Fica para a próxima, João! E agora, vamos de Bia.

Foto: Tennis Australia

Sensação absoluta destas primeiras rodadas do Australian Open, o carioca João Fonseca experimentou pela primeira vez uma melhor de cinco sets e não conseguiu se impor diante da ferrenha aplicação tática e da variação técnica intensa que o italiano Lorenzo Sonego determinou do princípio ao fim. Frustrante, claro, mas absolutamente dentro do normal. Tênis é a soma de experiências.

Talvez mais doloroso do que a derrota em si tenha sido o fato de que, desta vez, João Fonseca não foi o tenista fluído, leve e solto que já nos acostumamos a ver em quadra. O fato de ter virado favorito para a partida contra Sonego, ao menos nas bolsas de aposta, teve mesmo o previsível efeito negativo, que ele próprio acabaria por confessar mais tarde. A expectativa cresceu muito, gerou tensão além do normal e por muitas vezes o vimos descalibrado e acuado.

Essa sensação até parecia ter passado quando ele ganhou o apertado primeiro set, em que precisou mostrar coragem e determinação, como havia acontecido nos dois tiebreaks disputados contra o Andrey Rublev. O italiano parece ter estudado muito bem o que fazer, escaldado na derrota de nove meses atrás. Evitou ao máximo dar ritmo, abusando de seus conhecidos slices, mas também encurtando pontos. As curtinhas foram geralmente oportunas e os voleios se mostraram muito eficientes.

Pressionado pelo placar, depois de um terceiro set muito abaixo de seu padrão, Fonseca finalmente se aproximou mais do nível das últimas semanas. O primeiro saque e o forehand passaram a fazer diferença, mas acima de tudo ele enfim atacou mais o segundo serviço de Sonego, colocando dúvidas no adversário. Funcionou muito bem até a metade do quinto set e aí veio o game da quebra, em que se deve dar muito mais mérito ao italiano, que aplicou duas notáveis passadas. Aliás, Sonego fez uma partida muito aplicada na parte tática, com erros pontuais de execução. Ele ganhou mesmo na esperteza.

Apesar da queda, Fonseca deixa Melbourne forrado de adjetivos elogiosos – vocês ouviram o que John McEnroe falou? – e com a certeza de que será apenas uma questão de tempo, ou seja de rodagem no circuito, para que possa sonhar com objetivos muito grandes. Ele tem agora a missão de ajudar o Brasil na Copa Davis contra a França, dentro de 16 dias, onde certamente vai ser atração, e depois se readaptar para o saibro sul-americano. Ele já tem vaga garantida em Buenos Aires e no Rio Open e deve entrar também em Santiago.

A saga apenas começou.

Última barreira para Bia

Com um nível de tênis muito superior ao da estreia, Bia Haddad Maia está de novo na terceira rodada do Australian Open e se coloca em condições de fazer oitavas de final no único Grand Slam onde não somou ao menos três vitórias seguidas. Recordando: semi em Roland Garros, quartas no US Open e oitavas em Wimbledon.

Ela passou com muita autoridade pela russa Erika Andreeva nesta madrugada e agora vai enfrentar a ex-top 10 e também russa Veronika Kudermetova, contra quem já fez quatro partidas e ganhou duas. Foram três jogos no ano passado. Bia ganhou em Wuhan e Seul e perdeu no saibro de Charleston. A outra derrota foi em Tóquio de 2022.

A Bia desta segunda rodada sacou muito melhor, devolveu com agressividade e raramente foi precipitada. Teve paciência para construir pontos quando necessário. Passou apenas um momento de aperto, quando foi quebrada e permitiu 2/0 no segundo set para a adversária, mas reagiu imediatamente e mostrou estar bem mais concentrada e positiva.

A canhota tem agora sete vitórias no Australian Open, apenas uma a menos que Maria Esther Bueno, que foi finalista em 1965 e fez quartas em 1960, únicas vezes em que competiu na grama australiana.

Resumão

– Num jogo de muita perna e emoções, Learner Tien causou a maior surpresa do torneio até agora, ao tirar o tri vice Daniil Medvedev em jogo de quase cinco horas. O americano de 19 anos e 1,80m se esmerou na correria da base e disparou paralelas incríveis. Podia ter fechado no tiebreak do terceiro set, quando teve match-point, mas resistiu mentalmente e foi ganhar lá no ‘tiebreakão’.
– Tien é aquele que perdeu duas vezes para Fonseca na campanha do Next Gen. Ironia do destino, ele irá aparecer imediatamente à frente do carioca no próximo ranking, momentaneamente no 98º lugar. Mas pode ir mais longe, já que pega o também canhoto Corentin Moutet no sábado.
– Caíram também Frances Tiafoe – e assim Fabian Marozsan será o adversário de Sonego – e Hubert Hurkacz, numa atuação fraca contra Miomir Kecmanovic.
– Jannik Sinner foi apertado pelo desconhecido Tristan Schoolkate e avançou sem tanto brilho. Taylor Fritz e Alex de Minaur passearam.
– Vida fácil para Iga Swiatek, Jasmine Paolini, Elena Rybakina e Daria Kasatkina e outro jogo irregular de Emma Navarro. Fora da lista de cabeças, muito bom ver Emma Raducanu e Ons Jabeur recuperadas.
– Era um tanto previsível que Danielle Collins não aguentaria a torcida australiana no duelo contra a quali Destanee Aiava. A cabeça 10 ironizou o público ao final do jogo e na entrevista em quadra. Desnecessário.
– Orlando Luz ganhou seu primeiro jogo de Slam. Fernando Romboli e Marcelo Zormann ficaram bem perto. Marcelo Melo e Rafael Matos jogaram bem contra favoritos e caíram. Luísa Stefani ganhou de Ingrid Martins em partida disputada.

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Gilvan
Gilvan
2 horas atrás

Dalcim, a Bia ainda tem pontos a defender dessas 2 semanas do Australian Open? Ou ela já está somando pontos no ranking?

Horacio Nelson Wendel
Horacio Nelson Wendel
2 horas atrás

Dalcin, está na hora da mídia do tenis adotar o ranking online. Iga Swiatek já está no topo do ranking há 2 dias, e os textos ainda citam como número 2, iludindo o leitor.

Sandra
Sandra
2 horas atrás

Dalcim , Estava torcendo muito para ele, mas uma hora ele iria perder , eu achei melhor agora , vc nao concorda ?

SANDRO
SANDRO
28 minutos atrás
Responder para  Sandra

Como perder agora é melhor ??? Cada rodada a mais se ganha mais dinheiro !!!

Arthur
Arthur
2 horas atrás

Dalcim, me responda, vc acha que o Fonseca ganha pelo menos um atp 250 ainda esse ano ou não?

Geraldo
Geraldo
1 hora atrás

Dalcim, depois de tantos jogos em sequência e agora encararando 5 sets, não achas que faltou físico para o João? Acho perfeitamente aceitável isso.

Sérgio Ribeiro
Sérgio Ribeiro
1 hora atrás

Não dá pra deixar de comentar algo do resumo. Me desculpe o jovem Tien , mas a bolinha de Medvedev não está andando nada. Com estes 62 ENFS, tomaria uma surra de Djokovic, SInner e Alcaraz, com direito a perder o rumo de casa . E digo mais , JF faria com Med o mesmo que fez com Rublev, em condições normais. A desculpa é que acabou de ser Papai e chegou em cima da hora em Melbourne…Abs!

Maurício Luís *
Maurício Luís *
1 hora atrás

A carruagem virou abóbora? Pra mim, não.
Perfeitamente compreensível um rapaz de 18 anos, recém profissionalizado, sinta-se nervoso.
Alguém poderia evocar alguns exemplos do passado. Adolescentes que não tremeram. Michael Chang campeão de Roland Garros: Boris Becker campeão de Wimbledon aos 17. Acontece que o tênis naquela época não era tão físico quanto hoje. Havia mais chances de algum prodígio surpreender.
Chang dos Estados Unidos, Becker da Alemanha. São países celeiros de craques, não lhes faltam ídolos. Já o Brasil tem uma carência crônica de heróis. Então quando surge uma promessa dessas, as expectativas e as cobranças vem como uma tromba d’água.
A CBT sabe muito bem o que fazer pra reverter este quadro. Investir nas categorias de base, em olheiros, cobrar quadras públicas das autoridades, entre outras coisas. Por que não o faz? Por que não copia da Argentina, país pobre como nós?

Sérgio Ribeiro
Sérgio Ribeiro
37 minutos atrás
Responder para  Maurício Luís *

Então Maurício. Na Época dos citados por ti , sem rede social , nenhum deles recebeu tantas mensagens em poucos dias , chamando -os de Fenômeno. Fora a parte física absurdamente abaixo. Fonseca não inventou que ficou muito nervoso. Foi uma avalanche de elogios até de Ex-Tenistas daquela época. Ele é bola mesmo . Abs !

Marcelo Costa
Marcelo Costa
58 minutos atrás

Bia venceu jogando mal, venceu jogando bem, essa é a grande característica dela, se permitir ter outra chance, vá indo até onde seu jogo permitir.

Paulista de 63 anos, é jornalista especializado em esporte há mais de 45 anos, com coberturas em Jogos Olímpicos e Copa do Mundo. Acompanha o circuito do tênis desde 1980, tendo editado a revista Tênis News. É o criador, proprietário e diretor editorial de TenisBrasil. Contato: joni@tenisbrasil.com.br
Paulista de 63 anos, é jornalista especializado em esporte há mais de 45 anos, com coberturas em Jogos Olímpicos e Copa do Mundo. Acompanha o circuito do tênis desde 1980, tendo editado a revista Tênis News. É o criador, proprietário e diretor editorial de TenisBrasil. Contato: joni@tenisbrasil.com.br
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