Jannik Sinner foi avassalador no ATP Finals. Em sua segunda chance consecutiva de ganhar um troféu inédito dentro de casa, o homem que coloriu as arquibancadas do circuito de laranja-cenoura foi senhor absoluto de seus golpes e de seus nervos. Taylor Fritz fez o que pôde, mas não tirou um único game a mais do que havia obtido poucos dias atrás na fase classificatória e deixa clara a distância ainda expressiva que está para o número 1 inconteste do ranking, como ocorrera na final do US Open. Sinner é o primeiro campeão do Finals sem perder set desde Ivan Lendl, em 1986. Muito tempo.
O garoto de 23 anos só cresceu de qualidade ao longo da temporada 2024 e, mesmo sob a polêmica do doping, raramente perdeu qualidade. Ao contrário, mostrou-se fisicamente mais forte, a ponto de virar a final do Australian Open e ganhar seu primeiro Grand Slam, algo que reputo fundamental para o que aconteceu dali em diante. Confiante, também passou a mostrar maior variedade nos golpes, ainda que a consistência da base permaneça o carro-chefe. E isso é tudo, ainda mais com o progresso evidente do saque, que vence pontos ou deixa a segunda bola à disposição.
O italiano encerra sua incrível temporada com 70 vitórias e apenas seis derrotas, três delas para Carlos Alcaraz – o único ponto realmente negativo – e as outras para Daniil Medvedev, Andrey Rublev e Stefanos Tsitsipas, mas nenhuma delas sem que tenha vencido ao menos um set. Aliás, em 51 de suas vitórias, sequer perdeu sets, sofreu apenas quatro viradas e ganhou 24 de 32 tiebreaks, o que é sempre sinal relevante de domínio emocional.
A quadra dura continua sendo seu ganha-pão. Foram 50 vitórias em 53 possíveis, onde também ergueu sete de seus oito troféus, incluindo o Australian Open e o US Open e os Masters de Miami, Cincinnati e Xangai. Mas nem por isso se saiu mal nos outros pisos, com 11-2 no saibro e 9-1 na grama. Já está com 18 títulos na carreira, sendo apenas dois fora do piso duro, um no saibro e outro na grama.
Líder disparado do ranking, Sinner nos remete obrigatoriamente ao Big 3, porque afinal ganhar dois Slam, três Masters e o Finals num só calendário foram façanhas obtidas apenas duas vezes por Roger Federer (2004 e 2006) e outra por Novak Djokovic (2015), ainda que ambos tenham feito ainda mais que isso. E vale ainda a comparação a Andy Murray, que foi o último a somar tantas vitórias e títulos numa temporada, aqueles 78 triunfos e nove troféus do mágico ano de 2016.
Aclamado cada vez como um dos expoentes do esporte italiano, Sinner tem mais uma tarefa em 2024: segue agora para defender o título da Copa Davis, em Málaga, onde a Itália estreia na quinta-feira diante da Argentina e quem sabe pode enfrentar em seguida os EUA, ou seja, uma nova chance para Fritz bater Sinner em 2024.
Ele tentava ser o primeiro norte-americano a ganhar o Finals desde Pete Sampras em 1999. Sua campanha foi de certa forma surpreendente, principalmente pelo ótimo tênis que mostrou contra Alexander Zverev na semi de sábado, o melhor jogo do torneio. Como bem observou o alemão, Fritz deixou de ter um forehand inconstante e isso o deixa cada vez mais perigoso, agora como um justo número 4 do mundo.
Sufoco no Ibirapuera
Com direito a script de Alfred Hitchcock, o Brasil confirmou seu favoritismo sobre a Argentina e se recolocou no qualicatório internacional da BJK Cup, em abril, quando tentará de novo uma vitória para entrar no seleto grupo de países que disputam o título da competição. Tendo Bia Haddad no time, tudo é possível.
Ninguém esperava no entanto tanto sufoco e atuações tão instáveis do time brasileiro, que teve o direito de escolher o piso e a bola, colocou cerca de 5 mil pessoas no ginásio do Ibirapuera para empurrar as meninas e ainda contou com um oponente desfalcado de suas duas melhores jogadoras. Entraram em quadra as jovens e poucos experientes Solana Sierra, 20 anos e 154º do ranking, e Jazmin Ortenzi, 23 e 274ª colocada.
A sexta-feira escapou por pouco de ser um verdadeiro filme de terror. Laura Pigossi de repente se perdeu na postura em quadra e ficou com dificuldade de ganhar até ponto de Sierra nos dois sets finais, enquanto Bia começou para cima, encurtando o tempo de Ortenzi, até que inexplicavelmente recuou e ficou acuada. Levou sorte quando o segundo match-point de Jazmin saiu por um dedo na paralela e só então a coisa mudou. A torcida se inflamou, a argentina mostrou toda sua falta de bagagem e enfim a 17ª do mundo fez um terceiro set digno.
O sábado não foi mesmo tenso. Sierra despachou um 6/1 em cima de Bia e segurou o rojão até o final do segundo set. A canhota então já jogava bem melhor, mais solta e confiante, e a partir da quebra e do set se transformou e varreu a adversária da quadra. Ufa! Que nada. Pigossi foi em busca do ponto decisivo e não fez mais do que na véspera, envolvida no tênis inteligente de Ortenzi, para quem havia caído uma semana antes em Cali por placar também dilatado.
O capitão Luiz Peniza então ousou e colocou Carol Meligeni no lugar de Ingrid Martins, que teria sofrido um desconforto muscular. Enfim, jogamos um tênis competitivo e de qualidade no Ibirapuera, com Bia firme no saque, Carol se mexendo à perfeição nos voleios e as argentinas mostrando falta de entrosamento, uma mal na rede, a outra mal no fundo.
As meninas fizeram merecida festa dentro e fora da quadra e Bia afirmou que sempre acreditou nas reações que conseguiu no fim de semana, algo que já aconteceu tantas vezes em sua carreira. Pronta para curtir férias curtas e recomeçar logo o foco para 2025, a 17ª do mundo definiu sua temporada como “positiva e de muito aprendizado”.