Tênis nada em dinheiro na China

Não há como colocar a China entre as potências do tênis mundial, mas o empenho das entidades locais e o olho grande do mercado internacional fizeram com que o segundo mais populoso país do planeta, com 1,5 bilhão de pessoas, abraçasse a bola amarela e tenha apresentando crescimento paulatino, ainda que lento, em quantidade e qualidade.

A China é um país multiesportivo, com enorme tradição e sucesso em modalidades como tênis de mesa e badminton. Estima-se que ao menos um terço de todas as pessoas que praticam esporte por lá joguem badminton. No tênis de mesa, são praticamente imbatíveis há décadas e exportam literalmente talentos para outros países. A presença assídua nas Olimpíadas só veio a partir de 1984 e ainda assim os chineses já são o quarto com mais medalhas de ouro, tendo até superado os EUA nos Jogos caseiros de 2008.

Nos últimos tempos, as corridas de rua ganharam milhões de adeptos, a ponto de o país sediar incríveis 100 maratonas em 2022. O basquete é outra paixão nacional, mesmo com a NBA banida da TV durante a Revolução Cultural dos anos 1960 e 70. Calcula-se que 18% dos esportistas chineses joguem basquete, pouco acima dos 12% do futebol, que cresce em velocidade assustadora. Até 2025, as academias de futebol na China deverão chegar a 50 mil.

E onde fica o tênis nesse universo sempre superlativo de números? Pela estatística mais recente, existem 30 mil quadras e 14 milhões de jogadores regulares. São números modestos, ainda que o crescimento tenha acelerado a partir das Olimpíadas de 15 anos atrás. Também influenciou muito o sucesso de Na Li, com seus títulos de Grand Slam entre 2011 e 2014, que a levaram à vice-liderança do ranking.

O fato mais animador para o tênis está na audiência de TV. O basquete continua o mais popular, à frente do futebol. E eis que o tênis já conseguiu subir para o terceiro posto entre a preferência do público. É bem verdade que não há grandes nomes chineses no circuito. Além de Na Li, Jie Zheng e Shuai Peng figuraram no top 15 e hoje o maior nome é a jovem e promissora Qinwen Zheng, ex-18ª e agora 23ª. O masculino tem se calçado por nomes radicados nos EUA e com isso enfim apareceram destaques como Yibing Wu, que já chegou a 54º, e Zhizhen Zhang, 60º.

A atenção de ATP, WTA e ITF no mercado chinês é obviamente econômica. A associação feminina abriu até escritório em Pequim e queria fixar o Finals em Shenzhen antes de a pandemia destruir sonhos. Mas o retorno do calendário asiático nesta temporada trouxe de volta o poder do dinheiro. O WTA 1000 de Pequim nesta semana oferece US$ 8,2 milhões e o 500 de Zhengzhou beirou os US$ 800 mil. Outros US$ 520 mil ficaram nos 250 de Ningbo e Guangzhou. Ainda estão previstos mais um 500, dois 250 e o WTA Elite (o Finals B), que devem injetar mais US$ 2 mi. Vale destacar que figuram no momento quatro chinesas entre as 60 primeiras do ranking, o que ameniza o investimento.

Os torneios da ATP, onde os chineses como vimos são bem menos expressivos, causaram espanto justificável. Os 250 de Chengdu e Zhuhai pagaram mais de US$ 1 milhão cada um, enquanto o 500 de Pequim em andamento distribui US$ 3,8 milhões. Já o 1000 de Xangai vai superar os US$ 10 mi. Portanto, numa conta muito rápida, a passagem do tênis profissional pelo país custará cerca de US$ 28 milhões apenas em premiação direta.

Então é fácil explicar os sorrisos dos dirigentes para o mercado chinês, ainda que tenha havido um esforço, disfarçado mas conhecido, para colocar público nas arquibancadas. Xangai tem um belíssimo estádio com teto retrátil para 10 mil pessoas e nunca foi fácil deixado lotado, recorrendo-se frequentemente a convites ou presença compulsória dos escolares.

A equação de uma forma geral ainda precisa ser fechada, já que a relação entre investimento e crescimento do tênis chinês ainda está longe do ideal.

E mais

  • Mesmo admitindo não ter se recuperado a contento dos cortes nas mãos, Bia Haddad Maia estreia neste fim de semana em Pequim e depois ainda devem jogar os outros torneios chineses com objetivo de chegar ao WTA Elite, o chamado Finals B. A estreia é contra Jasmine Paolini, ganhável, e depois deve vir Elise Mertens.
  • Bia também está na chave de duplas ao lado de Kudermetova. Já Luísa Stefani faz parceria com Ingrid Martins.
  • O fortíssimo 500 de Pequim já tem jogos ótimos nas oitavas: Alcaraz-Musetti, Rune-Dimitrov, Zverev-Fokina e Medvedev-De Minaur.
  • Musetti derrotou Khachanov na estreia – o russo vinha do título em Zhuhai – e Tsitsipas deu outro passo para trás, ao cair diante de Jarry.
  • Campeão em Chengdu, Zverev está definitivamente na briga por vaga no ATP Finals, onde poderia brigar pelo tricampeonato.
Paulista de 63 anos, é jornalista especializado em esporte há mais de 45 anos, com coberturas em Jogos Olímpicos e Copa do Mundo. Acompanha o circuito do tênis desde 1980, tendo editado a revista Tênis News. É o criador, proprietário e diretor editorial de TenisBrasil. Contato: joni@tenisbrasil.com.br
Paulista de 63 anos, é jornalista especializado em esporte há mais de 45 anos, com coberturas em Jogos Olímpicos e Copa do Mundo. Acompanha o circuito do tênis desde 1980, tendo editado a revista Tênis News. É o criador, proprietário e diretor editorial de TenisBrasil. Contato: joni@tenisbrasil.com.br

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