Como o tênis pode se tornar paixão nacional e poderosa estratégia de branding

Por Fátima Bana *
Especial para TenisBrasil

O tênis no Brasil sempre teve seus entusiastas, mas foi a partir dos anos 2000 que o esporte começou a ganhar uma relevância inédita. Impulsionado por grandes nomes e eventos memoráveis, o tênis brasileiro encontrou seu caminho em meio a desafios significativos.

De momentos de glória até aos obstáculos que ainda precisam ser superados, é primordial discutirmos como podemos tornar o tênis mais acessível e popular em nosso país, mas primeiro é preciso entender um pouco mais do cenário atual desse esporte por aqui.

O efeito Guga: um catalisador para o tênis brasileiro

No final dos anos 90, Gustavo Kuerten, carinhosamente conhecido como Guga, mudou para sempre a face do tênis no Brasil. Ao vencer Roland Garros em 1997, ele se tornou um herói nacional, inspirando milhares de jovens a pegar uma raquete pela primeira vez. Guga não foi apenas um vencedor em quadra; ele foi um embaixador do esporte, abrindo portas para uma nova geração de tenistas brasileiros.

O sucesso de Guga não só colocou o Brasil no mapa do tênis mundial, mas também desencadeou um boom na prática do esporte no país. Clubes e escolas de tênis viram um aumento significativo no número de alunos, e o tênis, antes visto como um esporte elitista, começou a ganhar um apelo mais amplo.

A geração pós-Guga e o cenário atual

Após o auge da carreira de Guga, o Brasil viu surgir novos talentos que continuaram a manter o tênis relevante no cenário internacional. Thomaz Bellucci, Teliana Pereira, Bruno Soares e Marcelo Melo são nomes que levaram a bandeira brasileira a torneios importantes, mostrando que o país tinha muito mais a oferecer além de um único campeão.

No entanto, mesmo com esses sucessos, o tênis em nosso país ainda luta para se estabelecer como um esporte popular. A percepção de que o tênis é exclusivo a uma elite persiste, e isso tem limitado a expansão do esporte em termos de participação massiva. A verdade é que o tênis ainda é visto como inacessível para grande parte da população – seja pelos custos associados ou pela falta de infraestrutura pública.

Enquanto o Brasil ainda enfrenta barreiras na popularização do tênis, outros países têm conseguido tornar o esporte acessível a uma parcela maior de suas populações. Nos Estados Unidos, programas como o USTA’s National Junior Tennis & Learning (NJTL) são exemplos de como o tênis pode ser usado como uma ferramenta de inclusão social. Iniciativas como essa não apenas promovem o esporte, mas também educam e oferecem oportunidades para jovens de comunidades carentes.

Na Europa, o tênis é amplamente praticado em diversos níveis sociais. Países como a Espanha e a França são conhecidos por seus sistemas de base bem estabelecidos, que permitem que o tênis seja acessível desde as escolas até academias de renome mundial. Essa abordagem inclusiva é uma lição importante para o Brasil, mostrando que é possível tornar o tênis um esporte para todos.

Crianças do projeto social com os atletas do RTB (João Pires/Fotojump)
Caminhos para popularizar o tênis no Brasil

Para que o tênis cresça de forma sustentável no país, é fundamental adotar estratégias que tornem o esporte mais acessível e menos elitista. Algumas dessas estratégias incluem:

  1. Projetos comunitários e escolares: Implementar programas de tênis em escolas públicas e em comunidades de baixa renda pode democratizar o acesso ao esporte. Iniciativas como essas não só revelam novos talentos, mas também promovem o desenvolvimento social e a inclusão.
  2. Redução de custos: O custo elevado dos equipamentos e das aulas de tênis é um dos principais obstáculos à popularização do esporte. Parcerias com empresas para doação de materiais e a criação de programas subsidiados podem ajudar a diminuir essa barreira, tornando o tênis mais acessível.
  3. Eventos e clínicas abertas ao público: Organizar eventos de tênis em espaços públicos, como parques e praças, pode desmistificar o esporte e torná-lo mais atraente para um público mais amplo. Tais eventos, incluindo clínicas e torneios amadores, são oportunidades para mostrar que o tênis pode ser praticado por qualquer pessoa, independentemente da sua origem.
  4. Uso da mídia e das redes sociais: Campanhas de marketing bem direcionadas podem mudar a percepção do público em relação ao tênis. Mostrar o esporte como uma atividade divertida e inclusiva, por meio de influenciadores e atletas, é uma maneira eficaz de alcançar novos públicos.
Casos de sucesso: transformando comunidades através do tênis

Ao redor do mundo, existem diversos exemplos de como o tênis pode ser uma força para o bem social. O programa NJTL nos Estados Unidos, fundado por Arthur Ashe, é um exemplo de como o esporte pode ser utilizado para educar e capacitar jovens de comunidades desfavorecidas. Na África do Sul, iniciativas como o “TenniStars” têm mudado a vida de crianças, oferecendo-lhes não só treinamento esportivo, mas também apoio educacional.

No Brasil, projetos como o Instituto Guga Kuerten demonstram que é possível usar o tênis como uma ferramenta de inclusão social. O Instituto não só promove o desenvolvimento de novos talentos, mas também trabalha com jovens de comunidades carentes, oferecendo-lhes oportunidades que vão além do esporte.

Estratégias de branding para as empresas

Para as empresas, associar-se ao tênis pode ser uma estratégia poderosa de branding. O tênis é um esporte que carrega valores como disciplina, perseverança e elegância, o que pode ser muito atraente para marcas que desejam construir uma imagem sólida e positiva.

Patrocinar projetos sociais, torneios regionais ou até mesmo iniciativas escolares relacionadas ao tênis pode gerar um retorno significativo em termos de imagem e engajamento. Além disso, o tênis oferece um público-alvo que valoriza saúde, bem-estar e atividades ao ar livre – características que muitas marcas desejam associar a seus produtos e serviços.

O tênis no Brasil tem um grande potencial para crescer, mas para isso, é necessário que todos – desde o governo até as empresas e a sociedade civil – colaborem para tornar o esporte mais acessível e popular. Ao quebrar as barreiras da exclusividade e democratizar o acesso ao tênis, podemos fazer com que mais brasileiros se apaixonem por esse esporte.

As empresas que se envolverem nesse processo não só contribuirão para uma causa social importante, como também fortalecerão suas marcas em um mercado cada vez mais consciente e exigente.

Com as estratégias certas, o tênis pode deixar de ser um esporte de elite e se tornar uma paixão nacional, acessível e benéfica para todos.

*Fátima BanaExecutiva de marketing e negócios com mais de 15 anos de experiência, Fundadora e líder da empresa Rent a CMO. Especialista e certificada em ESG por Harvard e Membro da Comissão de startups e scale-ups do IBGC (Instituto Brasileiro de Governança Corporativa). Mestre em Comportamento Digital de Consumo pela Universidade da Califórnia – EUA e Doutoranda pelo MIT/EUA, cursando PHD em Comportamento de consumo integrado a Inteligência Artificial. Pós-graduada em Neuropsicologia, Especialista em Neuromarketing e Aprendizagem pela São Camilo e Einstein de São Paulo e certificada em Neurofeedback pelo BTI Brasil.

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JClaudio
JClaudio
6 horas atrás

Sempre digo que o tênis, como esporte, é algo fabuloso.
Crítico a existência de um grupo que “sequestra” o esporte, querem o sucesso, sem abrir mão dos ganhos do esporte (geralmente buscando a iniciativa privada, oferecendo uma renuncia fiscal, muitas vezes de forma fraudulenta).
Acredito que a massificação do esporte passa, (também), pelos Professores de Educação Física de escolas públicas.
Esquecidos pelos gestores do esporte, são eles que poderiam ser o “elo transformador”.
Em cada escola pública, o tênis é uma teoria (vale nota de trabalho), falta a prática, falta sair do “papel”.
Handebol, futebol, basquete são esporte que tem a preferência dos professores, além de populares pela quantidadede jogadores participantes, com muitas vagas na quadra, com isso mais garotos participam.
Clínicas, valor dos equipamentos, mídia, serão resultados daquilo que a CBT investir na formação do profissional da educação, nas faculdades, trazendo o tênis para a escola pública e com um “agente” preparado para iluminar o aprendizado sobre (prática e conhecimento) do esporte.
Uma das bases do projeto do Ashe é justamente a rede pública (são mundos diferentes), porém, o “embrião” está lá.
Não existe massificação no esporte, sem escola pública e Professor de Educação Física.

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