Estocolmo (Suécia) – Lenda do tênis e um dos maiores campeões da história do esporte, Bjorn Borg lançou em setembro sua autobiografia, intitulada “Heartbeats”. No livro, em que já havia revelado o diagnóstico de um câncer de próstata “extremamente agressivo”, para o qual passou por cirurgia no ano passado, Borg falou sobre sua relação com o tênis e os motivos que o fizeram encerrar a carreira ainda aos 26 anos.
A obra, escrita ao longo de três anos, marca a primeira vez em que o sueco se abre completamente sobre sua trajetória. E a sinopse do livro apresenta esse tom de sinceridade: Depois de tantos anos de silêncio, Borg decide contar tudo. Ele revisita os momentos-chave da carreira, traz bastidores de sua rivalidade histórica com John McEnroe, incluindo a lendária final de Wimbledon de 1980, e explica de forma detalhada sua chocante aposentadoria.
Ex-número 1 do mundo e vencedor de 11 títulos de Grand Slam, incluindo um pentacampeonato consecutivo em Wimbledon, Borg concedeu entrevista ao jornal espanhol El Mundo e falou abertamente sobre a dependência do álcool e drogas e conta que a tentativa de retorno às quadras na década de 1990 “salvou sua vida”, ainda que os resultados em quadra tenham sido muito aquém daqueles que teve em seu auge.
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Logo no início da conversa, Borg explicou por que decidiu escrever sua autobiografia só agora. “Recebi muitas propostas nos anos 1990, da Inglaterra e dos Estados Unidos. Eu dizia que não estava pronto. As ofertas continuaram, mas eu ainda não me sentia preparado. Mesmo com um grande jornalista ou escritor, se eu não tivesse confiança, não conseguiria me abrir. Minha esposa está muito conectada ao meio acadêmico, lê muito e escreve muito. Uma noite, durante o jantar, propus a ideia de escrever o livro com ela. Ela se surpreendeu, pediu um tempo para pensar e no dia seguinte disse sim. Estamos juntos há 25 anos. Ela conhece minha vida, conhece o tênis e viajou comigo pelo mundo. Levamos três anos para concluir o livro”.
Borg também descreveu o impacto do diagnóstico de câncer. “Fui informado em setembro de 2023. Mentalmente, foi muito duro. Eu tinha que ir a Vancouver como capitão da Europa na Laver Cup no fim do mês. Eles recomendaram que eu não fosse, mas fui. Quando voltei, fui ao hospital em Estocolmo e me disseram que era muito sério e que eu precisava operar em fevereiro. O período antes da cirurgia foi terrível, eu não conseguia parar de pensar. A operação correu bem. Faço exames a cada seis meses. Estou bem agora”.
Aposentadoria precoce e abuso de álcool e drogas

Ao falar sobre o fim precoce da carreira, Borg foi direto. “Parei aos 26 porque já não estava desfrutando e faltava motivação. Perdi muitos amigos e aquilo que dava sentido a tudo ao meu redor. Entrei em outra vida, anos escuros. Constantemente me perguntava por que não tinha permanecido conectado ao tênis de outra maneira, em vez de tomar decisões estúpidas. Ainda hoje me pergunto isso”. O sueco também explicou como o vício em álcool e drogas se desenvolveu: “Se você não está feliz, tenta escapar. Drogas, comprimidos ou álcool em excesso para fugir da vida. Eu estava completamente perdido”.
Essa crise o levou a um retorno às quadras no início dos anos 1990, algo que ele descreve como decisivo para sua sobrevivência. “Encontrar equilíbrio na vida é muito difícil. Cometi erros repetidamente. Quando voltei em Monte Carlo, em 1991, não foi porque eu tinha voltado a sentir vontade de competir, mas para me reencontrar. Eu temia morrer. Queria continuar vivo. Talvez, se eu não tivesse voltado naquele momento, não estaria aqui conversando com você. Parece que sempre tive um anjo da guarda ao meu lado, me permitindo escapar da morte. Foram anos muito, muito sombrios, cheios de demônios”.
Perguntado sobre decisões financeiras equivocadas, Borg foi sincero. “Quando a fama entra na sua vida, as pessoas esperam muito de você e isso tem um efeito perturbador. Eu entendo, mas o mais importante para mim sempre foi a minha família”. O sueco também falou sobre seu filho Leo, que já disputa o circuito profissional. “Ele ama o tênis, trabalha duro e tem sua equipe. Às vezes vamos vê-lo jogar, minha esposa Patricia e eu. Ele sabe que, se precisar de algo, pode contar comigo”.
Rivalidade com McEnroe e cenário atual do tênis

Já sobre McEnroe, seu grande rival, Borg destacou a importância dos confrontos e avaliou o impacto de sua geração no crescimento do esporte. “Toda vez que jogávamos, oferecíamos partidas fantásticas e finais inesquecíveis em Wimbledon. As pessoas ainda se lembram delas. As rivalidades aumentam o interesse por um esporte, mas não acho que a nossa foi melhor ou pior do que outras”, afirmou.
“Acredito que fizemos muito pelo tênis. Além de levar o jogo a outro nível, éramos personalidades diferentes que enriqueceram a competição. Hoje é um esporte completamente distinto, a bola é batida muito mais forte, mas também tem muitos atrativos. A rivalidade entre Alcaraz e Sinner é incrível e tento não perder nenhum de seus jogos. Adoro seguir conectado ao tênis porque é algo muito próximo ao meu coração”.
E mesmo sem arrependimentos, o sueco admite que a carreira curta deixa margens para a imaginação. “Talvez eu tivesse vencido mais títulos, talvez mais alguns troféus de Grand Slam. Quem sabe… Quando me aposentei, eu estava jogando bem”.










