Na edição em que o tênis masculino norte-americano amarga duas décadas inteiras sem ganhar o US Open ou qualquer outro Grand Slam, as chances de o jejum acabar aumentaram significativamente neste domingo, quando Taylor Fritz, Frances Tiafoe e Ben Shelton avançaram para as quartas de final, algo que não acontecia desde 2005. Haverá até um duelo direto entre Tiafoe e Shelton, o que garante ao menos um semi. O problema é que no caminho está nada menos que o tricampeão Novak Djokovic.
Fritz será o primeiro e entrará em quadra com histórico negativo de 7 a 0, dos quais uma única vez conseguiu ganhar sets do sérvio, na terceira rodada do Australian Open de 2021. Semanas atrás, em Cincinnati, só tirou quatro games com direito a ‘pneu’. Seu problema é não ter consistência na base para aguentar o ritmo alucinante e teria como recurso sacar de forma animalesca, o que não costuma fazer com frequência.
Super sacador na verdade é o garotão Shelton, canhoto tal qual o técnico de Djokovic. Fez até agora o saque mais veloz do torneio, a 240 km/h. Tem explosão física nos seus tenros 20 anos e se mostra um jogador bem divertido de se ver, já que é firme dos dois lados lá atrás também, arrisca devoluções e não hesita em ir à rede. A dúvida é o quanto suportaria na parte mental um desafio tão grande e diante de um adversário que nunca enfrentou e que dá mínimas brechas.
A aposta sem dúvida maior seria Tiafoe. O único duelo realmente válido foi no Australian Open de 2021 e o americano exigiu bastante nos quatro sets. Também carregaria a experiência de ter feito semifinal no ano passado em Flushing Meadows e no geral joga mais que Fritz. Golpes muito pesados do fundo, saque afiado, coragem de ir à rede e disposição física assustadora se aliam ao fato essencial de saber envolver a torcida. A parte emocional mostra por vezes instabilidade e o fardo de tanta esperança pode ser elevado demais, como aconteceu em 2022 diante de Carlos Alcaraz, apesar de ter sido um jogaço de placar apertadíssimo.
Na noite deste domingo, Djokovic não foi espetacular. Jogou o suficiente para conter o ímpeto quase kamikaze do croata Borna Gojo, que fez o que tinha de fazer. Arriscou o máximo o tempo todo – boa opção pela bola centralizada para tirar ângulos do sérvio – e com isso até chegou a ter uma quebra de vantagem no começo do segundo set. Mas nada que colocasse a vitória de Nole sob qualquer risco. Quando foi preciso, o sérvio não deu ponto bobos e usou bem o primeiro saque e as paralelas.
Fritz encarou um Dominic Sticker pouco a fim de trocar bolas. O suíço, provavelmente por conta do desgaste, foi outro que exagerou na força, mas mostra reais qualidades. Shelton pode ser apontado como surpresa, porque afinal se vingou da derrota para Tommy Paul sofrida em Melbourne, mas o fato é que Paul se mostrou nada à vontade com o enorme calor deste domingo. Não tivesse perdido um serviço com 4/2 no terceiro por certa preguiça, Tiafoe teria sido perfeito diante do pouco experiente Rinky Hijikata.
Ostapenko acaba com reinado de Iga
Sem jamais abdicar da determinação do ‘plano 0’, ou seja, bater o máximo de forehands com total força e profundidade, a letã Jelena Ostapenko se manteve invicta diante da polonesa Iga Swiatek e, com a quarta vitória consecutiva, não apenas garantiu seu lugar em inéditas quartas do US Open como também determinou o fim do reinado de Swiatek, que vem desde abril do ano passado. Aryna Sabalenka, que disputa oitavas nesta segunda-feira, será a 29ª tenista a assumir o número 1 dentro de oito dias.
Nem mesmo o fato de perder o primeiro set, em que saiu com quebra mas depois não manteve embalo, tirou a confiança da letã. Rapidamente, abriu 3/0 no segundo set e pareceu que Swiatek retomaria as rédeas quando recuperou a quebra no sétimo game. Que nada. Muito agressiva, Ostapenko embalou sete games consecutivos, por muito pouco não deu ‘pneu’ e encerrou a partida com 31 winners, nada menos que 40% de todos seus pontos.
Terá agora de encarar a torcida da casa contra Coco Gauff. Aos 19 anos e já com cinco US Open disputados, a campeã de Washington e Cincinnati passou por teste neste domingo diante de Caroline Wozniacki e mostrou perigosas oscilações, a ponto de fazer 33 winners mas 44 erros, além de ver a veterana número 1 sair com quebra no terceiro set. De qualquer forma, foi excepcional sua reação, com postura ofensiva e seis games seguidos vencidos.
A outra briga por semi já definida terá Karolina Muchova contra Sorana Cirstea. A tcheca de 27 anos, em ótima fase, agora tem quartas em todos os Slam e confirma sua condição de top 10. É bem verdade que teve um momento muito ruim com o saque no segundo set diante da chinesa Xinyu Wang, mas é cheia de recursos e optou com sucesso por slices na série decisiva.
Muchova tem 3 a 1 contra Cirstea, 33 anos, que depois de tirar Elena Rybakina eliminou a cabeça 13 Belinda Bencic de forma muito dominante, colocando pressão constante no saque instável da adversária. A romena volta a disputar quartas de Slam depois de 14 anos.
Stefani avança, Bia joga
Sob o sufocante calor nova-iorquino, Luísa Stefani e Jennifer Brady tiveram outro jogo duro, mas aproveitaram bem as chances no terceiro set. Ainda não sabem as adversárias, mas Luísa está assim a uma vitória de repetir a semi de 2021. Nesta segunda, Bia Haddad e Victoria Azarenka encaram as cabeças 15 para também ir às quartas. E até dá para as duas brasileiras se cruzarem na penúltima rodada. João Fonseca estreou bem.