por Mário Sérgio Cruz
A número 5 do mundo Elena Rybakina criticou a aplicação de uma regra da WTA para a formação da chave em Tóquio, os chamados ‘bye por performance’, que premiam as jogadoras que foram bem em torneios de nível 1000 da semana anterior com vaga direta na segunda rodada dos eventos da semana seguinte. Rybakina se sentiu prejudicada e criticou a decisão, mas a situação é prevista no regulamento e aplicada no circuito desde 2009.
A regra surgiu como uma solução para equacionar o tamanho das chaves e o número de datas disponíveis para cada torneio, evitando que uma jogadora tivesse que disputar a final de um torneio forte e a primeira rodada de outro em dias consecutivos, com pouco tempo de deslocamento e adaptação entre uma competição e outra.
Originalmente, ela era aplicada em dois momentos na temporada, entre Roma e Madri no primeiro semestre, e entre Tóquio (entre 2009 e 2013) ou Wuhan (entre 2013 e 2019) e Pequim. A situação com relação ao saibro europeu parou de ser aplicada ainda em 2011, após reorganização no número de jogadoras nas chaves e de datas nos torneios, mas persiste até hoje nos torneios asiáticos e está prevista para ser usada também na semana que vem. É a primeira vez que é utilizada este ano, mas o site da WTA já havia divulgado informação ao público com antecedência.
Nos últimos anos, a data que era de Wuhan ficou com Guadalajara, no México, que recebeu um WTA 1000 na semana passada com título de Maria Sakkari, vice de Caroline Dolehide e semifinais para Caroline Garcia e Martina Trevisan. Já nesta semana em Tóquio, a número 6 do ranking Sakkari e a décima colocada Garcia entram direto na segunda rodada, enquanto Rybakina teria que jogar uma primeira rodada. A decisão foi contestada pela cazaque e por sua equipe nas redes sociais.
“Performance bye… Obrigada por mudarem as regras de última hora. Grande decisão, como sempre, da WTA”, escreveu Rybakina no Instagram. Ela se retirou no torneio em Tóquio, por motivo de doença, e afirmou que a desistência ocorreu exclusivamente por razões médicas: “Quero dar o meu melhor em quadra e no momento meu corpo não está pronto. Por isso decidi ouvir o meu corpo e me retirar do torneio. A respeito da WTA, é outro assunto, que tenho minhas opiniões e vou me expressar de forma mais clara no futuro”.
Técnico da tenista, Stefano Vukov também criticou a regra: “Não temos nenhuma explicação sobre o que é um ‘performance bye’. O que isso significa? Eles estão dando bye para ajudar quem teve boa performance ou não vão mais considerar o ranking para conceder o bye? O ranking em si não é um sinal de performance? Ano passado, nós viemos de uma final na Europa (o WTA 250 de Portoroz) e jogamos em Tóquio dois dias depois e não recebemos nenhum bye na primeira rodada. O problema de sempre é a falta de comunicação. Isso também vai se aplicar do 500 de Tóquio para o 1000 de Pequim na semana que vem”.
Com Rybakina já classificada para o WTA Finals, Vukov também questiona a necessidade de a jogadora se manter em atividade nas próximas semanas: “A maioria das tenistas do Finals já está classificada, não há razão para elas jogarem antes de Cancun. Elas só jogam porque a maioria dos torneios são obrigatórios e as tenistas são multadas se não competirem. O sistema não funciona e as jogadoras sofrem as consequências. Todas as jogadoras precisam saber o que está acontecendo”, acrescentou o técnico.
Vukov também marcou na publicação a PTPA, associação de tenistas que é independente da ATP e da WTA e tem a liderança de Novak Djokovic. O comitê de atletas tem como representantes do tênis feminino Ons Jabeur, Paula Badosa, Bethanie Mattek-Sands e Saisai Zheng.
Número 1, Serena já ficou sem ‘bye’, enquanto Venus avançou direto
Um caso bastante lembrando aconteceu em 2013 com as irmãs Venus e Serena Williams em Pequim. Na ocasião, Serena era a número 1 do mundo, enquanto Venus ocupava apenas o 63º lugar do ranking. A caçula das Williams não atuou em Tóquio, na semana anterior, e teve que jogar a primeira rodada contra a russa Elena Vesnina.
Já Venus vinha de uma campanha até a semifinal na capital japonesa, o que rendeu à ela um salto para o 38º lugar. Mesmo sem ser cabeça de chave em Pequim, ela ganhou um ‘bye por performance’ e entrou direto na segunda rodada, diante da alemã Sabine Lisicki. Também na chave de 2013 em Pequim, Petra Kvitova, Caroline Wozniacki e Angelique Kerber foram beneficiadas pelo mesmo regulamento e não precisaram jogar a primeira rodada, diferente de Serena e da então número 2 do mundo Victoria Azarenka.
Uma aplicação mais recente dessa regra aconteceu em 2019, quando a final de Wuhan envolveu Aryna Sabalenka, então 14ª do ranking, e Alison Riske, que ocupava o 35º lugar. Sabalenka foi campeã do torneio e seria apenas a cabeça 12 em Pequim, mas entrou já na segunda rodada na capital chinesa, contra Daria Kasatkina. Riske, que nem era cabeça de chave, também não precisou jogar a estreia e enfrentou Ajla Tomljanovic. Já as cabeças 2 e 3 do torneio, Karolina Pliskova e Elina Svitolina jogaram normalmente a primeira fase.