Por Suely Kawana
Da redação
Considerada uma das mais importantes tenistas da história, a francesa Suzanne Lenglen participou apenas de uma edição dos Jogos Olímpicos, mas foi o bastante para subir três vezes ao pódio e marcar uma façanha.
Logo após se tornar a primeira jogadora a ganhar três títulos de Wimbledon no mesmo ano, a espetacular francesa disputou as Olimpíadas de 1920, em Antuérpia, na Bélgica. Aos 21 anos, a filha do dono de uma empresa de ônibus de Paris conquistou as medalhas de ouro em simples e dupla mista, ao lado de Max Decugis, e o bronze na dupla feminina, com Elisabeth d’Ayen.
Seu nome é sinônimo de popularidade – foi por sua causa que Wimbledon superlotou e precisou mudar de sede – e de qualidade. Terminou a curta carreira com 21 títulos de Grand Slam, sendo oito de simples, oito de duplas e cinco de mistas.
A jovem burguesa ganhou a primeira raquete de seu pai aos 10 anos e começou a treinar tênis, simultaneamente às aulas de balé clássico. Seu talento era tão evidente que o neozelandês Anthony Wilding, então campeão do mundo, a convidou em 1914 a fazer dupla com ele nos torneios de Nice e Cannes.
No Campeonato Francês, o sucesso de Lenglen também foi grande. Antes de 1925, o torneio estava restrito aos competidores franceses. Entre 1914 e 1924, Lenglen ganhou quatro títulos de simples, quatro de duplas e cinco de duplas mistas em Paris. Após a inclusão de jogadoras do resto do mundo, Lenglen conquistou tudo que pôde no que hoje é chamado de Roland Garros: simples, duplas e mista, tanto em 1925 como 1926.
Em sua estreia em Wimbledon, aos 20 anos, Lenglen enfrentou na decisão de 1919 Dorothea Douglass Chambers, de 40, heptacampeã. Na presença do Rei George V e da Rainha Mary, Lenglen derrotou Chambers por 10/8, 4/6 e 9/7, tornando-se a primeira não britânica a ganhar a competição. Em 1920, ano olímpico, Lenglen derrotou Chambers de forma arrasadora por 6/2 e 6/0.
Em uma entrevista ao redator esportivo Bob Considine à revista Sports Illustrated, a americana Elizabeth Ryan, parceira de duplas de Lenglen em Wimbledon, analisou: “Ela possuía todo tipo de golpe, além de ser um gênio por saber como e quando usá-los. Ela nunca dava a uma adversária o mesmo tipo de golpe duas vezes seguidas. Fazia você correr quilômetros… O jogo dela era todo posicionamento, disfarce e firmeza. Eu tinha o melhor drop shot que alguém já teve, mas ela não apenas conseguia alcançá-lo como muitas vezes conseguia o ponto.”
Lenglen foi número 1 do mundo por seis anos, de 1921 a 1926, profissionalizando-se em 1926. No ano em que as Olimpíadas foram em Paris, em 1924, optou por não disputar, abrindo o caminho para a americana Helen Wills, de 18 anos, se tornar a nova rainha do tênis.
A Divina, como ficou conhecida, também se destacou por influir na mudança das roupas com que as mulheres jogavam tênis. Ela se recusou a usar saia comprida, como mandava a tradição, optando por uma saia mais curta e pregueada criada por Jean Patou, estilista então muito famoso.
Sobre a personalidade controversa de Lenglen, a mesma Ryan define: “Claro que ela era uma esnobe, no sentido teatral. Ela foi mimada, tremendamente adulada desde criança… Mas ela era a melhor jogadora de todas. Nunca duvide disso.”
Nascida em 24 de maio de 1899, Suzanne faleceu tragicamente em 4 de julho de 1938, aos 39 anos, de uma forte anemia. Seu último campeonato na França havia sido em 1926 e portanto ela nunca jogou nas quadras de Roland Garros, que nasceria dois anos depois. Mas foi homenageada com seu nome no segundo maior estádio do complexo.