Os organizadores do Australian Open capricharam na programação do segundo dia de jogos, que dá sequência à primeira rodada das chaves de simples. Colocaram nada menos que cinco fortíssimos candidatos ao título para estrear, o que vai exigir ginástica para quem quiser ver como irão começar a temporada nomes como Jannik Sinner e Carlos Alcaraz, se Novak Djokovic reagirá do resultado fraco em Brisbane e se Iga Swiatek e Coco Gauff manterão o ótimo início que tiveram na United Cup.
A longa jornada começa na noite deste domingo, com as estreias de Thiago Wild, Gauff e Swiatek. O brasileiro faz seu primeiro jogo da temporada contra o bom húngaro Fabian Marozsan, que está 19 posições à frente do paranaense no ranking, disputa seu sétimo Slam e ganhou duas partidas no Australian Open do ano passado. Gauff faz duelo de campeãs de Slam contra Sofia Kenin, que ainda não recuperou seu melhor tênis porém ganhou duas das três partidas contra Coco, em Wimbledon de 2023 e na Austrália de 2020, justamente quando levou o título. Swiatek jogou muito bem na United Cup, buscando maior agressividade, e faz confronto inédito contra a ótima duplista Katerina Siniakova, que é também top 50 de simples. Polonesa não deve ter trabalho.
Quem quiser ver os três grandes nomes da chave masculina, terá de encarar madrugada ou levantar muito cedo. Sinner inicia a defesa do título à meia-noite contra o experiente chileno Nicolás Jarry, que semanas atrás tirou um set do número 1 em Pequim, sempre na base do saque e forehand forçados ao máximo. Com provável início às 5h da segunda-feira, Alcaraz encara o 72ª do mundo Alexander Shevchenko com o maior favoritismo da rodada nas bolsas de apostas – o cazaque paga 29 vezes mais – e o decacampeão tem jogo curioso contra o quali Nishesh Basavareddy, americano de 19 anos que confessou ser fã de carteirinha do sérvio, a ponto de usar a foto de Nole como avatar quando criança.
Se alguém ainda tiver fôlego ou muito café na garrafa, pode dar uma espiada no curioso reencontro entre os veteranos Grigor Dimitrov e Fabio Fognini, previsto para as 2 da manhã, rivalidade que começou há exatos 12 anos e tem placar de 5 a 2 para o búlgaro. Também vale sapear o jogo que encerra o dia entre a bicampeã Naomi Osaka e a imprevisível Caroline Garcia, que ganhou dois dos três confrontos do ano passado, um deles justamente no Melbourne Park. Promete emoção.
Primeira chance escapou
Faltou apenas um ponto para Thiago Monteiro causar a primeira surpresa brasileira neste Australian Open. Teve duas chances de derrotar o ex-top 4 Kei Nishikori, sempre competente na quadra dura e jogos longos, ainda no terceiro set. Até então o canhoto cearense fazia uma exibição muito decente, forçando saque o tempo todo, principalmente pelo lado direito do japonês, e aproveitando qualquer bola menos profunda para disparar calibradíssimos forehands. Até o backhand estava sólido, com variações de slice. Nishikori a certa altura se obrigou a fazer saque-voleio para tentar surpreender o brasileiro.
Monteiro não tinha muito o que fazer nos dois match-points, méritos totais de Nishikori, que sacou bem. Aliás, ele vinha jogando em bom nível o tempo todo. A falha mesmo aconteceu no game seguinte, em que pela primeira vez Ceará se mostrou afoito, perdeu a precisão no saque, incluindo dupla falta, e aí entrou em cena a famosa gangorra do tênis. Um duvida, o outro cresce. Kei passou a disparar paralelas e ganhou confiança num passe de mágica. Marcou a virada com margem clara nos dois sets seguintes, quando Thiago passou também a sentir o físico.
O jejum de vitórias em Slam segue, agora com nove tentativas frustradas seguidas. Monteiro porém mostrou qualidade de sobra para voltar logo ao top 100. Retorna ao Brasil direto para o saibro, onde disputará dois challengers e tentará vagas nos ATPs de Buenos Aires, Rio e Santiago.
Resumão
– Alexander Zverev se mostrou firme na estreia contra Lucas Pouille, com disposição de ir à rede. Dos 40 winners, 17 foram de ace.
– Casper Ruud não passou susto real, mas foi bem irregular contra o amigo e parceiro de treinos Jaume Munar, ainda que tenha feito 48 winners nos 5 sets.
– Tênis francês começa com quatro vitórias, incluindo viradas de Arthur Fils e Quentin Halys e uma partida de três sets duros de Ugo Humbert.
– Reilly Opelka cravou 38 aces, alguns a 220 km/h, e agora tem jogo interessante contra Tomas Machac.
– Aryna Sabalenka não deu bola para Sloane Stephens e Qinwen Zheng começou a temporada com um primeiro set apertado antes de se soltar contra quali romena.
Saiba que…
– Iga tem o maior sucesso em primeira rodada de Slam do tênis feminino atual, tendo passado 22 de 23 estreias. Keys vem atrás, com 40 em 45.
– A local Emerson Jones é a tenista mais jovem do torneio, com 16 anos e 203 dias. Mirra, aos 17 anos e 272 dias, é a mais jovem entre as cabeças. Entre os homens, a marca pertence ao carioca João Fonseca, aos 18 anos e 158 dias.
– São 19 norte-americanas na chave feminina, muito acima das 7 chinesas e seis australianas.
– De todos os 128 participantes da chave masculina, apenas três venceram em Melbourne: Sinner, Djokovic e Wawrinka e outros dois fizeram final (Medvedev e Tsitsipas).
– Ao mesmo tempo, sete nomes já fizeram finais de Slam e nunca levaram título: Zverev, Fritz, Ruud, Tsitsipas, Berrettini, Kyrgios e Nishikori.
– Aos 39 anos e 304 dias, Wawrinka é o tenista de maior idade no torneio, onde foi campeão em 2014.
Muito estranho e esquisito a Iga Swiatek, que junto com Aryna Sabalenka são as maiores estrelas da WTA, ter que jogar na terceira quadra do complexo, contra a número um das duplas e top 50 das simples, Katerine Siniakova.
Não tem sentido.
Fico triste em dizer isso, mas ficará difícil nosso querido João Fonseca passar por um Rublev recuperado mentalmente, como parece que o Russo está . Enfim, vamos torcer pelo nosso Big J!!!
Dalcim, ótimo comentário sobre o jogo do Monteiro.
Será que ele recebe convite pro Rio Open?
Acho que merece.
Eu apostaria que sim
Nenhum torneio de ATP no Brasil estaria completo sem o João e os Thiagos!
Fui procurar assistir a partir do 3° set, mas não consegui achar um site internacional que funcionasse.
Tbm ainda não consegui ver o HL do jogo. Na ATP não tem vídeo nenhum. Tem que ser o site do AS Open. Gosto de ver no laptop.
O site da Disney tem o jogo na íntegra.
Que pena a derrota do Monteiro. Ele jogou muito, mas não soube lidar com a derrota no 3 set. Aí foi perdendo força. Agora é torcer pro Fonseca, que terá um adversário difícil demais. Pra cima, Fonseca!!!
Acrescento ainda mais uma partida que deve ser bem interessante: Tsitsipas x Michelsen. Será que o next gen vai derrubar o grego já na primeira rodada? Será que o grego vai perder a cabeça se começar a entrar em desvantagem?
Oi Ricardo! Na semana passada, o Michelsen nao passou pelo jovem adversario do Djoko. Bem interessante ver como ele vai se sair ai.
Será bem interessante o jogo mental que Alcaraz, agora e finalmente concentradíssimo em tênis, e Sinner, farão à medida que vão tentar tratorar os adversários para mostrarem que estão afiadíssimos e prontos para a grande final.
Sobre o teu comentário de que Alcaraz virou a página e começa uma nova etapa na carreira agora que “acabaram-se todos os resquícios de adolescência”, penso que a falta de maturidade dele ainda continuará sendo seu maior empecilho diante de alguns desafios. Embora seja quase dois anos mais velho, Sinner, aos 21 anos, já tinha dado mostras de ser bem mais maduro que o espanhol.
Torço para que ele evolua, mas a vaidade e a arrogância acentuadas, típicas dessa imaturidade, ainda são traços marcantes de sua personalidade. E mesmo com o passar da idade, cada novo grande êxito parece aguçar ainda mais essas características. Um abraço!
Verdade Neri. Ele se estabeleceu no circuito ouvindo que era o substituto do Big Four.