Não existe mais ‘bobo’ no tênis

Foto: FFT

A expressão vem do futebol: “não existe mais bobo”. É de um tempo em que diziam que os jogadores europeus “têm cintura dura” e eram fáceis de serem driblados pela excelência dos brasileiros. Mas os resultados em Copas e em outras competições internacionais deixam claro que tudo mudou. No tênis também diziam que os norte-americanos (e pode-se incluir ingleses) eram ‘patos’ no saibro: escorregavam e não deslizavam como se deve.

Com certeza os tempos mudaram. Roland Garros abre a segunda semana com excelentes atuações de norte-americanos. Tommy Paul chega a mais uma quartas de final de Grand Slam e tem enormes desafios pela frente, mas mostrou sua versatilidade chegando a essa fase da competição na Austrália e Wimbledon. Ben Shelton, apesar da esperada derrota para Carlos Alcaraz, arrancou um set do espanhol e deu um verdadeiro show na Philippe Chatrier. Frances Tiafoe também segue na parada, mas assim como Paul, com grandes obstáculos pela frente.

O mesmo pode-se dizer do inglês Jack Draper. Na excelente atuação diante de João Fonseca jogou com as características do saibro. Foi fiel à sua estratégia e mostrou que seu forehand também pode produzir muito giro na bola. Com esse golpe empurrou o brasileiro para trás neutralizando um possível ataque. É um jogador bem completo. Isso comprova o atual nível elevado do tênis profissional. Se a gente lembrar que antes de Andy Murray o britânico de destaque era Tim Henman, que obteve bons resultados na grama de Wimbledon, mas nem tanto no saibro. Até mesmo Pete Sampras, que chegou a ser apontado pela ATP como GOAT, em sua bela lista de troféus de Slam, jamais levantou a Taça dos Mosqueteiros, embora tenha ido bem em Roma, em um ano.

Certamente há muito tempo que o tênis alcançou um nível altíssimo. Mas, talvez, o forte domínio do Big 3 tenha disfarçado um pouco grandes valores. Hoje fica difícil dizer “este jogador é especialista em tal piso”. Todos praticamente são muito versáteis, o que deixa a modalidade ainda mais fascinante, seja lá onde estiver sendo disputada.

I HATE NIGHT SESSION – Quando surgiram as primeiras sessões noturnas na Europa apareceu também a expressão “I hate night sessions”, em especial ditas por jornalistas da América, como Chris Clarey, Mattew Cronin, Tom Tebbut e eu mesmo. Afinal, sempre éramos os últimos a deixar a sala de imprensa por causa do fuso horário. Com jogos até mais tarde, lógico, não se conseguia mais nenhum lugar para jantar ou mesmo transporte para o hotel.

Bem diferente do US Open, a sessão noturna de Roland Garros não me parece tão agradável e eletrizante como em Nova York. Em Paris, mesmo na Primavera, faz frio a noite. As arquibancadas não ficam cheias e muitos usam cobertores para se aquecer.

Na Europa existe uma condição de que um país rico não é aquele em que todos têm carros, mas sim em que se usa o transporte público. Com jogos até mais tarde, muitos abandonam o estádio antes de o jogo terminar para não perder o metrô. Em Nova York, o estacionamento fica lotado até a madrugada, assim como praticamente todos os assentos da Arthur Ashe, que vive sim uma festa nessas ocasiões. Enfim, só um comentário para quem planeja ver uma sessão noturna em Roland Garros e para quem eu aconselho, sim, a ver uma no US Open.

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Marco Aurelio
Marco Aurelio
3 dias atrás

Espero que nosso querido João Fonseca veja umas 03 vezes, e completamente, a partida Bublik 3×1 Jack Draper!!! E os comentaristas mais técnicos do mundo, para saber o que ele, nosso querido João Fonseca, deixou de fazer quando jogou com o Draper. Estimado Chiquinho, por gentileza, peço seus comentários. Afinal, o Draper não é nenhum bicho papão! Obrigado, Chiquinho!

Marco Aurelio
Marco Aurelio
3 dias atrás
Responder para  Chiquinho Leite Moreira

Como de hábito, estimado Chiquinho, você foi cirúrgico! Obrigado. É uma questão de tempo para nosso João Fonseca evoluir!!!

Isac Ribeiro Martins
Isac Ribeiro Martins
3 dias atrás

Chiquinho, boa tarde! É fato (e que bom que está acontecendo!) que a atual geração de jogadores está mais adaptada a diferentes pisos no circuito. Mas, isso também não tem a haver com os materiais usados nas quadras e nas bolinhas que deixam as condições de jogo mais próximas de um jogo de quadra dura?

Ronildo
Ronildo
3 dias atrás

É isso áí Chiquinho. Sempre com seus primororosos textos e ainda dando dicas super preciosas sobre o circuito!

walter alberto
walter alberto
3 dias atrás

“Grande” Chiquinho (eu sei, é um contrasenso). Vc novamente mostrando que ninguém mostra. Eu estava vendo Tsitsipas x Musetti 2m 2022 e entrando 23:00 hs, e não consegui ver a virada. Exatamente pela sua menção. Vc poderia ir pro streaming tbm, és um artista da bola escrita.

Maurício Luís Sabbag
Maurício Luís Sabbag
2 dias atrás

Muito bom, Chiquinho! Acho que seu blog deveria se chamar ” Tênis além do óbvio”.
Você mostra todos os lados do prisma.

Fonseca
Fonseca
16 horas atrás

Chiquinho, fui ao US Open de metrô e voltei da sessão noturna em segurança depois de todos os jogos terminarem. Se em RG é necessário sair antes porque o metrô fecha, isto é falta de organização de Paris. Moro no Rio, em Copacabana, onde acontecem shows gratuitos para multidões que voltam para casa de metrô. Significa que Rio de Janeiro e New York são mais organizadas que Paris?

Jornalista especializado em tênis, com larga participação em diversos órgãos de divulgação, como TV Globo, SporTV, Grupo Bandeirantes de Comunicações e o jornal Estado de S. Paulo. Revela sua experiência com histórias de bastidores dos principais torneios mundiais. Já cobriu mais de 70 Grand Slams: 30 em Roland Garros; 21, no US Open; 18 em Wimbledon; e 5 no Australian Open.
Jornalista especializado em tênis, com larga participação em diversos órgãos de divulgação, como TV Globo, SporTV, Grupo Bandeirantes de Comunicações e o jornal Estado de S. Paulo. Revela sua experiência com histórias de bastidores dos principais torneios mundiais. Já cobriu mais de 70 Grand Slams: 30 em Roland Garros; 21, no US Open; 18 em Wimbledon; e 5 no Australian Open.
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