A discriminação está longe de acabar

Foto: Christophe Guibbaud/FFT

O tênis feminino vive em constante evolução. As jogadoras encantando o público e cada dia mais bem preparadas.
O circuito é extremamente exigente. Torneios se sucedem ao longo do ano e é frenética a disputa por bons resultados.

Além da exaustiva rotina de treinos, impressiona as obrigações das tenistas com os eventos e com a organização que governa o tênis feminino – a WTA (Women Tennis Association). Isso inclui disponibilidade para testes antidoping em qualquer dia, incluindo férias, treinamento de mídia, entrevistas antes e pós jogos, coletiva de imprensa… Afinal, com o passar do tempo, a exposição do esporte tomou proporções inimagináveis.

Óbvio que para um fã, não deixa de ser uma grande oportunidade também de acompanhar não só os jogos mas conhecer a vida e opiniões das suas favoritas. E esse ano deu o que falar … o debate, embora já antigo, foi aberto pela tunisiana Ons Jabeur, ex 2 do mundo, hoje ocupando o 54º lugar.

E o tema foi a recorrente ausência de jogos femininos na sessão noturna de Roland Garros, que foi introduzida em 2021 com apenas quatro partidas entre mulheres, nesse horário “nobre”. As aspas se justificam porque os interessados precisam adquirir mais um ingresso para a sessão, o que acrescenta um bom bocado na receita do evento.

Pam Shriver, norte-americana, atual comentarista de TV, campeã de duplas ao lado da Martina Navratilova em 1985, 86 e 87 no saibro francês, também fez um pronunciamento muito impactante sobre o tema, lamentando o fato de a diretora do torneio, a francesa Amélie Mauresmo, não ter se posicionado, como mulher e ex-número 1 do mundo, a favor das mesmas, já que a briga por reconhecimento e igualdade, iniciada no início da década de 70, muito a beneficiou.

Vale lembrar que a bielorussa Aryna Sabalenka e a polonesa Iga Swiatek também se pronunciaram a favor da igualdade na programação, mas sem a devida ênfase. Meramente respostas protocolares – reação típica de quem se preocupa mais com sua própria história e menos com um legado.

Pessoalmente vivi um momento muito especial na história do tênis feminino, quando foi necessário romper com o sistema criado no início da era profissional, onde as primeiras premiações em dinheiro foram absurdamente dispares. As mulheres chegaram a ganhar nove vezes menos que os homens.

Foi necessária uma ruptura total, que contou com a participação de um grupo seleto de tenistas, intituladas “The Original Nine” para a criação de um circuito feminino, dando início também à era da equidade que, após grande mobilização, resultou na equiparação de prêmios em todos os Grand Slam.

Os argumentos atuais sobre um maior tempo de jogo e melhor espetáculo são facilmente derrubáveis. Julgar o valor de uma partida apenas pelo gênero dos participantes só mostra que a discriminação está longe de acabar. Acho muito válido portanto que os pleitos continuem e que a organização reavalie sua decisão.

Afinal, no país de um Grand Slam que homenageia duas mulheres com nomes de quadras Suzanne Lenglen e Simonne Mathieu, pelos feitos do passado, que acaba de vibrar em cada jogo da francesa Lois Boisson, e é capitaneado por uma diretora com um surpreendente currículo, não pode deixar de prestigiar seu próprio DNA!

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Jorge Luiz
Jorge Luiz
1 dia atrás

Não vejo discriminação alguma, acho muito justo ser pago premiação igual, muito mi mi mi também atrapalha

Patricia Medrado
Patricia Medrado
1 dia atrás
Responder para  Jorge Luiz

Caro Jorge,
No blog comento sobre a discriminação pelo fato de não ter jogos femininos à noite .

Jorge Luiz
Jorge Luiz
1 dia atrás
Responder para  Patricia Medrado

Nisso vc tem razão, todos os slams estão fazendo isso?

Saulo G.
Saulo G.
23 horas atrás
Responder para  Jorge Luiz

Concordo com você, Jorge Luiz.

No entanto apenas não vemos porque somos homens, Meu caro e nâo vivenciamos este dia-a-dia de optessão na pele.

Nós vivenciamos do lado que oprime, e não do oprimido (onde ao menor sinal de levante, sâo imediatamente caladas por comentários de cunho machista, taxanfo de mi-mi-mi…), ou taxando quem apoia a queixa delas de “Feministo”.

george singer
george singer
1 dia atrás

Patricia, sempre sólida e consistente nas palavras, como era na quadra! pena que não escreve mais vezes.

Rob
Rob
1 dia atrás

A questão do jogo noturno tem uma lógica razoável..a duração de 1 jogo feminino pode ser muito curta..e colocar 2 jogos pode ser extensivo TB.. é um dilema.. não uma discriminação…. é claro que um jogo masculino TB pode ter uma duração curta…tenistas não querem jogar em horários tardios… Assim que vejo.

Patricia Medrado
Patricia Medrado
21 horas atrás
Responder para  Rob

Rob!
Não acredito que seja um dilema. Acho até interessante assistir uma simples e uma dupla numa noite .
O tênis feminino tem muito adeptos . Alternar também enriquece a competição.

Sliceman
Sliceman
1 dia atrás

Meritocracia. Sem privilégios.É uma questão de atrair o público ou não. É muito mimimi e vitimização. Tudo é business.

Fernando S P
Fernando S P
1 dia atrás

Será que os Slams – em pleno 2025 – ainda não contam com uma pesquisa de mercado junto aos espectadores, tanto presenciais quanto pela TV?

Acredito que é muito importante termos esses dados para orientar as decisões, pois agir sem isso impacta negativamente a experiência e o bem-estar dos consumidores como um todo.

SANDRO
SANDRO
1 dia atrás
Responder para  Fernando S P

Não é necessário perder tempo com “pesquisa de mercado”… A solução simples para isso é realizar Grand Slam feminino separado de Grand Slam masculino, em datas diferentes… Simples assim… Aí depois basta comparar qual deu mais lucro e qual deu mais público, inclusive qual deu mais público feminino, qual deles teve mais mulheres na platéia… Por exemplo, assim que terminasse Roland Garros masculino, começaria separado o Ro;and Garros feminino… Já que algumas mulheres se incomodam tanto com os homens e as partidas masculinas nos horários que elas querem, então para que fazer torneios masculinos e femininos juntos??? Aí,dessa forma simples, os homens “indesejados e discriminatórios” deixariam de atrapalhar as mulheres, não é mesmo??? E a “Ons Jabeur” poderia ter um torneio só dela, mas aí ela precisa jogar mais tênis para não ser eliminada de cara, não é???

Fernando S P
Fernando S P
1 dia atrás
Responder para  SANDRO

Será que é viável? Os calendários da ATP e da WTA já são bastante cheios. Acho que as premiaçoes iriam cair também (acordos com TV e patrocinadores).

Mas parece uma boa ideia. As atletas femininas ganhariam atenção total durante o Slam. Eliminaria discussões e comparações.

Os Slams até poderiam mudar de cidade – poderiam criar eventos premium femininos.

SANDRO
SANDRO
1 dia atrás
Responder para  Fernando S P

Pois é Fernando S P, não sei se é viável, mas pelo menos não haveria mais motivo para quererem insistir em reclamar sobre disponibilidade de horário…

Patricia Medrado
Patricia Medrado
1 dia atrás
Responder para  Fernando S P

Caro Fernando
Você se sentiria mal assistindo a um jogo feminino? Precisamos romper com barreiras de gênero em todos os campos .

Fernando S P
Fernando S P
1 dia atrás
Responder para  Patricia Medrado

Mudanças implementadas sem considerar as preferências do público impactam negativamente a experiência dos espectadores. O caminho mais sustentável é o que respeita tanto os atletas quanto os consumidores.

SANDRO
SANDRO
1 dia atrás

Discriminação??? Que discriminação??? O público paga mais caro de acordo com a qualidade técnica do jogo apresentada dentro de quadra… Independente do gênero masculino ou feminino, da opção sexual hetero, homo. bi etc, da cor da pele negra, branca, amarela, parda etc, da religião cristã, islâmica, judaica, budista, ateu etc, da filosofia política direita, esquerda, centro etc, o que importa para o público de tênis é ver uma bela qualidade de técnica do tênis jogado dentro de quadra … Agora se for comparar a qualidade técnica das Finais “Coco x Sabalenka” e “Sinner x Alcaraz”, sem qualquer tipo de demagogia ou hipocrisia, qual delas teve melhor qualidade técnica??? Qual delas atrai maior público pagante??? Não bastasse exigir premiação igual para produtos de qualidade e duração diferentes (melhor de 3 sets x melhor de 5 sets) agora a reinvindicação é jogar no último horário??? Para resolver esse impasse, quem sabe se alternassem os dias do torneio com um dia só com partidas de simples masculinas e no dia seguinte só jogos de simples femininos desde a primeira até a última partida??? Quem paga mais caro oara assistir a última partida do dia, espera que ela seja a de melhor nível técnico possível…

Saulo G.
Saulo G.
23 horas atrás
Responder para  SANDRO

Seu parámerro de “número de sets” é um parâmetro extremamente raso para definir “quem vale mais” e “quem vale menos” no mundo ténis e da mídia.

Pedro Abreu
Pedro Abreu
2 horas atrás
Responder para  Saulo G.

Não concordo com vc, achei o comentário do Sandro muito pertinente.

Rob
Rob
21 horas atrás
Responder para  SANDRO

Esse ano a final feminina do australiano foi muito melhor que a masculina….ano passado IGA e Muchova TB foram excelentes em RG.

Patricia Medrado
Patricia Medrado
13 horas atrás
Responder para  SANDRO

Caro Sandro,
Você está usando como comparação uma final histórica, inesquecível. Estou me referindo a jogos outros, realizados ao longo dos 15 dias. Reparou quantos 6/0 foram aplicados por homens durante o torneio? Quantas desistências no meio do jogo na chave masculina ?
O questão é apenas equilibrar a programação.
Ah! E ninguém paga antecipado! Não se sabe a qualidade do espetáculo antes dele acontecer !

SANDRO
SANDRO
10 horas atrás
Responder para  Patricia Medrado

Então, se separassem os torneios masculinos dos femininos não teria esse problema, não é mesmo? Assim como na futebol tem a Copa Do Mundo masculina separada da Copa Do Mundo feminina, Libertadores masculina separada da Libertadores feminina e os torneios de basquete masculinos também são separados dos torneios femininos, entre outros exemplos, não teria esse tipo de problema… As mulheres deveriam reinvindicar então, torneios de Grand Slam separados só para elas em datas diferentes do Grand Slam masculino… Aí diminuiria o risco de alguém pagar mais caro o horário nobre, para ver uma partida que não estava muito a fim de assistir… O que eu acho é que ninguém deve ser obrigado a assistir uma partida masculina, se não quer, e da mesma forma. ninguém deve ser obrigado a assistir a uma partida feminina se não quer…

Realista
Realista
1 dia atrás

Não vejo motivos para desabonar a francesa Amélie Mauresmo. Ela fez o que é melhor comercialmente para o slam continuar prosperando.
Temos de parar de segmentar pessoas com esse tipo de pensamento de mulher favorecendo mulher ou de homem favorecendo homem.
Se favorece o que o público que paga ingresso ou streaming e as vezes, só tem o horário nobre para assistir.

Saulo G.
Saulo G.
23 horas atrás
Responder para  Realista

Bem, Realista… pregar o que vc prega é apoiar a manutenção do status Quo… e o status existente é extremamente.machista…

Rodrigo
Rodrigo
1 dia atrás

Perfeito, Patrícia! Muito frustrante isso ainda acontecer nos dias atuais.

Patricia Medrado
Patricia Medrado
13 horas atrás
Responder para  Rodrigo

Obrigada Rodrigo!
Quem acompanha o tênis feminino e aprecia, sabe da qualidade.

Pedro Abreu
Pedro Abreu
2 horas atrás
Responder para  Patricia Medrado

Qualidade tem, mas está anos luz da qualidade do tênis masculino, qual foi a emoção da final feminina? um jogo onde uma atacava (e errava) e outra defendia?

Tenista medíocre
Tenista medíocre
1 dia atrás

Nada a ver com discriminação. Pergunte ao público se preferem assistir no melhor horário final e semifinal feminina ou apenas uma semifinal masculina, para nao dizer a final que foi muito melhor.

Patricia Medrado
Patricia Medrado
21 horas atrás
Responder para  Tenista medíocre

Caro,
As finais foram realizadas durante o dia .
A questão aqui trata-se apenas de incluir jogos femininos na sessão noturna, ao longo das duas semanas do torneio como fazem os outros Grand Slams e torneios mistos.

Moreno Jr
Moreno Jr
21 horas atrás

Pra começo de conversa, as mulheres deveriam então exigir primeiro que os jogos fossem em melhor de 3 sets em Grand Slams, pois igualdade tem que ser em tudo, certo?

Ninguém se interessa por um jogo que dura 40 minutos e termina 6-0 / 6-1.

O tênis masculino atrai mais patrocinadores e audiência, por isso deve sim ser colocado em horário nobre sempre.

A qualidade, técnica e emoção que um jogo de tênis masculino de alto nível apresenta, como na recente final de RG, é impossível de ser apresentada por duas jogadores de alto nível.

Patricia Medrado
Patricia Medrado
13 horas atrás
Responder para  Moreno Jr

Caro Moreno,
As mulheres só jogam melhor de 3 pq assim está convencionado. Não haveria problema algum numa melhor de 5 mas não acredito que os promotores assim desejem já que em 15 dias, muitos jogos precisam caber na agenda dos eventos.
Você está comparando um jogo fácil de mulher com uma final histórica.
A questão aqui é colocar alguns jogos femininos à noite. Apenas isso!!!
Se você acompanhou o torneio, deve ter visto excelentes disputas entre as mulheres.

Pedro Abreu
Pedro Abreu
2 horas atrás

Se levarmos em consideração o entretenimento, emoção e qualidade, não vejo nenhuma discriminação, mulheres passam menos tempo em quadra e ganham igual em slam, querem horário nobre sabendo que para cada 5 ingressos masculinos vende 1 feminino. Tem que pensar em melhorar antes de querer exigir alguma coisa.

Ex-tenista profissional e medalhista de prata nos Jogos Pan-Americanos na Cidade do México-1975, foi por 11 anos consecutivos a número 1 do Brasil e chegou ao top 50 em simples. Atualmente, possui 16 títulos mundiais no circuito Masters da ITF e ocupa os cargos de diretora executiva do Instituto Patrícia Medrado e líder do Comitê Esporte do Grupo Mulheres do Brasil.
Ex-tenista profissional e medalhista de prata nos Jogos Pan-Americanos na Cidade do México-1975, foi por 11 anos consecutivos a número 1 do Brasil e chegou ao top 50 em simples. Atualmente, possui 16 títulos mundiais no circuito Masters da ITF e ocupa os cargos de diretora executiva do Instituto Patrícia Medrado e líder do Comitê Esporte do Grupo Mulheres do Brasil.

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