A melhor coisa sobre a vitória de estreia como profissional de João Fonseca no US Open é que o campeão juvenil de 2023 voltou a jogar um grande tênis, especialmente nos chamados ‘grandes pontos’ depois de um período apagado. É bem verdade que o backhand estava um tanto travado no primeiro set, o que permitiu que Miomir Kecmanovic sacasse para ganhar a série e sair com importante vantagem. O sérvio ajudou, ao usar muito pouco o primeiro saque nessa hora importante, e essa foi a deixa para soltar o brasileiro.
Não foi um jogo fácil e isso valoriza ainda mais o resultado. Pudemos ver Fonseca trabalhando muito bem as pernas para fugir do backhand e disparar o forehand pesado, mesclando cruzadas e paralelas, e sua cobertura de quadra esteve muito superior às de suas apresentações mais recentes. Kecmanovic saiu com quebra também no segundo set e viu reação imediata do jovem adversário com pontos muito bem jogados lá da base. No novo tiebreak, mesmo com 5-2 e depois dois serviços com 5-4, claramente o sérvio respeitou a devolução do brasileiro que, aliás, terminou a partida com 56% de aproveitamento no retorno do segundo saque, um percentual de primeira linha.
Por fim, Fonseca se impôs no terceiro set e, mesmo com mal-estar e ânsia de vômito, geralmente fruto de ingestão exagerada de líquido, controlou a cabeça e impediu qualquer animação do ex-top 30. Lembremos que Kecmanovic tem a quadra dura como seu piso mais relevante – 65% de todas suas vitórias de ATP e título em Delray Beach há seis meses.
Entre tantas façanhas já realizadas, Fonseca é o único brasileiro na história a passar todas as estreias dos quatro diferentes Grand Slam numa temporada de estreia no alto escalão. Para se ter uma ideia de quanto isso é raro, Guga Kuerten e Thomaz Bellucci precisaram de três tentativas, ambos com três a quatro anos a mais de idade do que os 19 recém completados por João.
O próximo desafio é o divertido Tomas Machac, tcheco de estilo bem variado e criativo, de quem se pode esperar qualquer coisa, incluindo um dia muito ruim. Ex-20º do ranking, fez oitavas no US Open do ano passado, tirando Sebastian Korda, então 16 do mundo, o que é até agora sua maior campanha em Slam. Com 24 anos, tem apenas um título de ATP, no 500 de Acapulco de fevereiro, onde ganhou de Alexander Zverev, Jakub Mensik e Alejandro Fokina. É preciso cuidado e respeito.
Resumão
– Com assustadora cabeça raspada quase a zero, Alcaraz manteve o padrão de Cincinnati e teve a necessária paciência contra o sacador Opelka. Espanhol ganhou 86% dos pontos com primeiro saque e fez outro ponto espetacular, quase tão incrível como o das duplas mistas.
Carlos out here doing Carlos things!! pic.twitter.com/w9IeFLqfTT
— US Open Tennis (@usopen) August 26, 2025
– Nomes fortes como Draper, Khachanov e Cobolli não tiveram vida fácil na primeira partida, mas a rigor não correram riscos de derrota. Destaque para o argentino Gomez, que fez um belo jogo contra o canhoto britânico, semifinalista do ano passado.
– Tiafoe e Rune jogaram tiebreaks mas não perderam set e ensaiam duelo de terceira rodada para, quem sabe, decidir quem cruzará com Djokovic. Quem saiu do caminho do sérvio foi Michelsen, batido pelo consistente Comesana.
– Fonseca, Comesana e Etcheverry são únicos sul-americanos a superar a primeira rodada, restando estreias de Cerúndolo e Tabilo.
– E as surpresas chegaram cedo à chave feminina. com a queda de Keys para mexicana Zarazua, 82 do ranking, e de Svitolina para Bondar no setor onde está Bia Haddad.
– A campeã do Australian Open somou números aterradores: 14 duplas de um total de 89 erros não forçados. Observem que Zarazua somou 131 pontos, ou seja, precisou marcar “apenas” 42.
– Esperava muito do duelo Krejcikova-Mboko, mas a inesperada vencedora de Montréal ainda sente o punho e jogou bem abaixo diante de uma tcheca que soube perfeitamente tirar o ritmo.
– A segunda-feira marcou o adeus ao tênis, previamente anunciado, de Petra Kvitova e Caroline Garcia, duas jogadoras que sempre me agradaram muito pelo jogo fluído.
– Venus, aos 45 anos, ainda tirou um set de Muchova, o que não foi de todo ruim. A tcheca é uma tenista de enormes recursos, que nos deixa sempre à espera de um título de Slam que ainda não veio.
– Mirra voltou com fome de bola e perdeu só um game para Parks.