Bia já pensa na grama e destaca nova geração feminina com Victória e Naná

Foto: Cancha Central

Márcio Arruda
De Paris, especial para TenisBrasil

Tenista brasileira melhor ranqueada no mundo, Beatriz Haddad Maia se despediu de Roland Garros nesta segunda-feira, após a queda na terceira rodada de duplas, e agora já está focada na temporada de grama do circuito mundial. A número 1 do país e 23ª do mundo confirmou que irá disputar três torneios antes de Wimbledon. Bia estará nas quadras do WTA 500 do Queen’s Club, em Londres, além do 250 de Nottingham e do 500 de Bad Homburg.

A canhota paulista disse que consegue se adaptar bem e rápido a diferentes pisos e, especificamente na grama, ela lembra que já colheu bons resultados. Ela já foi campeã em Nottingham e Birmingham no ano de 2022. “A gente já começa a jogar na semana que vem, em Queen’s e depois jogo em Nottingham, onde já venci em simples e duplas. Tenho boas memórias e sensações”.

“Acho que eu tenho uma característica de jogo que consigo me adaptar bem em todos os pisos. Mas na grama, eu consegui fazer uma sequência boa. E acho que isso mostra o potencial e o quanto eu posso melhorar e acreditar nesse piso, apesar de ser sul-americana e jogar no saibro desde pequena”, acrescentou a jogadora de 29 anos.

Bia e a alemã Laura Siegemund foram superadas pelas italianas Sara Errani e Jasmine Paolini, cabeças de chave 2 e campeãs olímpicas em Paris, por 6/4 e 6/3. “A gente sabia que seria um jogo duro, tivemos bastante oportunidades no primeiro set e não aproveitamos. Acho que no segundo, começamos de uma forma um pouco mais apáticas, eu tomei um break logo de cara, mas é tênis e tem o mérito delas também nos momentos importantes. Mas sempre aprendemos algo e ir pra grama. É aprender para ir para a próxima”.

Durante Roland Garros, Bia conversou com TenisBrasil. A primeira parte da entrevista pode ser lida aqui. Na segunda metade da conversa, a tenista falou sobre pressão, família, redes sociais e o sobre o momento do tênis feminino brasileiro, com a nova geração liderada por Victória Barros, Nauhany Silva e Pietra Rivoli, que estão no torneio juvenil em Paris. Enquanto Victória treina na academia de Patrick Mouratoglou, enquanto Naná e Pietra são atletas da Rede Tênis, um dos principais centros de treinamento do Brasil, sob o comando de Leo Azevedo, em São Paulo.

Bia, você é uma tenista que há quatro temporadas está entre as melhores rankeadas do mundo. Isso é fruto do seu trabalho e do seu talento. Mas o sucesso também traz pressão dos patrocinadores, dos fãs e dos adversários. Como você lida com a pressão?

Eu penso que existem várias formas de enxergar e conduzir a própria carreira. Eu e meu time pensamos da mesma forma e temos isso muito claro nas nossas mentes. É um exercício diário não se alimentar das coisas externas. Mas o tênis é algo que a gente ama e que a gente escolheu como profissão; e, no fundo, é entretenimento. Quando a gente fala de tênis, a gente fala de esporte; não estamos falando, por exemplo, da vida de uma pessoa ou de uma cirurgia que alguém vai fazer ou algum familiar que eu vou perder. Conheço o meu potencial e minhas armas; sei o que a gente pode fazer. Mas tudo isso acaba criando uma expectativa. E a pressão está muito ligada ao quanto você acredita e ao quanto você acaba se frustrando. Na verdade, eu enxergo tudo como um privilégio. Se não fosse, teriam muitas outras pessoas conseguindo fazer também. O tênis é um esporte muito difícil e muito exigente. Quando a gente fala de pressão no tênis, a gente tem de lembrar que um tenista tem uma vida pessoal; é praticamente um viajante. Fica muito tempo longe de casa, das pessoas que ama; é uma vida de sacrifícios, que exige bastante atenção, um alto nível o tempo inteiro. O jogador de tênis tem uma exposição muito grande toda semana, independente do que está sentindo, passando na sua vida pessoal e profissional.

Você falou há pouco sobre a vida de viajante. Você sente falta da sua família?

Um dos lados bons da tecnologia é que você pode ter um contato maior com a família durante as viagens para competições. Eu sou muito família. As pessoas que eu sou mais próxima são da minha família. É difícil a gente criar novos vínculos com pessoas por causa da distância. Mas eu lido com isso de uma forma bem equilibrada. Eu tenho um time e um ambiente em volta de mim que é muito especial, que me lembra todos os dias que eu não sou o robô tenista; Sou um ser humano e tenho minhas fragilidades, meus medos… Tem dias que eu não acordo tão bem, tem outros melhores… Em relação à família, claro que é difícil. A gente viaja muitas semanas por ano e acaba que fica muito caro tentar trazer alguém para ficar perto. Cada um tem sua vida pessoal e, então, acaba sendo difícil viajar com todo mundo. Mas, de vez enquanto, eu consigo que uma prima venha, uma tia e até mesmo minha mãe, que às vezes aparece em torneios. Eu sou uma pessoa que une muito a minha família. Todos são apaixonados por esporte, então, pra mim, é muito legal compartilhar esta felicidade com eles. Sei que, de alguma forma, através do meu trabalho, eles se unem para ver o jogo da Bia. E isso me dá motivação e também força nos dias que a saudade bate mais forte.

Como você lida com as redes sociais? Você é ativa durante os torneios?

No meu dia a dia de competição, meu contato com rede social é zero. Eu tenho um time e pessoas que me ajudam e trabalham com isso. Claro, fico sempre a par de tudo do que acaba sendo postado, mas não diretamente eu vou lá e olho comentários e fotos. Isso eu acho desnecessário. Entendo que a internet tem um papel muito importante no mundo; acho que facilita muitas coisas e nos ajuda em muitos pontos, mas, ao mesmo tempo, tem pessoas que depositam ali suas frustrações. Então, eu sei exatamente quem eu sou, de onde vim e o trabalho que faço. Eu deito no meu travesseiro e tenho 100% de confiança no meu time, no meu trabalho e nas coisas que eu faço. A real é que eu vivo para mim, para o meu time e para a minha família; eu não vivo para os outros.

Você assistiu ontem ao jogo da Victória Barros, que se espelha muito em você. O que você acha do potencial dela?

Consegui ver um pouco da Victorinha e um pouquinho da Naná. Falando da Victória, ela tem bastante habilidade, usa bastante a continental, tem bons pés. É uma menina que compete muito bem, uma das melhores características dela. Está tendo uma boa formação na Europa e estou na torcida. É uma menina bem sorridente.

E falando um pouco da Naná é uma jogadora bem agressiva, também com potencial, acho que ela está num ambiente muito propício, com bons profissionais ao redor dela. Isso é muito importante nessa transição do juvenil para o profissional. Tem pessoas muito bem capacitadas junto com ela. E ela é uma menina muito bacana. Eu acabo tendo um pouco mais de proximidade com ela, por estarmos juntas em São Paulo, mas estou sempre na torcida pelas duas, assim como pela Pietra e todas as outras meninas. Vou estar sempre pela torcida. A Pietra treinou comigo ontem e também é uma menina muito especial, tem um coração enorme, está trabalhando bem e evoluiu muito desde o ano passado. Também tenho um carinho especial por ela.

O quanto isso é importante para o tênis feminino no Brasil?

Cada vez mais a gente vem tendo mais meninas jogando e tendo a possibilidade de jogar os torneios. Mas tudo é um processo e cada uma tem suas características e seu tempo de amadurecimento. Claro que é difícil aumentar o número de praticantes da noite para o dia, tem toda a capacitação de todos os profissionais que vão orientar um atleta. Os técnicos, preparadores físicos e fisioterapeutas precisam ter as melhores formações. E eu vejo o tênis brasileiro cada vez mais se unindo no ambiente, acho que a Itália faz muito isso, a França faz muito isso, a Argentina faz muito isso, com muitos jogadores entre os 200 e 300 do mundo… Claro que a gente quer mais Joões, mas é importante olhar o processo e seguir com os pés no chão, com muita humildade, acreditando no trabalho dos profissionais ao nosso redor.

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André Borges
André Borges
2 dias atrás

Muito legal ela dizer q não olha redes sociais e que tem uma equipe q faz isso, assim capaz que os abutres dão uma sumida.

Realista
Realista
1 dia atrás
Responder para  André Borges

Cara, não sei se você conhece redes sociais direito… Instagram é sempre uma enormidade de pessoas se elogiando e aumentando seus egos.

Adalberto
Adalberto
2 dias atrás

Só restou a Victória de brazucas no simples…
Será que é possível tirar alguma lição disso?
Ela tem treinado na Europa, participado de torneios na Europa e sabe lidar melhor com as tenistas européias que são 70% ou mais do circuito!
Ou seja, nossas autoridades, jornalistas e influenciadores devem saber que se uma tenista tiver intercâmbios e treinamentos na Europa e EUA vai se dar melhor!
A Bia tá certa! É hora de focar na nova geração!

Mauro
Mauro
1 dia atrás

Siga em frente escrevendo sua vitoriosa história neste esporte individual que exige resiliência, persistência e dedicação sempre. Vc é uma campeã.

Ronaldo Oliveira
Ronaldo Oliveira
1 dia atrás

Ainda bem que a Bia já pensa na grama. Perdi a fé de que ela vai conseguir ir longe nos torneios…

Marcelo
Marcelo
1 dia atrás

“Acho que eu tenho uma característica de jogo que consigo me adaptar bem em todos os pisos”. É, os resultados recentes mostram bem isso. 1a ronda em todos os tipos de pisos.

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