Wimbledon para nós. The Championships para os britânicos.

Quadra 1 (em primeiro plano) e Central (Foto: AELTC/ Joe Toth)

Londres (Inglaterra) – O torneio de Wimbledon, que realiza sua 148ª edição, preza por suas tradições, regras que estão escritas, como o uso de roupa branca, e outras seguidas, como parte das características profundamente britânicas.

O evento que acontece todos os anos na zona sul de Londres é uma instituição totalmente britânica, com imagens características, como os morangos com creme, o coquetel de Pimm’s, as cores verde e roxo do All England Club e seus jardins impecáveis.

“Wimbledon é um sinal marcante do verão britânico — “a Estação”, como dizem os londrinos, marcada pela Exposição de Flores de Chelsea, as corridas de cavalo, as regatas e, claro, Wimbledon, cujas regras e etiqueta são importantes, tanto em termos de comportamento, quanto de vestimenta. Em outras palavras, estas regras não declaradas determinam o que os espectadores devem vestir e fazer, para não ficarem fora de sintonia com os demais”, escreve a jornalista Ellie Violet Bramley, para a BBC Culture.

Para início de conversa, não chame o torneio de Wimbledon, como orienta a autointitulada rainha da etiqueta, Laura Windsor. Ela atuou como consultora da série de TV Bridgerton. “Na verdade, quando alguém se refere a Wimbledon, deve dizer ‘os Championships’ (os torneios), já que eles são os torneios de tênis de grama mais antigos e conceituados do mundo”, segundo Windsor.

Windsor conta à BBC que o público deve se comportar “despretensiosamente … é a nossa identidade britânica, certo? Somos formais e corretos.” Mas o que isso quer dizer? Primeiramente, é preciso evitar muitos dos comportamentos comuns em outros eventos esportivos e se comportar de forma mais adequada a uma visita ao teatro. Deve-se falar em voz baixa e sem estender ‘paus de selfie’, que foram proibidos no torneio em 2015.

 

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Segundo o instrutor de etiqueta William Hanson, “as pessoas adoram o lado social de Wimbledon, mas vale lembrar que este é um evento esportivo ao qual se assiste sentado, com regras próprias ao lado das quadras. Seja pontual e chegue ao seu assento com antecedência. Respeite o fato de que você só pode ir e vir nos intervalos.”

É claro que os celulares devem ficar em modo silencioso. E Hanson também orienta como tratar os jogadores e autoridades na quadra. “Seja esportista ao torcer e nunca comemore eventuais erros. Respeite o silêncio durante a partida e guarde as palmas e incentivos para os momentos entre cada ponto. Evite perturbar os jogadores chamando por eles e lembre-se de que a decisão do árbitro é final — nunca interrompa, nem questione os juízes de linha”, afirma.

Além disso, “contenha-se”, orienta ele. “Preste atenção nas pessoas sentadas à sua volta e permaneça no espaço da sua cadeira. Mesmo se for pequeno, tente não se esparramar acidentalmente para o espaço pessoal de outro espectador.” E se bater a vontade de comer um sanduíche, “evite fazer ruído com os papéis”.

É claro que as regras também incluem a vestimenta. Wimbledon não mantém um código de vestimenta definido para o público, mas é recomendável usar traje formal, especialmente nas quadras principais. E certos itens são proibidos, como jeans rasgados, calçados sujos e roupas com frases de teor político. “Use roupas confortáveis e adequadas para o clima”, orienta Hanson, “mas evite tudo o que for casual demais ou melhor para usar na praia.”

Foto: Site de Wimbledon
Código de vestimenta não oficial

Extraoficialmente, Wimbledon criou e desenvolveu seu próprio código de normas de vestimenta. Uma prova dessas regras não declaradas, mas ainda palpáveis, foram as críticas enfrentadas por Meghan Markle, duquesa de Sussex, por ter usado jeans, chapéu e blazer, para assistir à partida da sua amiga, a americana Serena Williams, em 2019.

Daniel-Yaw Miller é jornalista especializado em esportes e moda. Ele é o criador do boletim SportsVerse. Para ele, “quando se pensa em roupas para usar em Wimbledon, todos têm a mesma ideia em mente — branco ou bege. Você usa um blazer, você pode usar um chapéu.”

“As espectadoras costumam preferir vestidos florais, com bolinhas e roupas individualizadas. E, por osmose, parece ter surgido um código de vestimenta”, diz Ellie Violet Bramley, no artigo para a BBC Culture .

Windsor orienta que se vestir adequadamente significa usar “algo que seja modesto e sofisticado”, como roupas sob medida e de puro linho. Hanson, por sua vez, destaca que “é melhor evitar chapéus de abas largas, que podem ficar na frente das pessoas sentadas atrás de você”.

Ainda assim, os chapéus panamá são uma espécie de uniforme oficial de Wimbledon. Eles são populares no torneio desde o início do século 20.

Ao longo dos anos, diversas celebridades ofereceram exemplos notórios de “aces” do vestuário na Quadra Central. A atriz Zendaya deu uma aula aos espectadores de Wimbledon no ano passado. Ela vestiu um modelo de Ralph Lauren inspirado em roupas masculinas: terno de tweed em estilo antigo, camisa azul e branca listrada e gravata.

Outros sucessos incluem Meghan Markle de camisa branca e pregas perfeitas; Keira Knightley, com um vestido Chanel de cintura baixa; Tom Cruise, com elegantes ternos, ano após ano; a apresentadora e modelo britânica Alexa Chung, com casaco de tricô e camisas de popeline de algodão; e Pierce Brosnan, com terno de linho azul-marinho e bolsos quadrados bem definidos.

A princesa de Gales, Kate Middleton, é a patrona do All England Lawn Tennis Club. Ela costuma usar verde ou roxo, que são as cores oficiais do torneio desde 1909. A presença da realeza todos os anos destaca a tradição do evento. O tênis, há muito tempo, é associado à riqueza, status e glamour.

Princesa de Gales, Kate Middleton (Foto: AELTC/Bob Martin))

“O tênis era esse jogo social, da elite e glamouroso”, afirma Elizabeth Wilson, autora do livro Love Game: A History of Tennis, from Victorian Pastime to Global Phenomenon (“O jogo do amor: uma história do tênis, do passatempo vitoriano até o fenômeno global”, em tradução livre). O ambiente original do esporte era a casa de campo.

“Ele é, sem dúvida, um esporte tradicionalmente da classe alta e esta essência ainda permeia muito o tênis”, explica Miller. Ele compara o esporte com o críquete ou as corridas de cavalos em Ascot, “onde você precisa respeitar muito as regras, como se fosse um estranho que acaba de chegar”.

Mesmo entre os torneios de tênis, Wimbledon é fora do padrão. “Você observa os outros Grand Slam, é o extremo oposto”, segundo Miller: música de saída da quadra, jogadores dançando quando saem, câmera do beijo, venda de cachorros-quentes e canhões de bolas, por exemplo.

Para Miller, Wimbledon é “um dos últimos bastiões da antiga cultura britânica no cenário popular”. E, para alguns, suas características arcaicas fazem parte do seu charme e atração.

Mas, ao longo dos anos, os códigos de Wimbledon estão mudando. Elizabeth Wilson acredita que, de muitas formas, agora “é mais participativo”. Agora, as multidões gritam, pelo menos entre cada ponto, e até participam ocasionalmente de uma ola.

Daniel-Yaw Miller, jornalista especializado em esportes e moda, compareceu ao evento no ano passado e notou uma experiência “um pouco mais moderna”. Ele conta que sentiu que o torneio está “ficando mais descontraído, apenas um pouquinho”. Também em relação às roupas, o comportamento está mudando, com vários exemplos como David Beckham de pessoas que sabem se vestir adequadamente para Wimbledon, sem parecer que estão presas ao passado.

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