Iga Swiatek está de volta à ponta do ranking. E da melhor forma possível. Foi um verdadeiro furacão em suas cinco partidas no WTA Finals, onde não perdeu set e ainda marcou ‘pneu’ sobre duas campeãs de Grand Slam da temporada, Marketa Vondrousova e Coco Gauff, e repetiu a dose em plena final diante da até então também invicta Jessica Pegula, a quem permitiu um único game.
A polonesa de 22 anos parecia ter sofrido uma queda de rendimento e motivação após Roland Garros e teve um momento discreto na passagem pela grama, que nunca foi seu forte, e principalmente na temporada de quadras duras do verão norte-americano. E isso lhe custou a perda do número 1 para Aryna Sabalenka.
Nada de desânimo. Recuperou a forma e a fome com uma conquista muito boa em Pequim e aproveitou bem o fato de não estar sob a luz mais forte dos holofotes em Cancún, onde Sabalenka e Gauff dividiam as atenções. Sua adaptação às difíceis condições foi excepcional, até porque Iga tem um golpe excepcionalmente importante diante do vento: o topspin. Aquele efeito mágico que permite dar profundidade à bola sem precisar jogar tão perto da linha.
Pegula também merece elogios, porque fez uma campanha até certo ponto inesperada para quem não havia ganhado uma única partida, em simples ou em duplas, no Finals de Fort Worth do ano passado. Desta vez, superou Sabalenka, Elena Rybakina e Gauff com uma tática mais conservadora. Se mantiver esse padrão, pode enfim sonhar com um Grand Slam em 2024.
O 70º de Djokovic
Quem diria que, aos 36 anos, Novak Djokovic iria vencer um Masters 1000 na base da superação. A campanha no Palácio de Bercy, que já o tinha visto fazer outras oito finais e levantar seis títulos, foi um daqueles raros momentos em que o sérvio esteve longe do seu melhor nível, mostrou deficiências físicas, mas conseguiu reagir a tudo isso com a cabeça no lugar. E em alguns momentos sob vaias.
Diante do problema estomacal que o atacou a partir da segunda partida e revelado na virada incrivelmente trabalhosa diante do mediano Tallon Griekspoor, Nole contou com duas armas muito especiais: o saque e a devolução. Eram golpes que precisavam de sua máxima energia nos momentos delicados e foi a profundidade de suas bolas que, na maior parte do tempo, impediram os adversários de chegar ao match-point.
É bem verdade que garotos como Holger Rune e Andrey Rublev tinham certa obrigação de tirar vantagem dessa instabilidade do sérvio. Conseguiram endurecer, mas a rigor o dinamarquês sucumbiu no terceiro set diante de um Djokovic muito mais determinado que ele, enquanto Rublev mostrou falta de confiança e de atitude quando poderia finalizar o jogo a seu favor.
Ou seja, vimos Djokovic ganhar com menos de 70% de sua força e só isso já basta para justificar suas frases orgulhosas ao final de uma campanha que se tornou inesperadamente difícil, mesmo vendo Carlos Alcaraz se despedir de forma melancólica lá na estreia.
Grigor Dimitrov voltou a jogar bem, usando os variados recursos que possui, mas era óbvio que jamais venceria Djoko com uma postura defensiva e slices. O búlgaro mal deu emoção à final, embora eu fique bem satisfeito ao vê-lo reagir na carreira, algo que parecia improvável.
Tal qual seus 24 troféus de Grand Slam, Djokovic chega agora a impensáveis 40 títulos de Masters. Se juntarmos os seis Finals, são os chamados 70 ‘grandes títulos’ de uma carreira sem igual no tênis. Já são 11 a mais do que qualquer outro Big 3.
Só um desastre poderá impedi-lo ainda de atingir a icônica marca de 400 semanas como líder do ranking e a oitava temporada encerrada como número 1. Ainda que isso seja um tanto retórico, porque um tenista que ganha três Grand Slam e faz outra final numa única temporada não precisa de ranking para ser indicado como o melhor de todos.
E quem acha que pode faltar motivação para seu 2024, é bom lembrar que ele tem agora 97 títulos na carreira, está a três de se tornar o terceiro homem com contagem centenária e fica apenas seis atrás do arqui-rival Roger Federer. Até os 109 de Jimmy Connors passam a ser uma meta possível. Nole já cansou de provar que não possui limites.