Novak Djokovic está de novo a um passo de fazer história em Nova York. E outra vez o único que pode barrá-lo é Daniil Medvedev, que impediu o sérvio de ‘fechar’ o Grand Slam dois anos atrás para conquistar seu maior troféu. No domingo, Nole vai em busca do 24º título de Slam para coroar seu retorno ao número 1. E o Urso definiu com propriedade: “Terei de jogar mais do que eu posso, como fiz em 2021”.
O fato é que o russo teve uma noite de gala contra Carlos Alcaraz, para quem havia perdido duas vezes sem grande resistência neste ano. Estava agora muito esperto para as curtinhas e as trocas de forehand, conseguindo alta produtividade no saque – abusou do aberto no ‘iguais’ – e caprichou no backhand, por onde arrancou paralelas desestabilizadoras.
Alcaraz não jogou tudo que pode, como aliás aconteceu nos outros cinco jogos também, mas o fato é que precisou lutar muito para achar brechas na fortaleza adversária. Só viveu um momento de paz, ao levar um terceiro set em que enfim foi consistente, mas nada parecia abalar Medvedev. Enfim, o espanhol optou por ir mais à rede, incluindo saque-voleio, e foi então que sofreu a quebra definitiva. Claro que o game final foi duro de fechar, porém o russo mostrou notável preparo e frieza.
Ele e Djokovic irão se cruzar pela 15ª vez, com nove vitórias do cabeça 2. Nos 12 duelos sobre o piso duro, Nole lidera por 8 a 4. Chegou a ganhar quatro partidas consecutivas depois da enorme frustração do US Open de dois anos atrás, mas Medvedev venceu o confronto deste ano, na semi de Dubai.
Num jogo em que poderia ter vencido ainda com maior rapidez, Djokovic mostrou sua conhecida competência contra grandes sacadores e canhotos. Com excelente produtividade nas devoluções, o que fazia Ben Shelton ser obrigado a tentar decidir lá de trás, explorou com precisão cirúrgica o backhand ainda pouco efetivo do jovem norte-americano. O único senão foi desperdiçar o saque com 4/3 e depois 6/5 no terceiro set, mas o tiebreak apenas ratificou sua ampla soberania. Fechou a partida com 84% de pontos ganhos quando acertou o primeiro saque e ganhou 23 das 26 subidas à rede.
Obviamente, muitos números a se destacar para o incansável caçador de recordes. Ele iguala marca do amador Bill Tilden com 10 finais em Nova York e disputou seu 100º jogo em Flushing Meadows com 87% de sucesso. A marca talvez mais notável seja a 36ª final em 72 Slam disputados, um aproveitamento que beira o irreal, a primeira delas na edição de 2007.
Djokovic também atinge quatro decisões de Slam numa mesma temporada pela terceira vez, repetindo 2015 e 2021, algo que somente Roger Federer obteve na Era Aberta, e pode se tornar o mais velho campeão profissional do US Open, superando os 35 anos de Ken Rosewall em 1970.
O gesto final de simular o atendimento de um telefone, que Shelton utilizou em suas vitórias anteriores, causou certa polêmica. O americano disfarçou e disse que foi lisonjeiro. Nole deu risada e disse que gostou tanto da ideia que decidir imitar. No fundo, me parece que ele não quis dizer o quanto ficou irritado com os berros de Shelton durante o duelo, especialmente no final eletrizante do terceiro set.
Fonseca decide título e número 1
O tênis brasileiro está diante de mais um dia histórico. O carioca João Fonseca, de apenas 17 anos e 18 dias, poderá conquistar neste sábado não apenas o US Open mas também a liderança do ranking mundial. O adversário também luta pelas mesmas façanhas, o local Learner Tier, que jogou a chave principal e tirou oito bons games de Frances Tiafoe.
Curiosamente, os outros dois juvenis nacionais a ganhar Slam de simples também o fizeram na quadra dura: Tiago Fernandes no Australian Open de 2010 e Thiago Wild no US Open de 2018. Fernandes chegou ao número 1 naquele ano e o gaúcho Orlando Luz pontuou em 2015.
Fonseca obteve uma vitória maluca diante do talentoso italiano Federico Cina, de 16 anos. A partida em si teve 2h10, mas superou interrupção por calor excessivo no segundo set e depois a chegada de raios e tempestade, o que paralisou o duelo por quase quatro horas.
Então foi um desafio físico e mental. Cina exigiu o tempo todo. Saiu com 2/0 antes de ótima reação do carioca. Com 3/1, veio a primeira parada e o italiano não perdeu o embalo no retorno. O terceiro set viu Fonseca com tranquilidade no serviço e Cina escapando de break-points, até que a quebra definitiva veio no game final. O que chamou mesmo a atenção foi a postura sempre ofensiva e positiva do brasileiro.
Luísa fica de novo na semi
Depois de frustrar Bia Haddad, as campeãs de 2020 Siegemund/Zvonareva impediram Luísa Stefani de fazer sua primeira final de duplas femininas em Slam. A campeã de mistas na Austrália e a parceira Jennifer Brady tiveram um início horroroso, depois reagiram mas deixaram a chance do empate escapar. E então foram dominadas completamente.
Stefani também fez semi no US Open de 2021 e, como não tinha pontos a defender por conta dos 12 meses afastada, irá recuperar seu justo lugar no top 10 nesta segunda-feira. Ao que tudo indica, a dupla com Brady vai se desfazer.
E mais
- Talvez a grande surpresa da temporada, Shelton será o 19º do mundo nesta segunda-feira. Mas o jejum americano de troféus masculinos de Slam segue para o 21º ano.
- Ram e Salisbury chegaram ao terceiro título consecutivo em Flushing Meadows, façanha inédita, com virada em cima de Bopanna e Ebden.
- Ex-parceira de Stefani, Dabrowski vai em busca do título ao lado de Routliffe. Com a queda de Hsieh, Gauff e Pegula serão as novas líderes do ranking.
- E Gauff tenta seu primeiro Slam às 17 horas deste sábado contra Sabalenka, com vantagem de 3 a 2 nos duelos diretos e apoio da torcida.
- Com o top 100 confirmado, Wild faz segunda semi seguida no saibro italiano contra o 163º do ranking. Monteiro, atual campeão, enfrenta Fognini em Gênova. Que tal uma final brasileira?