Mouratoglou: “Sinner é inocente, mas esse caso é um escândalo”

Foto: UTS

Guadalajara (México) – O treinador francês Patrick Mouratoglou é mais uma personalidade do tênis a comentar sobre o acordo entre Jannik Sinner e a Agência Mundial Antidoping (WADA), em que o número 1 do mundo aceitou um período de três meses de suspensão depois de testar positivo duas vezes para clostebol em março de 2024. O julgamento do caso estava previsto apenas para abril de 2025, mas com o acordo a apelação foi retirada, encerrando o processo no último sábado. Mouratoglou acredita que Sinner não teve a intenção de se dopar e que é uma “vítima do processo”, por conta de contaminação. No entanto, ele acredita que o tratamento dado ao caso pelas autoridades antidopagem foi “um escândalo” e que precisa ser revisto.

“Acredito que esse caso é um escândalo. É não por ele ser culpado ou não, mas sim como as autoridades do antidoping lidaram com a situação. Todo mundo sente que são dois pesos e duas medidas”, disse Mouratoglou, em longo vídeo divulgado em suas redes sociais. “É muito improvável que ele tenha se dopado. Aqui é uma opinião minha: Em primeiro lugar, eu não acho que ele tenha essa intenção. E segundo, porque foi encontrada uma porcentagem mínima de uma substância proibida, o que em 90% desses casos, é uma contaminação. Então, o jogador é uma vítima. Por isso acredito que ele é inocente”.

O treinador afirma que o tratamento dado a Sinner não foi o mesmo oferecido para outros casos parecidos, ao citar que o resultado do exame positivo do italiano só foi tornado público cinco meses depois. “Quando um jogador testa positivo, as autoridades do antidoping logo divulgam um comunicado público. E assim que esse comunicado é divulgado, o jogador está oficialmente suspenso e não pode mais jogar até o caso ser concluído, com a decisão se ele é culpado ou não. No caso do Sinner, a ITIA decidiu esconder isso. Ele testou positivo, mas não foi suspenso provisoriamente. Nós queremos um esporte limpo e não existe esporte limpo com dois pesos e duas medidas, dependendo de quem é o jogador”.

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“Cinco meses depois, eles anunciam que ele testou positivo, mas dizem que não é culpado. Em outros casos, os jogadores são supostamente culpados, porque está publicado que eles testaram positivo. Então, por cinco ou seis meses, ou às vezes por mais de um ano, esse jogador é considerado dopado e não pode competir, não ganha pontos e nem premiação. Em alguns casos, a carreira deles acaba. Eles destroem a carreira do tenista”, acrescentou.

Mouratoglou lembra ainda que havia a previsão de um julgamento para o mês de abril, quando o caso seria reavaliado, mas o acordo entre o tenista e a WADA encerrou essa possibilidade. “Durante o Australian Open, ficamos sabendo que o Sinner seria julgado pela WADA em abril. Então, haveria uma reanálise do caso para saber se ele era culpado ou não. Mas um mês depois, é anunciado que eles decidiram chegar a um acordo de suspendê-lo por três meses. Então, não teve julgamento ou revisão do caso. E a decisão foi boa para ele, que pôde jogar o Australian Open e vencer e também está livre para jogar o próximo Grand Slam, que é Roland Garros. Então fica parecendo um arranjo para bani-lo “só um pouquinho, mas não muito”. Ele vai até poder jogar o Masters 1000 de Roma, sendo italiano”.

Precedente positivo para novos casos

Em contrapartida, o técnico acredita que a situação pode abrir um precedente positivo junto às autoridades antidopagem, que seria o de não afastar os jogadores até a conclusão das investigações, especialmente em casos suspeitos de contaminação não-intencional. “Mas por outro lado, acho que lidaram com esse caso de um jeito certo e que deveria ser para todos: Não tornar público para todo mundo antes de ser provado que ele foi vítima de uma contaminação. Isso arruína a imagem e a carreira do jogador. Então, o ideal é esperar uma decisão: Se foi comprovado o doping, deve ser suspenso. Mas se for contaminação, não. Há muitas formas de se contaminar sem conhecimento e isso é uma coisa difícil de provar. Muitos jogadores não têm dinheiro para isso. Se você é 300 do mundo, não faz ideia do quanto é caro fazer a investigação para provar. O sistema do antidoping é injusto”.

Mouratoglou comparou a situação de Sinner com a da romena Simona Halep, que era treinada por ele foi suspensa por quatro anos após duas violações ao programa antidoping, mas depois conseguiu reduzir a pena para nove meses. “Estive próximo de um caso positivo de doping com a Simona Halep. Eu era o técnico dela quando foi suspensa. E foi exatamente igual ao do Sinner, contaminação por uma quantidade extremamente baixa. E os dois casos foram tratados pela ITIA de forma totalmente oposta. A ITIA deu a ela 4 anos de suspensão. E depois, ela recorreu a juízes independentes, que disseram que ela não tinha culpa. E o caso dela não é único, são vários os jogadores que perdem dois, três ou quatro anos e depois provam que não tinham culpa. Mas enquanto isso a reputação deles é destruída. Isso precisa mudar. As únicas pessoas que podem fazer isso são a ATP, a WTA e ITF. Eles precisam proteger os jogadores”.

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CAIO SEBASTIÃO PEREIRA
CAIO SEBASTIÃO PEREIRA
5 horas atrás

Disse tudo, mas ele nao sabe de nada. Quem sabe mesmo são os comentaristas de dopping aqui nos comentários.

Tarcísio
Tarcísio
4 horas atrás
Responder para  CAIO SEBASTIÃO PEREIRA

Mano, os caras fizeram uma lambança neste caso, é fato. Entretanto, gostei da forma com que ele acabou sendo lidado porque preservou o jogador, e no final, apesar da punição, Sinner não agiu de má-fé. Espero que estabeleçam esse “novo protocolo”, porque aplicar a mesma regra para todos, mesmo com os casos sendo bem diferentes, simplesmente não dá. Não dá!!!!!!!!!!!!

Última edição 4 horas atrás by Tarcísio
Evandro Gomes
Evandro Gomes
3 horas atrás
Responder para  Tarcísio

Realmente, pro Sinner e pra Swiatek foi excelente. Agora os outros que tiveram tratamento diferente, alguns com a carreira destruída, esperando por vários meses e até mais de ano um julgamento definido, que se fere. Vamos ver se isso vai ser adotado em outros casos, mas acredito que foi só com os queridinhos do momento e que geram milhões em receita para ATP e WTA.

Tarcísio
Tarcísio
1 hora atrás
Responder para  Evandro Gomes

Sim, eu duvido que exista isso de imparcialidade. É fogo! Mas sempre há forças que influenciam aqui ou ali. Se a WADA quiser manter um mínimo de reputação, é melhor ela tentar ao máximo se esquivar desses vieses.

Última edição 1 hora atrás by Tarcísio
João Carlos
João Carlos
4 horas atrás

Finalmente um comentário de quem vive o dia a dia do tênis, e que nåo é “tarado” por punições, mas que deseja um julgamento equilibrado, com chances de defesa para o atleta, antes dele ser arruinado publicamente com divulgações apressadas.

Refaelov
Refaelov
4 horas atrás

Perfeito o comentário do Mouratoglou, resumiu oq penso desse caso.

E quanto ao “Em contrapartida, o técnico acredita que a situação pode abrir um precedente positivo junto às autoridades antidopagem, que seria o de não afastar os jogadores até a conclusão das investigações, especialmente em casos suspeitos de contaminação não-intencional” .. infelizmente n é o que estamos vendo, inclusive tem um BR suspenso no momento (Nicolas Zanellato) desde Setembro/24 aguardando julgamento e alegando contaminação através de ingesta de carne.. Ao q tudo indica, o modus operandi vai continuar o mesmo de antes pro baixo clero e só as estrelas(Sinner, Iga..) terão esse “tratamento humanizado”..

Evandro Gomes
Evandro Gomes
3 horas atrás
Responder para  Refaelov

Exatamente, esse caso do Zanellato ainda aguardando um julgamento definitivo a vários, meses e sendo que já tiveram vários outros casos comprovados no mesmo pais Colômbia de carne contaminada. E o Djokovic, citou um caso da Tara Moore na ultima entrevista, que também foi o mesmo caso do Zanellato, contaminação por carne na colômbia e aguardou quase 2 anos por um julgamento definitivo.

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