Inigualável Nadal

Foto: FFT

O físico finalmente derrotou Rafael Nadal. O espanhol, que sofreu talvez o mais complexo e variado leque de lesões e contusões ao longo de sua espetacular carreira, que afetou nada menos que 15 diferentes regiões do seu corpo, desta vez não superou o problema grave no quadril e, sem qualquer surpresa para o circuito, anunciou nesta quinta-feira que dará seu adeus definitivo daqui a 40 dias.

Esperava-se o abandono de Rafa em Roland Garros, depois nos Jogos Olímpicos mas ele por fim optou, de forma muito compreensível, por se despedir diante de sua torcida. Infelizmente, no entanto, será longe do saibro. Málaga receberá as quartas de final da Copa Davis sobre piso sintético coberto e deve preparar uma estrondosa e justa festa para seu rei.

Todo mundo sabe da eterna luta que Rafa travou contra limitações físicas desde que explodiu no circuito em 2004, quando ninguém ainda sabia de seu problema congênito no pé, e isso torna ainda mais incrível a coleção de façanhas que conquistou no tênis, com seus 22 troféus de Grand Slam, os 14 de Roland Garros, o ouro olímpico de simples e duplas, as retomadas do número 1. Mais do que números, Nadal foi sinônimo de garra, de determinação, de resiliência, de poder mental descomunal e de aplicação técnica e tática como nenhum outro dos grandes precisou encarar.

Se para Roger Federer e Novak Djokovic, seus grandes rivais de duas décadas de duelos fenomenais e inesquecíveis, era muito natural a transição para os diferentes tipos de piso e de bola, para Rafa isso exigia duras adaptações, fosse no estilo de jogo ou no deslocamento. Costumo dizer que a maior façanha do magistral espanhol não foi ganhar tanto no saibro, seu habitat natural e onde a combinação de pernas fortes e spin de canhoto surtiam efeitos devastadores, mas sim ganhar na grama ou no sintético veloz, onde precisou fazer incríveis mudanças táticas.

Isso por si só bastaria para colocá-lo na discussão sobre o ‘maior de todos’, mas também pode-se juntar na balança o fato de que Nadal criou uma forma única de se jogar tênis, que jamais foi e provavelmente nunca será copiada. Aliás, tal qual seu antecessor no domínio do saibro, Bjorn Borg. Rafa potencializou o fato de ser canhoto com um giro de bola inigualável, que muitos erroneamente chamavam de postura ‘defensiva’. Qual nada. Seu topspin minava o adversário de maneira quase cruel.

Nadal jamais se acomodou. Reconhecia as limitações do saque, do jogo de rede e do backhand e trabalhou incansavelmente para reduzir o déficit de cada golpe, a ponto de terminar a carreira com um revés sólido e devastador, voleios impecáveis, talvez o melhor smash desde Pete Sampras e serviço muito eficiente. Entre seus incontáveis atributos, o maior deles não era a velocidade com que cobria a quadra e chegava em bolas impossíveis, mas a capacidade incomparável de escolher a bola certa, para mim o atributo mais admirável de toda sua gama de adjetivos.

Claro que sempre pesou para ele o fato de depender tanto das pernas e isso se refletiu em inúmeras lesões, seja no joelho, no pé ou no abdôme. Ninguém que viveu a Era Nadal se esquecerá de seus retornos mágicos ao circuito, calando aqueles que se precipitavam a determinar uma aposentadoria precoce. Foi assim em 2010 e 2013, se repetiu em 2017 e espantou o mundo em 2022, quando ganhou seu último troféu de Roland Garros à base de anestesia no pé necrosado. Por fim, veio o temoroso quadril e, já na casa dos 38 anos, a recuperação se mostrou impossível, ainda que ele tentasse de tudo para readquirir a forma e a confiança.

Não ficou à margem de declarações e atitudes polêmicas, seja em derrotas dolorosas, discussões com árbitros, frases mal colocadas ou no segredo que fazia dos bastidores, mas ninguém pode negar que sua postura se mostrou quase sempre exemplar dentro e fora das quadras, daí a gigantesca perda que o tênis e o esporte sofrerão com sua saída dos holofotes.

O ‘rei do saibro’ se vai, mas seu legado será eterno.

Bia volta ao top 10

Apesar da derrota e da atuação muito irregular nas quartas de final de Wuhan, diante da sólida polonesa Magdalena Frech, Beatriz Haddad Maia marcará mais um feito na história do tênis brasileiro e voltará a figurar no top 10 de simples na lista da próxima segunda-feira, repetindo sua façanha de junho do ano passado.

Ainda que seus erros não forçados tenham sido um tanto exagerados, numa partida em que Frech obrigou a brasileira a tomar atitude o tempo todo, Bia mostra recuperação técnica nesta reta final de temporada e ainda terá chance de brigar pela permanência entre as 10 primeiras, caso consiga ir longe nos dois WTA 500 que restam no calendário.

De qualquer forma, mesmo perdendo esses 700 pontos, ela terminará a temporada no top 20, o que é um tremendo alívio diante de sua temporada irregular que vinha fazendo.

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Paulo Sérgio
Paulo Sérgio
3 horas atrás

Em minha opinião, protagonizou na semifinal de Wimbledon 2018 a maior partida da história do tênis junto com seu maior rival, ND. Foram 195 pontos do sérvio contra 191 do espanhol e 73 winners para ambos. Uma lenda que se despede das quadras.

Joselito
Joselito
2 horas atrás
Responder para  Paulo Sérgio

Uma partida com 5 sets e indo a 10 no 5o set e número de ENFs muito baixo. Geraram muitas partidas memoráveis.

Paulo H
Paulo H
1 hora atrás
Responder para  Paulo Sérgio

Lembrando que se nessa SF de 2018 o placar foi de 10/8 para o Djoko (não havia tiebreak no 5 set), na outra SF entre Kevin Anderson e John Isner, o 5 set acabou em inacreditáveis 26/24 para Anderson.

Jonas
Jonas
56 minutos atrás
Responder para  Paulo Sérgio

Foram várias batalhas contra o sérvio: Monte Carlo 09, Miami 2011, Australian Open 12, Roland Garros 12 e 13… muito equilíbrio, pra mim a maior rivalidade da história.

Hoje é o dia em que uma lenda precisou se retirar do esporte, deixo aqui atuações SOBERBAS do espanhol Rafael Nadal, um monstro do tênis… para quem quiser: Roland Garros 2008 contra Federer, Roland Garros e Wimbledon 2010 contra Soderling/Berdych, Miami 2011 contra Federer, MC 12 contra Djoko, Roma 2013 contra Federer e Roland Garros 2020 contra Nole.

Nunca torci pelo Nadal, mas com certeza o circuito perde muito sem ele.

João Sawao ando
João Sawao ando
3 horas atrás

Hoje acordei cedo 530hs.fiz meu café da manhã preparei da minha mulher e da minha filha . E fui abrir o Facebook. O que vi primeiro foi um post do Sylvio Bastos falando que Nadal ia se aposentar após os jogos da taça Davis jogando pela Espanha. ….levei um susto e isso já sendo umas 630hs da manhã. Fui conferir no site da tênisbrasil. Lá se confirmou o que eu particularmente não queria ouvir…ou mais precisamente ler.mas vamos lá…e a parada de um mito…um tenista com feitos incríveis como ganhar 14 x Roland garros…feito que provavelmente nunca vai ser batido. Vários outros títulos. Elancados pelo dalcim.jogador do tênis força com um topspin, fazendo com que os tenistas tivessem que pegar a bola na subida se não só conseguiria devolver na altura do alambrado…..um tênis que eu particularmente nao gostava…em uma época pairou uma dúvida sobre uso de substâncias ilícitas…ate levantadas por uma ministra da França…que foi processada pelo Nadal e nunca nada foi provado mas que sempre ficou uma nuvem negra na cabeça do Rafael Nadal. Em todos exames antidoping ele passou …assim como lance Armstrong…so depois que lance Armstrong confessou fazer uso de drogas ilícitas e daí tomarem todos os títulos da volta da França dele…bom …vamos falar do legado que Nadal deixa e que continuará com sua academia onde até Roger goat Federer disse que colocaria seus filhos para treinar na academia da Espanha. Rafa Nadal que siga em paz com sua aposentadoria com muita saúde e alegria no coração. Mais um mito que se despede. Vamos ver até onde nole aguenta.

Marcos
Marcos
2 horas atrás
Responder para  João Sawao ando

No Olimpo dos Deuses do tênis, estão Federer, o maior de todos, e Nadal, o Gigante, ambos amigos sinceros um do outro, uma amizade perfeita. Como dizia Mário Quintana: “A amizade é um amor que nunca morre”.

Luiz Fabriciano
Luiz Fabriciano
1 hora atrás
Responder para  Marcos

Em sua singela opinião, diga-se.

Luiz Fernando
Luiz Fernando
2 horas atrás

Claro que nesse dia toda atenção se volta pra Rafa, um ícone do esporte mundial, um dos maiores atletas da história, um gigante no seu esporte.
Sempre me considerei um privilegiado por torcer pra esse cara, e torço muito pra q consiga jogar em ótimo nível na Davis e se despeça com sua marca registrada: a vitória. Aliás, Rafa e a vitória sempre foram irmãos siameses.
Entrará, ou melhor, já está naquele panteão de grandes campeões do esporte ao lado de Schumi, Pelé, Jesse Owens, Ali e muitos outros. Quando entrar lá em definitivo será aplaudido de pé pelos demais membros desse seleto grupo.
Junto com seu grande rival Roger Federer, transformou um termo simplório, “FEDAL”, em sinônimo de magia e conquistas.
Ao ver seu vídeo de despedida no Insta, logo cedo, notei a emoção e as lágrimas; se alguém me visse notaria o mesmo…

Marcelo Costa
Marcelo Costa
2 horas atrás

Ashes tô ashes, dust to dust ( David Bowie) um gênio das letras define o gênio do pó batido.

Glaucio Coelho
Glaucio Coelho
2 horas atrás

A TenniTv Dez selecionou os 10 maiores e fantásticos lances/jogadas do grande Rafael Nadal… Dentre os dez, deve ter uns cinco contra Djokovic – e aí está a prova que é a maior rivalidade/duelo do Tênis… Porém, um fato curioso é que não tem, nesta seleção, nenhuma jogada genial de Rafa (contra Novak) no piso duro ou grama.

Marcelo Reis
Marcelo Reis
1 hora atrás
Responder para  Glaucio Coelho

Imagine que peçam a você que selecione 10 lances deste gênio. Um cara com +20 anos de uma carreira mega vitoriosa, como faz? Dezenas de outros lances brilhantes ficarão de fora, infelizmente. Legal seria um top 100. :D

Pedro
Pedro
1 hora atrás
Responder para  Glaucio Coelho

São seis partidas contra o djoko. Interessante que nenhum dos pontos foi contra o federer.
Acho que o suíço nunca levou o espanhol ao limite, o que o sérvio fez em 60 vezes.
Independente de tudo isso, são três lendas absurdas. Alcatraz e Sinner vão ter que sangrar muito pra chegar e manter o nível dos gênios

Ricardo Ortegal
Ricardo Ortegal
1 hora atrás

Tive o privilégio de acompanhar a carreira do Nadal desde o início, quando aquele “menino bombadão”, vestindo bermudas, ganhou seu primeiro Roland Garros. E dentre todas as qualidades, a que mais o diferencia dos demais é sua força mental, na minha opinião. Sempre que um adversário ia sacar para fechar um set ou a partida, era um terror. Se esse adversário demonstrasse qualquer sinal de dúvida, Nadal ia pra cima e virava o jogo.

Marcelo Reis
Marcelo Reis
1 hora atrás

O Nadal nem se aposentou ainda, mas as homenagens já começaram e elas falam por si só.

Paulo H
Paulo H
1 hora atrás

Você pode implicar com a postura meio “marrenta”, os inúmeros tiques ou rituais (que a televisão passou a evitar mostrar, depois de algum tempo, fechando close-up no seu rosto), os brutais top-spins na esquerda de Federer, mas é inegável que o seu nível de dedicação e concentração nesse esporte solitário chamado tênis estão entre os mais intensos encontrados em qualquer tipo de modalidade esportiva.
Quem o via correr como um alucinado de um lado para o outro da quadra, imaginava até que se aposentaria mais cedo do que Roger, um tenista econômico no suor e desgaste físico. Mas até nisso se mostrou singular, retornando diversas vezes de aposentadorias cantadas por torcedores e jornalistas especializados. Agora vai aproveitar mais a vida em família, de suas academias ao redor do mundo e talvez se aventure em outros esportes, quem sabe?
Obrigado Rafa, por tudo que deixou em quadra, para os seus fâs e também para os de outros tenistas, como eu.

Rafael
Rafael
33 minutos atrás

O fim do rei do saibro chegou. O espanhol nos deixará muita coisa boa e fará muita falta. Ele junto ao Federer e Djoko fizeram história no tênis. Que o Nadal seja feliz nessa nova etapa e viva o tênis!!

Paulo Almeida
Paulo Almeida
28 minutos atrás

Sinceramente, é um dia muito triste, pois a maior era do tênis fica agora com apenas um representante, que também não ficará muito mais tempo por aí. Como Nadal disse várias vezes, nada é para sempre.

O espanhol atrasou a vida de Djoko na busca pelo Career Slam várias vezes e, quando finalmente conseguiu derrotá-lo na Chatrier, veio um Wawrinka para adiar o sonho por mais um ano. Passei raiva em todas essas derrotas, claro, mas no final o sérvio levantou 3 Taças dos Mosqueteiros na era do rei do saibro. Está de ótimo tamanho.

Meu top 5 da maior rivalidade da história: Madri 2009, Australian Open 2012, Roland Garros 2013, Wimbledon 2018 e Roland Garros 2021 (essa a maior partida disputada em uma quadra de saibro, inesquecível).

Paulista de 63 anos, é jornalista especializado em esporte há mais de 45 anos, com coberturas em Jogos Olímpicos e Copa do Mundo. Acompanha o circuito do tênis desde 1980, tendo editado a revista Tênis News. É o criador, proprietário e diretor editorial de TenisBrasil. Contato: joni@tenisbrasil.com.br
Paulista de 63 anos, é jornalista especializado em esporte há mais de 45 anos, com coberturas em Jogos Olímpicos e Copa do Mundo. Acompanha o circuito do tênis desde 1980, tendo editado a revista Tênis News. É o criador, proprietário e diretor editorial de TenisBrasil. Contato: joni@tenisbrasil.com.br

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