O primeiro Grand Slam do ano se superou de forma inesperada, surpreendente e, por que não dizer, com quebras de paradigmas na chave feminina.
Quem poderia imaginar que uma “veterana” de quase 30 anos fosse levantar o tão cobiçado troféu, deixando para trás as top 10, todas presentes na competição?
Algumas inclusive chegando com acúmulo de vitórias, como no caso da Coco Gauff que, depois de ganhar o WTA finals, saiu invicta da United Cup, evento realizado pouco antes, no finalzinho de 2024 e início de 2025.
Sem tirar o brilho da final masculina, onde venceu o favorito Jannik Sinner sem perder set de Alexander Zverev, a chave feminina foi uma caixa de surpresas logo nas primeiras rodadas, tornando a disputa pra lá de interessante.
A chinesa Zheng Qinwen, por exemplo, finalista de 2024, já ficou na segunda rodada derrotada pela alemã Laura Siegemund, de 36 anos, conhecida pelos brasileiros por ser a parceira de duplas da Bia Haddad e outras tantas derrotas prematuras das favoritas do torneio.
Voltando então para a mais nova campeã, Madison Keys derrubou quatro entre as 10 primeiras cabeças de chave, a começar pela compatriota Danielle Collins (10), a cazaque Elena Rybakina (6), para seguir surpreendendo ao bater Iga Swiatek, segunda do mundo e, finalmente, a líder atual, Aryna Sabalenka, rumo ao título.
Cabe portanto refletir sobre esse fato.
É notório o número cada vez mais crescente de jogadoras jovens rondando as melhores posições da classificação mundial, mas chama a atenção histórias de tenistas que tiveram grandes mudanças na vida e, em função disso, acabaram encontrando seu melhor nível de performance.
Na era moderna, as australianas Margaret Court e Evonne Goolagong e a belga Kim Clijsters abriram a lista de tenistas que venceram Grand Slam após a maternidade, com destaque para a belga, que colecionou três deles depois do nascimento da filha.
Além delas, a bielorussa Victoria Azarenka, a ucraniana Elina Svitolina e a japonesa Naomi Osaka são outros exemplos de que maternidade e tênis combinam.
Keys se inspirou nessas histórias de sucesso, sabendo do seu potencial. Com apenas uma final do US Open na bagagem, há sete anos, faltava para ela exatamente um grande título. Sua união com o técnico, agora marido, foi responsável por essas mudanças, não só técnicas — como na troca de raquete, de cordas e no movimento do saque —, mas também mentais, por meio de terapia, yoga e, principalmente, muita reflexão.
No fundo, conhecendo a história da modalidade e relembrando grandes vitórias, como a da britânica Virgínia Wade, no aniversário de 100 anos de Wimbledon, em 1977, pouco antes de completar 32 anos e após 16 tentativas nesse Slam, ou mesmo outros feitos surpreendentes, como o da italiana Flavia Pennetta, que levantou um troféu desse quilate após 49 tentativas; o da francesa Marión Bartoli, depois de 47 aparições, Madison, com suas 46 tentativas, apenas seguiu o fluxo de jogadoras que nunca deixaram de acreditar em si, mas que precisaram amadurecer não só como tenistas, mas sobretudo como pessoa para alcançarem o máximo dos seus potenciais.
Desculpa, mas acho teve um pequeno erro neste texto porque creio que o Sinner perdeu 2 sets.
A citação foi para a final masculina, que foi 3 a 0, Flávio.
Ok, meu grande mestre, agradeço pelo esclarecimento.
Adorei a abordagem desse texto! Realmente o equilíbrio entre a maturidade que os anos trazem para a atleta e a exigência fisica/mental num ambiente tão estressante são fatores de muita superação! Que sigam os jogos e quebras de recordes, estatísticas e certezas.
Keys mostrou que as jogadores mais experientes também têm lugar garantido no pódio. Ela foi eliminando paulatinamente grandes nomes da atualidade e entrou para a história como mais uma que acreditou em si mesma , bem perto de se tornar uma tenista “balsaquiana”.
O caso da Keys é mais uma prova de que a força mental e o controle emocional, a meu ver, são os principais requisitos para se alcançar o sucesso. O controle emocional permite que se tenha a tranquilidade necessária para performar no seu melhor nível e a força mental nos faz acreditar no sucesso e perseverar até obter êxito ou atingir a meta pré-estabeleciada, mesmo que todas as circunstâncias estejam desfavoráveis. Parabéns para a Keys, conquista merecida.
“prova de que a força mental e o controle emocional, a meu ver, são os principais requisitos para se alcançar o sucesso.”
Se fosse assim, teríamos , tanto no ranking feminino, como masculino, muitos jogadores indianos (uma força mental e controle emocional reconhecido mundialmente).
Não tem nenhum jogador indiano (ou jogadora) entre os 100 do mundo.
Tênis é jogado…
Estimado J.Claudio, você tem uma uma dose de razão. Mas, pelo que a Mestra Patrícia Medrado disse foi, mais ou menos o seguinte: a Keys (e creio, no mínimo umas 10 outras mulheres tenistas que estão no top 100) tem qualidades físicas e técnicas para ganharem um Grad Slam pela primeira vez, mas antes precisam trabalhar o mental! Fazerem o que a Keys fez!
Adoro rever o filme King Richard, em especial a parte em Vênus enfrentava a Arantxa Sanchez Vicário, vencia por 6×3, e 3×0, aos 14 anos, quando Arantxa, espertamente, a meu ver, ficou quase 10 minutos no vestiário….. e a Vênus perdeu os 9 games seguintes…
Olá Marco Aurélio.
A resposta foi em razão da colocação do amigo, onde ele considera que o mental e o controle emocional são as “principais” qualidade para se obter sucesso no tênis.
São importantes, fazem parte do “combo” de um jogador de ponta, mas não a “principal”.
É necessário “jogar” tênis, sem música (jogo) não tem dança (mental).
Longe de ser uma crítica, mas nos dias atuais, tudo é colocado na conta do “equilíbrio mental”, esquecemos do talento, que é o mais importante no esporte.
O exemplo de King Richards foi ótimo.
Espero que seja um exemplo para a nossa querida Bia que, ao que parece, vem acreditando menos em si e se pressionando em demasia, prejudicando suas atuações.
Brilhante texto da Patrícia.
Fez uma coletânea dos sucessos de grandes tenistas.
Tomara que a nossa Bia leia com atenção este texto, e reflita sobre sua carreira e o rumo que ela deve seguir daquí para a frente.
Cara, Patrícia, ao ler teu novo artigo e considerações sobre esses títulos conquistados mais tardiamente por algumas tenistas com grande talento, mesmo após a maternidade, inevitavelmente supus que, mesmo sem citá-la, deves ter escrito tendo à mente a nossa tenista número 1, que também se aproxima dos 30 anos.
Na abordagem anterior, ‘Os desafios do novo ano’, que teve as perspectivas de Bia para 2025 como tema, comentei que ainda era cedo para que as mexidas no time surtissem algum efeito e os resultados aparecessem já no começo da temporada. Ao agregar mais um técnico e mais um fisioterapeuta à equipe, ela demonstrou que não se acomodou e nem está satisfeita e que, apesar da carreira de sucesso, busca soluções para conseguir melhores performances e a disputa de grandes títulos.
Antes dela, Sabalenka, Pegula, Iga, Gauff e outras fizeram movimentos para ajustes que se faziam necessários, até mesmo com a troca de técnico, e a própria Keys, com o acréscimo da busca de autoconhecimento e equilíbrio anterior, são exemplos que podem contribuir para que Bia também encontre seu ponto de equilíbrio. Para mim, ela reúne atributos físicos e técnicos mais que suficientes para entrar na briga pela permanência no top 10. O grande obstáculo tem sido mental, ou seja, a falta de confiança em si mesma para fazer aquilo que sabe e faz nós treinos durante as partidas e dar o salto que tem se negado por conta de tanta pressão. Um abraço!
Concordo com tudo, Neri. Mas, ela não tem se negado a dar o salto definitivo para grandes títulos. Você já havia sacado: a Bia não se acomodou, procurou o que as tops também fizeram, um upgrade no staff, justamente para alavancar esse salto. E ela conseguirá, porque persevera firmemente. Veja que ela nunca desiste!! É dar tempo ao tempo. Acho que o equilíbrio emocional está bem perto agora. Abraço!
Quando digo que ela tem se negado a dar esse salto, Evandro, me refiro às lutas internas, a briga com seus fantasmas que a impedem, por exemplo, de sacar com a potência média que tem e não a menos de 100 km/h como acontece quando a perda de confiança foi para o espaço. Mas tal qual você, também acredito que ela sabe exatamente o que precisa fazer e conseguirá virar a chave. Um abraço!
Sempre gosto de ler seus textos Patrícia!!!!!
Me faz relembrar velhos tempos!!!!!
E são absolutamente corretos .TODOS
A meu ver você acerta novamente !!!!!
Parabéns!!!!