João Fonseca perdeu para um grande sacador e, na quadra de grama, não há muito o que se fazer contra isso. O chileno Nicolas Jarry escapou de 0~40 no momento decisivo do quarto set e virou o tiebreak de 2-4 para 7-4 porque confiou muito mais no seu serviço do que o jovem carioca.
Se há algum senão sobre a atuação de Fonseca nesta dura partida, foi a instabilidade do primeiro set, talvez por conta do nervosismo tão natural. Isso prosseguiu até o começo do segundo set e determinou a quebra precoce que permitiria ao ex-16 do mundo abrir a expressiva vantagem.
Mas a partir do 12º game, quando escapou de break-point e evitou que o placar ficasse um pesadelo, a partida ficou muito igual. Cheio de confiança, Jarry só foi abrir uma fresta pouco antes da metade do terceiro set, seu único momento realmente abaixo, que culminou até em dupla falta no break-point.
Fonseca já era então outro jogador, efetivo no saque e de forma inteligente variando a posição de devolução de forma constante. Por ora se afastava muito para o segundo saque para entrar nos pontos, por outras ficava próximo da linha para tentar uma devolução agressiva. Ainda assim, Jarry se saía muito bem, optando muitas vezes pelo saque sobre o corpo, o que neutralizava a iniciativa.
Mas foi assim que veio aquele 0-4o que poderia determinar o quinto set, brilhantemente evitado por Jarry e seu bombástico serviço. João também fazia games rápidos, já disparava forehands devastadores e usava contragolpes de backhand magníficos. É fato que o chileno está longe de ser um tenista completo – o backhand foi mais sólido do que o habitual – e suas transições à rede e os voleios beiram o sofrível.
A última chance de Fonseca veio no tiebreak. Abriu 4-2 e essa deveria ser uma vantagem a não se desperdiçar contra um tremendo sacador. Mas faltou ao garoto brasileiro consistência e vieram falhas até em trocas de bola onde deveria prevalecer. Perdeu assim cinco pontos consecutivos. Não há o que discutir: o melhor tenista em quadra venceu. E é legal lembrarmos que o chileno sofreu muito no ano passado, quando foi diagnosticado com distúrbio no ouvido que o deixava com visão turva e tonturas.
O lado positivo é que João comprova ser um tenista muito bem talhado para a grama e com chance de campanhas relevantes assim que a experiência aumentar e houver um trabalho um pouco mais apurado no saque.
Paulo Cleto analisa os pontos altos e baixos da derrota de João Fonseca para Nicolas Jarry em Wimbledon. pic.twitter.com/Tr7MsYrlBC
— TenisBrasil (@sitetenisbrasil) July 4, 2025
Resumão
– Carlos Alcaraz precisou de seriedade contra Jan-Lennard Struff e foi divertido ver o alemão abusar do chip-and-charge para cortar o tempo do bicampeão. Agora, vem Andrey Rublev, que já ganhou do espanhol dentro de Madri e parece confortável sobre a grama.
– Taylor Fritz completou 14 sets na campanha, mas terá um dia importante de descanso para encarar as bolas retas de Jordan Thompson.
– Quem vencer, jogará contra Karen Khachanov ou Kamil Majchrzak. O russo foi levado ao quinto set por Nuno Borges e o polonês já tirou do caminho Berrettini e Rinderknech.
– Cameron Norrie se mantém como esperança da casa no masculino e será o adversário de Jarry no domingo. Os dois não se cruzam há sete anos. Observemos a postura de devoluções do canhoto.
– Ben Shelton gastou 70 segundos para fechar a partida e, que pena, não vai enfrentar Gael Monfils, que diz ter sentido a mudança de condições da quadra e perdeu o quinto set para Marton Fucsovics.
– O duelo entre Aryna Sabalenka e Emma Raducanu fez jus ao esperado: emoção, imprevisibilidade e muita participação da torcida. A britânica teve 4/2, salvou set set-points três games mais tarde e aí foi sua vez de sacar para fechar a série. Veio um set-point a seu favor no tiebreak, mas a número 1 deu show de variações. Raducanu ainda teve 4/1 no segundo set antes de Aryna reagir de novo.
– O histórico de confrontos dá amplo favoritismo de Sabalenka contra Elise Mertens, já que está 10 a 2, mas a belga foi muito bem contra Elina Svitolina.
– A vencedora vai pegar uma grande ‘zebra’: a ‘lucky-loser’ Solana Sierra, 21 anos e 101º do mundo, ou a veteraníssima Laura Siegemund, 37 anos. A argentina treina desde março na academia de Nadal, a alemã tirou Madison Keys e repete as oitavas de Paris de 2020.
– O outro quadrante também terá um duelo de cabeças, entre Amanda Anisimova e Linda Noskova, e de surpresas, com Sonay Kartal diante de Anastasia Pavlyuchenkova. A russa confessou odiar a grama e a Kartal, de 23 anos, supera a campanha do ano passado para alegria da casa.
– Rafael Matos e Marcelo Melo derrotaram os cabeças 8, Marcelo Demoliner e o argentino Andreozzi tiraram Fernando Romboli e o australiano Smith, e estão nas oitavas.
– Luísa Stefani também ganhou a segunda partida, num jogo bem difícil, e Bia Haddad precisou de três sets para enfim estrear ao lado de Siegemund.
Quando leio no post: “O chileno tem voleio e transição a rede sofríveis”, me lembro de Novak, um voleador dos piores do circuito.
Djokovic está anos-luz à frente do Jarry no jogo de rede.
Kkkkkkkk, na cara não.
Sim,ele sacou muito bem hj,mas nunca tinha passado para a 3ª rodada em Wimbledom antes,já é a melhor campanha dele na carreira
Na minha perspectiva o João fez um excelente jogo. Deve ter respeitado toda orientação que lhe foi dada em relação ao adversário. E fiel a isso ;e apesar do excelente saque do chileno ; ele foi respeitador demais à tática! Talvez aquele impulso “juvenil” de agredir mais o “ gigante” pudesse resultar! Mas sem duvidas nenhumas ele está conhecendo melhor o circuito e os jogadores! Hoje foi por detalhes , se faz a quebra no 0/40 do chileno no quarto set ; tudo poderia ser diferente;!Que bom poder torcer por ele!
Finalmente um comentário lúcido, caro Douglas . Com o teu, abro mão do meu rs. Quem acompanha, leu que puz Jarry como favorito , devido a ser grande Sacador e muito experiente. ABS !
Dalcim, ou a Solana Sierra joga muito ou eu não entendo nada de tênis, não é?
A grama é um piso muito diferenciado, Fábio. E conforme a chave, dá para ir longe.
Jarry me lembrou dos jogos de Wimbledon dos anos 90, decididos no saque. Alcaraz está muito instável, tenho minhas dúvidas se chega na final..deve cair na SF. Sabalenka ganhou, mas contou com a instabilidade da Radukanu. Na minha opinião, a final feminina terá uma zebra na final .
Legal ver o Paulo Cleto. Valeu, Dalcim
Sim. Os comentários dele sobre tênis é um deleite.
Conta o chileno faltou no meu ponto de vista abaixar mais a bola pois jogadores altos sofrem e também umas deixadinhas,tirando isso o João foi bem .
Dalcim ,alcaraz ao meu ver vem forte pro tricampeonato,o que você acha ?
Ele ainda não se soltou totalmente no torneio, mas talvez esteja guardando o máximo para a hora certa. É sem dúvida o favorito.
O Fonseca poderia ter vencido a partida. Méritos dele. O Tien foi completamente dominado pelo Jarry na rodada anterior, mas com o Fonseca foi outra história. Ao final, de tão difícil que foi esta vitória para o chileno, deu um forte abraço nos filhos, acredito que entregue ao choro. Cena bastante comovente.
Teve bom demais! O João vem ganhando mais experiência e a parte física, claro, melhorará com o tempo também, ingrediente necessário para os jogos de melhor de 5 sets. Parabéns João.
Excelente a análise do Paulo Cleto.