PLACAR

O ‘efeito Coco’ para a nova geração de fãs

A conquista do primeiro Grand Slam de Coco Gauff era um dos momentos mais esperados por toda a comunidade do tênis, ainda mais no US Open, jogando em casa e com apoio maciço da torcida no Arthur Ashe Stadium. A menina que convivia com expectativas e comparações com as irmãs Williams desde os 13 anos, quando chegou à final do do US Open juvenil, e que se colocou nos grandes palcos aos 15, vencendo a própria Venus em Wimbledon, é uma ‘veterana’ de apenas 19 anos e preparada para grandes momentos.

A consagração em Nova York fechou um mês em que Gauff foi conquistando troféus cada vez maiores. Até o dia 6 de agosto, a jovem tenista tinha apenas três títulos de WTA 250 em simples. Ela vinha de uma queda na primeira rodada em Wimbledon e de mudanças recentes na equipe. Chegaram o técnico espanhol Pere Riba e o consultor Brad Gilbert, que já trabalhou com nomes Andre Agassi e Andy Roddick.

Uma das principais mudanças em seu jogo foi no forehand. E hoje ela tem mais confiança para executar o golpe e tê-lo como uma arma mais efetiva de definição dos pontos, característica destacada por ela, pelos técnicos e até pelas adversárias. Desde então, conquistou o WTA 500 de Washington, o WTA 1000 de Cincinnati e finalmente o US Open. São 12 vitórias seguidas, com 18 triunfos nos últimos 19 jogos.

Desde muito cedo, Gauff sempre buscou evoluir e corrigir vulnerabilidades de seu jogo. Ela já havia falado sobre isso em entrevista a TenisBrasil no ano de 2021 em Roland Garros, quando já sentia que seu jogo estava sendo mais estudado pelas adversárias. “Depois de estar no circuito por um tempo, obviamente elas podem assistir mais partidas minhas e entender como eu jogo, e eu percebi isso. Durante o período de pré-temporada, trabalhei nas minhas fraquezas. Sinto que agora eu melhorei bastante naqueles que eram os meus pontos fracos, então não dou às minhas adversárias uma resposta ou uma saída fácil na quadra. Então eu comecei a sentir que esses são pontos fortes para mim agora”.

Voltando a 2023 e solução dos problemas com o forehand, a norte-americana explicou a importância de Riba e Gilbert nesse fundamento na coletiva de imprensa após a vitória sobre Caroline Wozniacki nas oitavas. “São duas gerações diferentes. Mas acho que ambos formam uma boa dupla. Para ser sincera, eu estava preocupada em trabalhar com uma pessoa mais velha antes de conhecer Brad. Ele é mais velho, mas ainda tem a mente de um garoto de 20 anos, talvez até mais novo. Às vezes de um garoto de 10 anos”.

“Acho que ele trouxe muito para mim. O trabalho de estatísticas eu acho incrível. Ele conhece basicamente todas as jogadoras, provavelmente apenas pelos comentários, já sabem como enfrentá-las. Acho que os relatórios são bastante precisos. Mas às vezes, você tem que mudar as coisas. Também com Pere, que para mim é quem tem tem feito mais coisas do dia a dia. Brad nem sempre consegue estar presente, porque também trabalha na ESPN e tudo mais. Ele tem me ajudado muito só na movimentação e nas tomadas de decisões. Acho que os dois trabalham juntos.

Recado para quem não acreditava

Na cerimônia de premiação, Gauff deu o recado até para os críticos e ‘haters’. Agradeceu até quem não acreditava nela, que achavam que ela tinha batido no teto quando nas conquistas de Washington e Cincinnati. “Para quem achava que colocava água nesse meu fogo, na verdade colocaram gasolina”. Ela reforçou o tema na entrevista coletiva: “Depois da derrota em Wimbledon, eu apenas senti que as pessoas diziam: ‘Ah, ela atingiu seu pico e pronto’. Eu vejo os comentários. As pessoas acham não, mas eu vejo. Estou muito ciente do que falam sobre mim no Twitter. Eu sei os nomes de usuário de vocês, então sei quem está falando besteira. Mal posso esperar para dar uma olhada no Twitter agora. (risos)

“No começo, eu pensava coisas negativas, em por que há tanta pressão e blá, blá, blá. De certa forma é uma pressão, mas não é real. Quero dizer, há pessoas que lutam todos os dias para alimentar as suas famílias, pessoas que não sabem de onde virá a próxima refeição, pessoas que têm de pagar as suas contas. Isso é pressão real, é dificuldade real, é vida real. Eu estou numa posição muito privilegiada, sou paga para fazer o que amo e recebo apoio para isso. Eu não deveria pensar tanto nos resultados. Eu simplesmente tenho uma vida de sorte, então devo aproveitá-la. Isso me ajudou a perceber o quão grata e abençoada eu sou”.

Legado das irmãs Williams no US Open
A conquista de Coco Gauff é ainda mais simbólica por ter sido apenas um ano depois da despedida de Serena Williams do circuito profissional, ajudando a manter a comunidade negra nos EUA, as mulheres principalmente, envolvida com o tênis. Ao longo de duas décadas, o ambiente no estádio em dias de jogos das irmãs Williams sempre mais diverso em um esporte ainda muito caro e pouco acessível. E Coco ajuda a fomentar uma segunda geração de fãs, que nos últimos anos também acompanharam a final entre Sloane Stephens e Madison Keys em 2017 e o bicampeonato de Naomi Osaka em 2018 e 2020. Como relatou o repórter André Galindo, do SporTV, muitos funcionários do café, da segurança, da limpeza do Arthur Ashe Stadium param para ver Gauff em quadra na final: ‘Ela é uma de nós’.

 

Na coletiva, Gauff falou sobre o desejo de manter o legado das Williams e citou também as campeãs do passado, como Althea Gibson, e do presente, como Stephens e Osaka. “Elas são a razão pela qual tenho este troféu hoje, para ser sincera. Elas me permitiram acreditar nesse sonho, enquanto crescia. Não havia muitas tenistas negras dominando o esporte. Foi literalmente, naquela época, quando eu era mais jovem. Obviamente, mais jogadoras vieram por causa desse legado. Então, isso tornou o sonho mais verossímil. Mas todas as coisas pelas quais elas tiveram que passar tornaram mais fácil para alguém como eu fazer isso”.

“Quero dizer, você olha para trás e vê a história de Indian Wells com a Serena e tudo o que ela teve que passar, ou Venus lutando por premiações iguais. É uma loucura e é uma honra estar na mesma frase que Althea Gibson, Serena, Venus, Naomi e Sloane. Elas abriram o caminho para eu estar aqui. Lembro-me de Sloane ganhando este troféu em 2017. Eu estava jogando o juvenil e foi um momento inspirador para mim vê-la vencer porque cresci assistindo ela e conheço a Sloane desde os 10 anos de idade. E obviamente, Serena e Venus, palavras não podem descrever o que significaram para mim. Espero ser a continuação de um legado. Espero que outra garota possa ver isso e acreditar que pode fazer isso e que seu nome também possa estar neste troféu”.

Jornalista de TenisBrasil e frequentador dee Challengers e Futures. Já trabalhou para CBT, Revista Tênis e redações do Terra Magazine e Gazeta Esportiva. Neste blog, fala sobre o circuito juvenil e promessas do tênis nacional e internacional.
Jornalista de TenisBrasil e frequentador dee Challengers e Futures. Já trabalhou para CBT, Revista Tênis e redações do Terra Magazine e Gazeta Esportiva. Neste blog, fala sobre o circuito juvenil e promessas do tênis nacional e internacional.

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