Carlos Alcaraz tem inúmeros motivos para comemorar a inédita conquista de Wimbledon. A vitória em cinco sets sobre Novak Djokovic na Quadra Central é a maior façanha do tênis atual. Diante de um heptacampeão do torneio, dominante nas últimas quatro edições, e que não perdia uma final de Wimbledon há uma década, Alcaraz precisou ter alto nível de tênis, intensidade, controle das emoções e letalidade nos momentos decisivos.
Enfrentar Djokovic em um Grand Slam é uma tarefa árdua, e não só pelo nível de tênis necessário para vencê-lo. Aos 36 anos e recordista de títulos de Slam entre os homens, com 23 conquistas, o sérvio já esteve tantas vezes em situações desfavoráveis, que não vai ser desvantagem momentânea no placar ou um crescimento do adversário que oferecem grande risco. Ele mantém suas rotinas dele na quadra, encontra o encaixe ideal do jogo e espera pelas oportunidades. As brechas deixadas pelo sérvio são mínimas e é preciso aproveitá-las da melhor maneira possível.
Alcaraz não teve um bom início de partida. Visivelmente tenso e perdido nas escolhas táticas, permitiu que Djokovic abrisse 5/0 logo de cara e dominasse o primeiro set. Para quem assistia o jogo naquele momento, era inevitável pensar na semifinal de Roland Garros contra o mesmo adversário, ocorrida há pouco mais de um mês, quando o jovem de 20 anos admitiu que entrou em quadra muito tenso e que isso o afetou também fisicamente.
Mas como o próprio Alcaraz afirmou na última sexta-feira, desde sua classificação para a final, a preparação mental para o reencontro com Djokovic era diferente. Com o apoio de uma psicóloga em sua equipe, o espanhol conseguiu se recuperar na partida e jogar em altíssimo nível nos momentos decisivos. Na coletiva de imprensa deste domingo, após o título de Wimbledon, ele conta sobre o quanto aprendeu com aquela partida. E a virada no tiebreak da segunda parcial, salvando um set-point e empatando a partida com um winner de devolução, ou épico game de 26 minutos em que o espanhol conseguiu a quebra no terceiro set são nítidos sinais de evolução no ponto de vista mental.
“Sou um jogador totalmente diferente desde Roland Garros. Cresci muito desde aquele momento. Como disse antes da final, tirei uma lição daquela partida. Me preparei um pouco diferente no ponto de vista mental e pude lidar com a pressão e os nervos melhor do que em Roland Garros”, disse Alcaraz após a vitória por 1/6, 7/6 (8-6), 6/1, 3/6 e 6/4 em 4h43 de partida, em resultado que o faz defender a liderança do ranking. “Obviamente, o jogo na grama é diferente do saibro. Mas estou muito feliz por poder ficar no jogo e não me abalar. Não desisti e lutei até a última bola. Acho que fizemos grandes ralis, grandes pontos. Foi uma partida longa, com sets longos. E foi a parte mental que me permitiu ficar lá durante os cinco sets”.
Do outro lado da rede, Djokovic destacou a maturidade do jovem rival. “Ele tem muita resiliência mental e maturidade para alguém de 20 anos. É impressionante. Para alguém da idade dele, é incrível vê-lo lidar com os nervos assim, jogando um tênis agressivo e fechando a partida do jeito que ele fez. Acho que devolvi muito bem no último game, mas ele estava apenas fazendo golpes incríveis”, ponderou o heptacampeão. “Eu nunca enfrentei um jogador como ele, para ser honesto. Roger e Rafa têm suas próprias forças e fraquezas. Carlos é um jogador muito completo. É incrível sua capacidade de adaptação”.
A vitória de Alcaraz também deixa um recado para a nova geração de jogadores, cada vez mais presentes em fases finais dos grandes torneios. Em Wimbledon, vimos Jannik Sinner chegando à semifinal, superado por Djokovic em sets diretos, enquanto Holger Rune caiu diante de Alcaraz nas quartas. “É ótimo também para a nova geração. Acho que eles vão pensar que são capazes de fazer isso também. É ótimo para mim e para os jovens jogadores também”.
Recuperação e versatilidade de Vondrousova coroadas com título
Na disputa feminina, a versatilidade e a recuperação de Marketa Vondrousova foram coroadas com o primeiro título de Grand Slam. Canhota e com muito tato para variações de ritmo e a execução dos drop-shots e subidas à rede, a atual 42ª do ranking se tornou a primeira não-cabeça de chave a vencer Wimbledon na Era Aberta. E o fez eliminando cinco cabeças de chave do torneio, Veronika Kudermetova, Donna Vekic, Marie Bouzkova, Jessica Pegula e Ons Jabeur, além de ter derrotado a ex-número 3 do mundo Elina Svitolina na semi.
A nova campeã de Wimbledon também teve que aprender a jogar na grama, piso em que tinha pouquíssimas vitórias antes desse torneio. Até então, Vondrousova nunca havia passado da segunda rodada do torneio. “A grama era impossível para mim, porque eu não havia disputado muitas partidas aqui antes. Meu melhor resultado era a segunda rodada. Se fosse no saibro ou na quadra dura, talvez eu dissesse que fosse possível. É ainda mais louco que isso esteja acontecendo”, declarou a jogadora de 24 anos. “Eu só queria tentar ganhar algumas partidas aqui. Foi o Grand Slam mais impossível para mim, então nem pensava nisso. Ninguém diria que tinha uma chance de vencer o torneio”.
Vondrousova já havia disputado uma final de Grand Slam em 2019, no saibro de Roland Garros, quando foi superada por Ashleigh Barty. Na ocasião, chegou ao top 15 do ranking, mas sofreu uma queda acentuada depois de duas cirurgias no punho esquerdo e diz que não imaginava voltar às quadras jogando tão bem. “No ano passado, estava como punho esquerdo engessado, vim para cá apenas como turista. Quando voltei, não sabia se poderia jogar nesse nível novamente”.
Algoz da número 6 do mundo Ons Jabeur na final do último sábado, Vondrousova destacou o controle emocional na vitória por duplo 6/4. “Não comecei bem a final. Mas eu estava calma. Eu me senti muito bem. Mantive minhas emoções sob controle. Todos [de sua equipe] ficaram surpresos com o quanto eu estava calma. Acho que essa foi a chave para este título. Continuei acreditando mesmo quando ela quebrou o meu saque. Eu estava apenas falando comigo mesma: ‘Apenas mantenha o foco e controle-se'”, acrescentou a tcheca, que revelou ter sentido um pouco mais de nervosismo na hora de fechar o jogo. “No match-point eu não conseguia respirar. Ali eu estava nervosa e pensando: ‘Apenas acabe o jogo’. Foi um alívio”.