Letícia Vidal relembra afastamento de oito anos e recupera alegria de jogar

Letícia Vidal (Foto: João Pires/Fotojump)

Por Mário Sérgio Cruz
Da redação

A paulista Letícia Vidal marcou a primeira vitória brasileira no ITF W15 de Santiago, que está sendo disputado nesta semana em quadras de saibro. Ela venceu a convidada local Alessandra Caceres por 6/1 e 6/2 e vai enfrentar na segunda rodada mais uma chilena, a jovem de 18 anos e 655ª do ranking Antonia Vergara Rivera, cabeça 5 do torneio. Aos 28 anos, Letícia foi contemporânea de nomes como Carol Meligeni e Luísa Stefani em competições do circuito juvenil, mas teve um longo afastamento do tênis e ficou oito anos sem competir. Nos últimos anos, reencontrou o amor pelo esporte e a alegria de jogar.

“Eu joguei dos meus 8 aos 17 anos, fui super bem no juvenil, joguei os Grand Slam, Sul-Americanos e Mundiais. Mas na minha época o tênis era completamente diferente. Não se pensava muito em faculdade, não tínhamos jogadoras brasileiras no top 100, a última tinha sido a Teliana. Não era igual agora com a Bia sendo 20 do mundo e a dupla sendo muito mais bem vista com a Stefani e criei muitas dúvidas na minha cabeça: ‘Por que eu vou chegar, se não tem ninguém mais chegando no top 100?’, isso me fez questionar muito”, disse Letícia Vidal a TenisBrasil em entrevista realizada em julho, durante ITF W35 em São Paulo.

“Eu parei devido ao esgotamento mental, que também era algo que não se falava tanto igual hoje. A base naquela época tinha o pensamento de ‘ou você vira número 1 do mundo ou você não é nada’. Era muita pressão, não queria mais viajar e fiquei bem mal de cabeça. Fui procurar outras oportunidades fora do tênis e fazer outras coisas, porque só fiz isso a minha vida inteira”, explica a tenista, que formou-se em administração na Universidade Paulista e trabalhou no setor corporativo antes de voltar a jogar. Mas para o futuro, planeja continuar ligada ao esporte. “Trabalhei em empresas e saí do esporte. Queria me conhecer além disso. Então me formei, não pelo tênis, e trabalhei. Eu tive que viver outras coisas para ver que esse é mesmo o meu caminho”.

Juvenil de destaque e contemporânea de Stefani

Vidal fez parte de uma geração que teve um dos melhores resultados do Brasil na Billie Jean King Cup Junior, mundial da categoria 16 anos, o quinto lugar em 2013, ao lado de Luísa Stefani e Júlia Gomide. Um ano antes, o Brasil havia sido terceiro colocado com Bia Haddad Maia, Carol Meligeni e Ingrid Martins. Os bons resultados de suas antigas companheiras de circuito motivaram o retorno às competições. Hoje ela ocupa a posição de número 1.223ª no ranking da WTA, com 10 pontos conquistados.

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“A Stefani jogava o circuito juvenil comigo. A Laura e a Bia também eram da minha época, só um pouco mais velhas. E nas Olimpíadas de Tóquio achei incrível vê-las ganhando, além da Carol chegando ao top 200 e meninas de fora, que eu ganhava, chegando lá também. E quando eu parei, eu simplesmente parei e sumi. Ficou algo inacabado para mim, mas eu precisava me dar uma segunda chance. Não estava fazendo sentido a vida sem o tênis para mim”, relatou a jogadora, que atualmente treina na Tennis Route, no Rio de Janeiro e mantém contato com as tenistas da mesma geração.

“Devido ao meu afastamento do mundo do tênis, acabei me afastando de muita gente. Mas logo que eu voltei, a Luísa e a Carol me mandaram mensagens que estavam super felizes por mim. Então, a gente tem um bom relacionamento e já treinamos juntas”, explicou Vidal, que também relembrou o longo afastamento e o desafio de cuidar da saúde mental nessa volta ao esporte.

“Eu estava esgotada. E quando parei, parecia que tinham acabado os meus problemas. Quando decidi voltar, eu me preparei e achava que já saberia o caminho: ‘Fiz isso a minha vida toda’, eu pensava. Mentira! Os fantasminhas continuam aqui, porque o tênis é um esporte completamente mental. A gente acha que sabe lidar, mas a pressão ainda existe. Mas conversei com todos os meus treinadores antigos, com preparadores físicos e pessoas que me fizeram bem e mantive contato”.

Sobreviver financeiramente no circuito ainda é um desafio

Um dos principais desafios para continuar jogando atualmente a viabilidade financeira do circuito. Devido ao alto custo e premiações baixas nos torneios de menor graduação do circuito, uma das opções tem sido conciliar o calendário com torneios que oferecem apenas premiação em dinheiro, mas sem pontos no ranking. “Hoje em dia, estou buscando mais torneios de grana, porque se manter no circuito é bem complicado sem patrocínio. Tudo bem que não tem tanto tempo, porque a gente quer focar no profissional. É nas brechas que a gente consegue encaixar para ter essas oportunidades de ganhar dinheiro”.

O momento de maior exposição e visibilidade que o tênis feminino vive no Brasil nos últimos anos também é encarado como um facilitador na busca para manter a carreira no esporte. “As portas se abriram muito depois de jogadoras como a Bia e a Luísa, ou até mesmo com o João Fonseca hoje. Hoje todo mundo quer conhecer o tênis e procuram muito mais. É claro que tivemos outras jogadoras antes, mas foi uma virada de chave”.

Catarina Melleiro também avança no Chile

Outra vitória brasileira na rodada desta quarta-feira veio com Catarina Melleiro, que venceu a chilena Catalina Porre por 6/0 e 6/2. Sua próxima adversária será a cabeça 2 local Fernanda Labrana. A chave em Santiago contou com cinco brasileiras, sendo que a paulista Júlia Konishi foi eliminada na estreia pela peruana Romina Ccuno, cabeça 4 do torneio, por 6/3 e 6/0, enquanto Luana Plaza sofreu 6/1 e 6/3 da russa Alisa Danilova.

Quem também se despediu foi a brasiliense Mariana Soares, de apenas 18 anos e vinda do quali, superada pela argentina Melina Maruca por 6/2 e 7/5. Soares marcou seu primeiro ponto na WTA no mês de maio, quando venceu um jogo em Santo Domingo, na República Dominicana, depois de criar uma campanha nas redes sociais para financiar os custos no circuito e participar de suas primeiras competições internacionais.

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André Borges
André Borges
16 horas atrás

Me lembro da Letícia, tinha resultados bons e um bom potencial. Tomara que volte pra curtir, sem essa pressão estúpida e metas sem sentido.

Edu Martins
Edu Martins
5 horas atrás

fez um diagnostico e histórico legal, provando mais uma vez que a Bia é excepcional, apesar de todas criticas em cima dela, manter-se no top 20 ou por ai, está sendo um luxo para o tenis feminino brasileiro numa época bastante díficil e competitiva! Boa sorte a Letícia!

Paulo A.
Paulo A.
3 horas atrás

Muito bonito e corajoso vê-la tentando, uma vez mais, realizar o seu sonho. Desejo muita sorte e ascensão no ranking a ela. E um bom patrocínio, claro!

Jornalista de TenisBrasil e frequentador dee Challengers e Futures. Já trabalhou para CBT, Revista Tênis e redações do Terra Magazine e Gazeta Esportiva. Neste blog, fala sobre o circuito juvenil e promessas do tênis nacional e internacional.
Jornalista de TenisBrasil e frequentador dee Challengers e Futures. Já trabalhou para CBT, Revista Tênis e redações do Terra Magazine e Gazeta Esportiva. Neste blog, fala sobre o circuito juvenil e promessas do tênis nacional e internacional.
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