Nadal: vítima do alto nível do esporte competitivo

Foto: Nordea Open Tennis

Passados alguns dias do esperado, mas não bem-vindo anúncio da aposentadoria de Rafael Nadal, a mídia internacional repercute fortemente a intensidade no estilo e carreira do espanhol, que esta semana estará em ação no Six King Slam, uma exibição de alto nível a ser jogada na cidade de Riyadh, na Arábia Saudita. O que me chamou muito a atenção refere-se à discussão do que julgo uma verdade: o esporte de alto nível de acirrada competição pode ser prejudicial à saúde.

Nadal, entre muitos outros grandes astros do esporte, é daquele tipo que “descansa carregando pedra”. Lembro de sua recente excursão pela América do Sul. Em um período em que muitos se recuperam e se prepararam para a pré-temporada, o espanhol jogou várias exibições em exaustivas viagens. Antes de estar em Belo Horizonte, por exemplo, esteve em ação até a madrugada no Chile. E depois no Brasil embarcou também no meio da noite para seguir jogando. Foi, sem dúvida, uma linda despedida do Touro para nós sul-americanos, um privilégio ver de perto um dos maiores gênios do esporte, não só do tênis, mas de qualquer modalidade. Só que para ele custou caro e iniciou a atual temporada já com lesões, não jogou o AO, sentiu o abdômen em Barcelona e também se ausentou da temporada de grama.

Nenhuma grande novidade, afinal, a carreira de Nadal sempre foi marcada por uma série de lesões. Vi o jovem espanhol jogar pela primeira vez em Monte Carlo em 2003. Guga Kuerten havia perdido uma partida incrível para Magnus Norman e como estava muito cedo seguir para outro torneio, aproveitei para acompanhar a sempre atraente competição no charmoso Principado. Certa tarde aceitei o convite do árbitro brasileiro Adão Chagas para ver de perto a revelação espanhola, que já vinha chamando a atenção. Na arquibancada, tanto o juiz como eu ficamos impressionados com a velocidade e intensidade do quase juvenil. Rafa acabou perdendo o jogo para Guillermo Coria e naquele ano não disputou Roland Garros por causa de um problema no cotovelo. Logo depois o caso mais grave e que pode ter motivado a aposentadoria, a então anunciada fratura por estresse no pé esquerdo.

Na época até surgiu o rumor de que a Nike teve de fazer um tênis especial para acomodar a lesão de Nadal. Mas tempos depois, em 2022, é que fiquei sabendo de forma oficial que se tratava de síndrome Müller-Weiss, um problema grave incurável. O histórico do espanhol é longo: tendinite nos joelhos em 2009, abdômen em setembro de 2009, novamente tendinite no joelho esquerdo, em 2012. Sofreu com as costas em janeiro de 2014, o punho esquerdo, em junho do mesmo ano, mais uma vez as costas no início da temporada de 2021, pé esquerdo em agosto de 2021, quebrou a costela em março de 22, abdômen em julho do mesmo ano. Em janeiro de 23 apareceu o problema grave no quadril. Enfim, essas são “apenas” as  contusões que o mundo ficou sabendo e pode ter sentido outras, fora do conhecimento público.

Por outro lado, graças a todo esse esforço e sacrifícios para enfrentar todas as adversidades, Rafael Nadal nos deu o privilégio de sermos contemporâneos de um dos maiores gênios do esporte e fica então o muito obrigado…

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O realista
O realista
4 horas atrás

Vítima não. Privilegiado. Creio que ele não gostaria de ser um jogador de futures ou motorista de ônibus em Manacor. Hehe

Fábio S
Fábio S
1 hora atrás
Responder para  O realista

Exatamente! A “vítima” do alto nível tornou-se UMA LENDA do Tênis e milionário, coitado.

José Afonso
José Afonso
1 hora atrás

Nadal é um jogador fenomenal, mas faltou inteligência e prudência para se preservar mais. Esses exemplos citados no texto são a prova disso.

Jornalista especializado em tênis, com larga participação em diversos órgãos de divulgação, como TV Globo, SporTV, Grupo Bandeirantes de Comunicações e o jornal Estado de S. Paulo. Revela sua experiência com histórias de bastidores dos principais torneios mundiais. Já cobriu mais de 70 Grand Slams: 30 em Roland Garros; 21, no US Open; 18 em Wimbledon; e 5 no Australian Open.
Jornalista especializado em tênis, com larga participação em diversos órgãos de divulgação, como TV Globo, SporTV, Grupo Bandeirantes de Comunicações e o jornal Estado de S. Paulo. Revela sua experiência com histórias de bastidores dos principais torneios mundiais. Já cobriu mais de 70 Grand Slams: 30 em Roland Garros; 21, no US Open; 18 em Wimbledon; e 5 no Australian Open.

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