Campeão do torneio juvenil do US Open no último sábado, João Fonseca assumiu nesta segunda-feira a liderança do ranking mundial de sua categoria. Mas depois de conseguir dois feitos importantes para o tênis brasileiro, ele já projeta uma transição completa para o circuito profissional e já começa a definir seus próximos passos.
Um exemplo a ser seguido pelo carioca de 17 anos é o da norte-americana Coco Gauff, apenas dois anos mais velha, e que conquistou seu primeiro Grand Slam como profissional no último sábado em Nova York. Assim como ele, Gauff conquistou nos tempos de juvenil títulos mesmo porte que ele, um Grand Slam, o número 1 do ranking e a Copa Billie Jean King Junior (equivalente à Davis Junior vencida pelo Brasil no ano passado).
Mas além dos números, a norte-americana é uma jogadora que foi se acostumando aos grandes palcos e a enfrentar adversárias de alto nível desde muito cedo, além de conviver com grandes expectativas desde muito cedo e de se tornar uma das vozes influentes do tênis, apesar da pouca idade. Os dois campeões se conheceram no último sábado, após a conquista de Fonseca e posaram para fotografias com os respectivos troféus.
“A Coco é só dois anos mais velha que eu e é uma garota super legal. A gente se conheceu logo depois da minha final, eu fui fazer os exames antidoping e um dos meus patrocinadores teve contato com ela e tiramos uma foto. É uma inspiração para mim e sei que também ela é para muitas mulheres lá nos Estados Unidos. É uma pessoa que trabalha muito duro para chegar onde chegou, campeã de Grand Slam agora”, disse Fonseca a TenisBrasil, durante a entrevista coletiva nesta segunda-feira.
Top 10 no juvenil vale vagas em até oito challengers
A boa colocação no ranking juvenil também vai ajudar Fonseca a entrar em torneios maiores no ano que vem. Segundo um plano de aceleração da transição traçado pela ITF e ATP, os dez melhores juvenis da temporada terão vagas diretas nas chaves principais de oito challengers na temporada seguinte, possibilitando um crescimento ainda mais rápido no tênis profissional. Atualmente, o brasileiro ocupa o 656º lugar na ATP.
“Minha meta no início deste ano era estar no top 10 do ranking juvenil, porque assim eu conseguiria os oito wildcards em challengers do ano que vem. É uma regra nova da ITF com a ATP. Ainda não conversei muito sobre isso com a minha equipe, porque tudo foi muito rápido. Inicialmente, a ideia para o ano que vem era ainda ir mesclando e jogar só os Grand Slam do juvenil, mas acredito que depois dessa conquista eu já posso focar 100% na minha carreira profissional e vou ter muito mais confiança para a transição”.
Ver essa foto no InstagramUma publicação compartilhada por Joao Fonseca (@joaoffonseca)
Portas abertas para o tênis universitário
O carioca também deixa as portas abertas para uma eventual entrada no tênis universitário norte-americano. “Estou conversando com duas universidades, que por enquanto eu quero manter os nomes só para mim. A ideia seria estudar algo na área de Business. Meu pai trabalha no mercado financeiro e já me indicou algumas pessoas para conversar. Vou deixar as duas portas abertas. Pode ser uma experiência boa passar oito meses lá, trancar e focar depois no circuito profissional. Acho que tenho até junho ou julho do ano que vem para me decidir. Se eu estiver num bom momento de ranking, e em boas condições físicas e de cabeça, eu sigo para a carreira profissional. Mas é bom ter também essa porta aberta”.
Condições extremas com calor, chuva e raios
Para conquistar o título do US Open juvenil, Fonseca precisou liderar com situações bastante adversas: Jogos no calor extremo no início da parte, longas paralisações por chuva e incidência de raios, além das mudanças bruscas nas condições do jogo do dia para noite. Nas partidas noturnas, e com muita umidade, a quadra ficava muito mais lentas e o pontos mais longos eram mais frequentes. O brasileiro se lembrou do ano passado, quando sofreu com o físico durante o Grand Slam nova-iorquino e destacou a evolução nesse aspecto.
“Sou do Rio de Janeiro, estou acostumado com o calor, mas nunca vi algo parecido com aquilo. Estava extremamente desconfortável. Tive que me hidratar muito. Durante as pausas por chuva, eu tentava manter minhas rotinas, conversar com meu técnico, fazer as minhas respirações, que foi algo que eu comecei agora em Wimbledon. Isso me manteve calmo durante as paralisações e consegui manter o meu jogo durante as partidas. Eu me lesionava muito e já tive alguns problemas com cãibra e falhas no terceiro set por conta do físico e mental. Esse torneio me deu muita ‘casca’. Meu físico melhorou muito do ano passado para cá. Tenho acompanhamento de uma nutricionista, faço suplementação alimentar e isso também me ajuda muito na parte mental”.
“Eu cheguei às quartas na Austrália, Roland Garros e Wimbledon. Quando fui para as quartas desta vez, pensei que não queria perder novamente. Eu estava buscando o título. Sabia que se eu ganhasse o título seria o número 1. Então foi muito especial. Depois do jogo, fomos jantar com a minha família e os amigos que estavam lá”.
No momento em que tem atraído cada vez mais atenção, Fonseca falou sobre sua parceria com a patrocinadora On, empresa de material esportivo que tem Roger Federer como um dos sócios. A marca fornece uniformes para apenas outros dois tenistas no momento, a tricampeã de Roland Garros Iga Swiatek e o semifinalista do US Open Ben Shelton. “Ainda não conversei com o Federer, mas é o tenista que mais me inspirou, pela facilidade de jogar. E sobre essa marca, eu estava conversando com outras empresas, mas quando eu recebi a propostas deles no início do ano, me chamou a atenção pela exclusividade. Só eu, a Iga e o Ben usamos. Então, é muito legal ver uma marca começando do zero, junto com a minha carreira profissional”.
Nesta semana, Fonseca segue para a Dinamarca, onde acompanha a equipe brasileira que disputa o Grupo Mundial I da Copa Davis, visando uma vaga no Qualificatório Mundial de 2024. Na sequência, volta ao Brasil e foca na disputa de torneios de nível challenger na América do Sul.
“Já estive duas vezes com a equipe da Davis. Foram experiências incríveis. A galera é super atenciosa e muito unida. Mas agora é a primeira vez que vamos jogar contra um time que tem um top 10, ou top 5. Estou bastante animado. Depois dessa semana na Dinamarca, eu volto para o Rio e converso com meu treinador sobre o calendário. Ainda não sei quais torneios vou jogar, mas provavelmente vão ser alguns challengers na América do Sul. Devo jogar os qualis. E aqui no Brasil vou tentar os wildcards também”.
Inspiração em Guga e Bia
Entre outros nomes do tênis brasileiro que inspiram a carreira de João Fonseca são Gustavo Kuerten, Beatriz Haddad Maia e as medalhistas olímpicas, Luísa Stefani e Laura Pigossi. “E conversei mais com a Bia. Eu tive contato com ela no US Open. É uma inspiração, porque luta muito até a última bola em todos os jogos. E é alguém que super muito bem. Eu que sou um pouco mais tímido, gosto de acompanhar as entrevistas dela também”, comentou.
“Da Luísa e da Laura, eu tenho um orgulho enorme. Pude conversar um pouco com a Luísa, que é uma menina super legal. É muito bom o que o tênis feminino está fazendo. E o Guga foi um jogador incrível, e também uma pessoa incrível. Ele é um herói para mim. Espero que os mais novos que chegarem depois de mim consigam se inspirar em mim e que eu consiga ter uma boa carreira para que os outros possam se espelhar”.