PLACAR

Wimbledon revela seus fascínios e peculiaridades

Foto: AELTC

Nunca é demais lembrar que a grama dominou os principais torneios do mundo por um período, com três dos quatros Slam sendo jogados nessa superfície. Apenas Wimbledon segue fiel à tradição, enquanto o US Open já trocou de piso e de sede, assim como o Australian Open. Roland Garros ao longo de toda sua história sempre foi jogado no saibro.

Apesar do então domínio, atualmente a temporada de grama é a mais curta do circuito internacional, mas engana-se quem afirma que está menor a cada ano. Muito pelo contrário, em 2017 passou de quatro para cinco semanas, com Wimbledon dando um prazo extra para os tenistas fazerem a adaptação do saibro de Paris para a grama.

É curioso que o mais tradicional torneio do planeta, que ainda exige o branco como roupa predominante e foi o último evento a aceitar as bolinhas amarelas – no lugar das brancas – tenha cedido à pressão para mudar de data. Por diversas oportunidades Wimbledon foi disputado concomitantemente com a Copa do Mundo de futebol. Lembro que nestes períodos a recomendação era de que os televisores – instalados nas mesas dos jornalistas – ficassem ligados apenas no tênis, mas com alguns gritos de gols e outras manifestações estava claro que muitos não seguiam as instruções. Em 1998, por exemplo, a França vivia a euforia do Mundial, enquanto em Londres a francesa Nathalie Tauziat fazia a final feminina diante de Jana Novotna.

Por força da tradição e conservadorismo, Wimbledon segue como um dos piores sistemas de venda de ingressos. É o mais complicado dos Slam para se conseguir entradas. Isso acabou criando um costume típico. Como a organização coloca à venda diariamente cerca de 500 ingressos para algumas quadras, outros poucos para a Central e muitos para os grounds, tornou-se hábito as filas overnight.

Por volta das 20 horas centenas de barracas começam a ser armadas no Wimbledon Park, do outro lado da calçada do All England Club, e o pessoal passa a noite à espera da abertura das bilheterias. Isso acontece por volta das 6 da manhã, quando os chamados stewarts distribuem pulseirinhas para não causar confusão na hora da compra. Além de passar à noite ao relento, os fanáticos há alguns anos têm de cumprir regras. As barracas jamais podem estar sem um representante, é proibido música, barulho e ficar bêbado.

Imagine passar a noite à espera de ver jogos de tênis e o dia amanhecer chovendo. E se o tempo ruim persistir e seu ingresso não é para nenhuma das duas quadras cobertas, como a Central e a 1. Talvez por isso (contém ironia) uma das maiores tradições dos grounds do All England Club, os morangos com chantilly, tenha perdido a primeira colocação no consumo para um bebida típica: o Pimm’s Cup, um drink a base de gin e limonada.

O fascínio de Wimbledon é tão grande que vale a pena a experiência de ir ao torneio, por pior que seja a experiência. Muitos se contentam em apenas sentir a atmosfera da centenária competição. Assim, um dos lugares mais concorridos passou a ser a Henman Hill. É uma pequena colina que se formou nos tempos da construção da quadra 1, onde um super telão mostra o que está acontecendo nos principais palcos.

Enfim, há muito mais envolvido num torneio de Grand Slam. São competições centenárias, diferentes, com muita história e cada um com suas características. Para mim é a alma do tênis. embora é claro que também goste de praticamente todas as competições do que hoje pode ser chamado na plenitude de o ‘esporte da bolinha amarela’.

 

 

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André Aguiar
André Aguiar
1 dia atrás

Há uns 15 anos cumpri todo o ritual analógico/anacrônico da compra de ingresso à distância. O primeiro passo foi escrever de próprio punho uma carta para o AELTC manifestando interesse em comparecer. Algumas semanas depois recebi pelo correio um belo envelope timbrado contendo um formulário para ser preenchido à caneta preta (já permitiam esferográfica) e sem nenhuma rasura. Novo envio pelo correio. Daí a mais algumas semanas recebi outra carta do egrégio clube informando que ganhara, por sorteio, o direito de comprar dois ingressos na Centre Court para um determinado dia. Comemorei, mas infelizmente acabei não podendo ir por razões profissionais. Nunca mais tentei. Imagino que hoje já permitam datilografar o formulário com uma moderna Smith-Corona.

Jornalista especializado em tênis, com larga participação em diversos órgãos de divulgação, como TV Globo, SporTV, Grupo Bandeirantes de Comunicações e o jornal Estado de S. Paulo. Revela sua experiência com histórias de bastidores dos principais torneios mundiais. Já cobriu mais de 70 Grand Slams: 30 em Roland Garros; 21, no US Open; 18 em Wimbledon; e 5 no Australian Open.
Jornalista especializado em tênis, com larga participação em diversos órgãos de divulgação, como TV Globo, SporTV, Grupo Bandeirantes de Comunicações e o jornal Estado de S. Paulo. Revela sua experiência com histórias de bastidores dos principais torneios mundiais. Já cobriu mais de 70 Grand Slams: 30 em Roland Garros; 21, no US Open; 18 em Wimbledon; e 5 no Australian Open.

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