, tendo marcado triunfos também sobre Jimmy Connors, Bjorn Borg, Manuel Santana, John Newcombe, Tony Roche e Ilie Nastase.

Fez ainda quartas de final de Roland Garros e de Wimbledon em simples, semifinal de Wimbledon em duplas e por fim conquistou seu troféu de Grand Slam nas duplas mistas de Roland Garros, em 1975, ao lado da uruguaia Fiorella Bonicelli.

A eterna parceria com Mandarino
Herói da Copa Davis

Se há uma competição em que Thomaz Koch teve uma presença e ligação marcante é na Copa Davis, onde permanece como o sexto tenista que mais atuou, o oitavo que mais ganhou. Sua primeira convocação e participação aconteceu ainda aos 16 anos, quando jogou no saibro de Monte Carlo.

Koch fez 118 jogos pela Davis, com 74 vitórias, sendo 46 de simples e 28 de duplas. Destas, em 10 anos com Mandarino, ganharam 23 e só perderam 9 vezes em duplas. Eles foram a terceira maior dupla da história da Copa Davis. Koch é o quinto tenista duplista do mundo na Davis (28 vitórias em 40 jogos) e o seu companheiro, Mandarino, é o sexto do ranking mundial na história, com 27 vitórias em 37 jogos.

Por duas vezes, Koch e Mandarino levaram o Brasil a semifinais mundiais, tendo ficado muito perto de decidir o título da Davis. Naquela época, o atual campeão disputava apenas a final e os demais países competiam para ver quem iria desafiá-lo. Thomaz brinca que muitas vezes tratavam os dois como uma única pessoa, Koch-Mandarino, tal a sinergia entre ambos.

Em 1966, jogando pelo Zonal Europeu, já que aproveitavam a passagem da Confederação para poder competir nos grandes torneios do Velho Continente, os dois tiveram cinco vitórias consecutivas em cima de Dinamarca, Espanha, Polônia e França, sempre como visitantes. Aí derrotaram os fortíssimos EUA em Porto Alegre, num momento histórico para o tênis brasileiro, e fizeram a final internacional contra a Índia, na grama de Calcutá, onde o Brasil esteve a um game da vitória no quinto e decisivo jogo. Já em agosto de 1971, no Esporte Clube Pinheiros, depois de superar a República Tcheca na final interzonal, chegaram a estar vencendo a Romênia, por 2 a 1, mas levaram uma virada no domingo contra Nastase e Ion Tiriac.

Novo estilo em quadra
O hippie das quadras

Koch marcou época no tênis. Com seu apego à ioga, filosofia oriental e tendo como grande amigo o dinamarquês Torben Ulrich, o gaúcho se tornou ícone das quadras no final da década de 1960, no auge do movimento hippie. Passou a usar cabelos compridos, o que era muito mal vistos pelos promotores de circuito, e com isso surgiu a testeira, que se tornou sua marca registrada e depois imitada por nada menos que Guillermo Vilas e Borg.

Jamais teve um treinador em toda sua carreira, o que era algo também inusitado. Em 1966, chegou a ser sondado por Harry Hopman, o espetacular técnico que já havia ajudado Maria Esther, mas ele queria levá-lo para a Austrália. O amor à Copa Davis falou mais alto.

Apesar do problema limitador da hérnia de disco, que enfim o levou à cirurgia em 1978, Koch participou da fundação da ATP, viu o surgimento do tênis profissional e seguiu a carreira até 1985, embora limitando-se a disputar torneios no Brasil.

Tentou carreira como treinador – chegou a ser sondado por John McEnroe no auge do americano, mas recusou a proposta -, escreveu colunas para revistas e jornais e foi comentarista de TV. Aos 80 anos, continua a jogar tênis com reservados amigos e tem ainda como grande parceiro o paredão.

“Fui muito feliz de ter participado dessa vida como tenista, aprendi muita coisa através do tênis”, afirmou em entrevista recente. “Me sinto muito privilegiado de ter jogado e conhecido o mundo, de que outra forma eu conseguiria isso? Até hoje curto o som a bolinha de tênis. Para quem gosta de música e escuta a bola de tênis, é uma coisa hipnótica. Sorte de quem pode sentir esse amor pelo tênis”.

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Samuel, o Samuca
Samuel, o Samuca
16 horas atrás

Alta sociedade!!!
Sem dúvida nenhuma.

JClaudio
JClaudio
12 horas atrás

Koch, como quase todos esportistas históricos brasileiros, é alguém pouco lembrado e valorizado.
Sua importância para o tênis brasileiro foi muito grande, principalmente jogando a Davis, representou como poucos uma época transformadora da sociedade (anos 60 e 70), Koch foi quase um “guru” do seu tempo.
Outro dia, no Brasil Open, foi “precariamente” entrevistado por uma repórter que cobria o evento, fiquei constrangido de presenciar o pouco (ou quase nada) do conhecimento da repórter com seu ilustre entrevistado.
Como sempre, Koch atendeu a jornalista (acho) com muita educação e humildade.
A vida já é longa, que seja mais.

Paulo A.
Paulo A.
11 horas atrás

Como escreve muito bem o Walmor Elias! É um verdadeiro deleite ler os seus textos, principalmente para quem aprecia História, mas não só.
E que trajetória magnofica é a do Thomaz Koch. Penso que ele deveria ser mais homenageado no país.

Vanda Ferraz Lopes de Oliveira
Vanda Ferraz Lopes de Oliveira
9 horas atrás

Que maravilha poder ler um texto tão bom sobre o Thomas……se fala pouco sobre os tenistas antigos, que abriram portas para que o tênis pudesse ser o que é hoje !!!!!
Tive sorte de ter sido contemporânea do Thomas, pude ver alguns de seus jogos em Campeonatos Brasileiros.
Sempre gentil !!!!!!
Saudades

Haroldo Guimarães
Haroldo Guimarães
7 horas atrás

Parabéns tenisbrasil e Walmor Elias pela excelente reportagem. Como é bom lembrar do excelente passado do tenis brasileiro, o 3o. Melhor tenista brasileiro( a) , perde pra MEB e Guga, nas não é demérito e sim orgulho.

Haroldo Guimarães
Haroldo Guimarães
6 horas atrás

Aah sim , Parabéns Kock e saúde

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