Vitor Bara
Especial para TenisBrasil
Após um início de semana com temperaturas acima dos 32 graus, muita hidratação e buscas incessantes por qualquer centímetro de sombra (há de se escolher entre estar protegido ou assistir tênis – nem que seja por mínimas frestas entre ombros alheios), fui apresentado a um Wimbledon mais próximo do que se imaginava.
A começar pela chuva, acompanhada por queda brusca nos termômetros, que deu as caras logo na manhã do terceiro dia e elevou a ansiedade para o segundo compromisso do João Fonseca. Oportunidade para acompanhar o meticuloso ritual de preparação das quadras, desde a sincronizada retirada da lona (e secagem do fundo de quadra através da técnica “pisando nas toalhas”) até a chegada da rede, pelas mãos de um carismático pegador de bolas – que a ergueu como um troféu e foi devidamente ovacionado.
Com tudo em seu devido lugar, fica mais claro notar alguns detalhes pequenos, mas que acentuam as diferenças de Wimbledon, especialmente nos dias atuais repletos de poluição visual e marcas brigando por espaço:
– Fundo de quadra praticamente sem patrocínios estampados (a exceção, em algumas quadras, é a histórica fornecedora de bolas).
– Cadeiras dos jogadores convencionais e também discretas.
– Postes de madeira, com detalhes em dourado – e redes também sem marcas estampadas.
– Placares eletrônicos sim, mas nada de telões mostrando replays em alta definição (algumas estatísticas básicas e só isso mesmo).
– Tudo isso somado à elegância sóbria dos árbitros de cadeira (juízes de linha já não temos, a modernidade falou mais alto aqui).
Quem também marcou presença foram as típicas e curiosas “zebras da grama” que, por sinal, seguem angariando nomes a cada dia de disputa – em ambas as chaves de simples. No masculino, este movimento é ainda mais curioso se nos atentarmos à idade dos protagonistas:
– Arthur Rinderknech, que completa 30 anos em julho, eliminou Zverev (cabeça 3) numa maratona de 5 sets;
– Nikoloz Basilashvili, 33 anos, veio do quali e tirou Musetti (cabeça 7);
– Gael Monfils, 38 anos, também encarou 5 sets e ganhou novamente de Humbert (cabeça 18), sua 3ª vitória nos últimos 4 embates;
– Marin Cilic, 36 anos, passou por Draper (cabeça 4) e silenciou uma Quadra 1 lotada e barulhenta;
– Jan-Lennard Struff, 35 anos, eliminando Aliassime (cabeça 25) de virada e vai desafiar Alcaraz.
Nomes os quais nos acostumamos a acompanhar há tantos anos (e até décadas) e que seguem entretendo os apaixonados pelo esporte e promovendo um estilo de jogo, digamos, menos moderno. Tênis clássico definitivamente combina bem com as tradições do All England Lawn Tennis and Croquet Club.
Um dia a Alice Ji vai jogar aí.