por Mário Sérgio Cruz, de São Paulo
Um dos grandes nomes da história recente do tênis brasileiro, Teliana Pereira recolocou o país na elite do circuito feminino em meados da década passada. Ela conquistou dois títulos de WTA, nas quadras de saibro de Bogotá e Florianópolis em 2015. Naquele ano, chegou ao melhor ranking da carreira, no 43º lugar. Teliana foi responsável por encerrar jejuns que já duravam mais de 20 anos para o Brasil sem representantes no top 100, em chaves de Slam ou sem campeãs em torneios de primeira linha. A pernambucana encerrou sua carreira profissional em 2020, aos 32 anos, mas ainda segue atuante em diversos projetos ligados ao tênis e quer fazer mais pelo esporte.
Ciente hoje de sua participação para que o tênis feminino no Brasil voltasse a ter exposição e atingisse o patamar que tem na atualidade, Teliana falou sobre as transformações que o esporte teve no país nos últimos anos: “Hoje tenho muito mais consciência do que eu fiz, junto com meu irmão e todo mundo que estava envolvido. Foi muito grande”, disse Teliana a TenisBrasil durante o Roland Garros Junior Series, em São Paulo.
“Quando ganhei o WTA de Bogotá, a Bia [Haddad Maia] estava lá no mesmo ano e foi campeã de duplas com a Paula Gonçalves. A Laura [Pigossi] também já jogou uma final lá e pode pensar: ‘Se a Teliana chegou, eu também posso’. Hoje tenho muito orgulho da minha história, que foi muito importante para o tênis brasileiro, e quero fazer mais pelo tênis”, acrescenta a ex-jogadora profissional, que atualmente tem uma academia de tênis junto com o irmão, Renato, em Curitiba e além de trabalhar como comentarista de TV na ESPN e promover clínicas pelo país.
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A última competição que Teliana jogou foi a Billie Jean King Cup, em fevereiro de 2020, em confronto contra a Alemanha em Florianópolis. Na ocasião, as alemãs venceram por 4 a 0. Os dois países voltaram a se enfrentar no ano passado, em Stuttgart, com novo triunfo das europeias, desta vez por 3 a 1. E um novo confronto acontece já nesta semana, no Ginásio do Ibirapuera, em São Paulo, com previsão de público de 10 mil pessoas para apoiar a equipe brasileira em quadra.
“Acho que o Brasil está um pouquinho engasgado com a Alemanha, mas vejo uma boa chance. Não tenho dúvidas de que essas meninas vão deixar tudo em quadra, pela característica de todas elas. Sei que a Bia e a Laura gostam das condições da quadra. Estou muito na torcida, e também por causa de 2020, e confio muito no que as meninas estão fazendo”, avaliou.
Confira a entrevista com Teliana Pereira.
Essa semana teremos um confronto contra a Alemanha na Billie Jean King Cup. E você chegou a jogar contra as alemãs quatro anos atrás. Como você avalia esse confronto e as mudanças do tênis feminino brasileiro nesse recorte de tempo, que é recente?
O momento do tênis feminino é muito positivo, já vem há alguns anos. A gente sempre teve, entre uma geração e outra, normalmente a gente tinha uma jogadora só em destaque. Hoje temos a Bia numa posição muito alta, a Laura tentando voltar para o top 100, Luísa e Ingrid jogando bem na dupla, a Carol que está aí na batalha… Então, são vários nomes e uma vai puxando a outra. Fora isso, uma nova geração que está vindo muito forte. É um momento de mais apoio, com exposição muito grande e jogos na televisão.
A Bia este ano, muita gente pode dizer que ela não está tendo os resultados esperados, mas nós tenistas sabendo que esses altos e baixos fazem parte do circuito. Hoje ela joga numa posição de favorita. Isso traz uma tensão a mais, porque antes era o contrário. Acho que o Brasil está um pouquinho engasgado com a Alemanha, mas vejo uma boa chance. Não tenho dúvidas de que essas meninas vão deixar tudo em quadra, pela característica de todas elas. As condições são um pouco mais rápidas, numa quadra de saibro coberta e com altura, a Bia e a Laura com certeza gostam. Estou muito na torcida, e também por causa de 2020, e confio muito no que as meninas estão fazendo.
Como está sendo agora, desde que parou de jogar, para equilibrar as duas funções: Estar na academia com seu irmão e também trabalhando como comentarista de TV. Dá vontade de voltar a jogar em algum momento?
Vontade zero! (risos) Quando eu decidi parar, estava muito certa disso. As pessoas me diziam: “Você parou muito nova”. Mas eu parei no tempo certo, com 32 anos. Foi uma decisão muito bem pensada e que levou tempo. Tudo o que eu fiz foi de muito suor e entrega. Eu realmente vivi aquilo 100% e deixei tudo o que eu tinha.
Estou super feliz, é uma fase diferente, estou fazendo coisas novas e adorando fazer televisão. É o que eu mais gosto de fazer hoje em dia. Tenho uma responsabilidade gigantesca a de entrar na casa das pessoas e compartilhar um pouco do que eu vivi e também o que está acontecendo na quadra. E a academia está super bem e já ficou completa. Meu irmão é quem fica mais tempo lá. Eu gostaria de poder me dedicar mais à academia, mas ainda não estou conseguindo fazer. Fora isso, também tenho feito algumas clínicas de tênis. Então, é um momento de descobertas. E mostra como o tênis é fantástico, trago muito do que eu era, dos valores que eu tinha dentro da quadra para fora. O tênis te dá uma disciplina, uma responsabilidade de vontade de querer fazer melhor.
Algumas de suas conquistas estão perto de completar 10 anos. No caso de chegada ao top 100 até já passou um pouquinho, foi no final de 2013. O que mudou desses 10 anos pra cá no tênis feminino, em visibilidade e apoio… O quanto você sente que a sementinha que você plantou recolocando o Brasil em top 100, em chave de Slam e ganhando dois WTA, ajudaram o que a gente tem hoje?
Hoje tenho muito mais consciência do que eu fiz, junto com meu irmão e todo mundo que estava envolvido. Foi muito grande. De todas as mulheres que fizeram alguma coisa pelo tênis, como a Dadá e a Niege Dias, eu sou a mais recente. Tenho muito orgulho quando vejo as meninas tendo bons resultados. Quando eu estava na minha melhor fase, eu era perguntada sobre o tênis feminino no Brasil e dizia que estava feliz com meus resultados, mas que gostaria de ver muitas outras jogadoras. E hoje a gente tem.
Com toda essa rede social, que na minha época ainda estavam no começo, eu percebo isso melhor e com muita humildade. Isso ajudou as meninas a acreditar que era possível. Quando ganhei o WTA de Bogotá, a Bia estava lá no mesmo ano e foi campeã de duplas com a Paula Gonçalves. A Laura também já jogou uma final lá e pode pensar: “Se a Teliana chegou, eu também posso”. Isso não é diminuir. É ter um exemplo perto que seja palpável. Eu não tive isso. Eu não tinha tanto contato com a Dadá e a Niege, por exemplo. Pensando nos dias de hoje, a gente precisa criar uma conexão com essas meninas como a Naná, a Victória, a Pietra com as que já estão lá. Essa aproximação é importante. Hoje tenho muito orgulho da minha história, que foi muito importante para o tênis brasileiro, e quero fazer mais pelo tênis. Vou dando o meu jeitinho e espero, de alguma forma, poder ajudar mais essas meninas.
Hoje a gente tem transmissão de torneio juvenil e a ESPN tem um monte de torneios. Passa o tempo todo o tênis feminino. Eu não me lembro de ter essa exposição quando eu jogava, era muito mais difícil. Era só coisa grande ou então uma semifinal ou final. E hoje, do outro lado, eu vejo que as meninas merecem que os jogos delas passem, sim. Elas estão dando duro.
Eu me lembro, por exemplo, do seu jogo contra a Pennetta na China, em 2015. Você no top 50 e ela tinha acabado de ganhar o US Open. Não passou na TV. Seria impensável hoje…
Sim… Hoje em dia, logicamente muito mais voltado para a Bia, o tênis feminino está em maior evidência e vai atrair muito mais apoio. O brasileiro ainda tem uma cultura muito falha, que só vale se você for número 1 do mundo. A gente tem que respeitar mais a história de cada um. Não é porque fulana foi 10 do mundo que a 30 não serve… Estar nos grandes torneios, jogar um Grand Slam e ganhar um WTA é muito grande. E passa uma mensagem legal para quem está começando, de que o trabalho tem que ser todos os dias, a jornada é muito longa e você tem que estar disposta a pagar o preço. O Del Potro falou disso aqui, você vai muito mais perder do que ganhar, tem que entender isso e correr atrás dos sonhos.
Como era sua convivência com a geração da Bia, da Laura e da Carol num ambiente de time?
Era sempre muito bom. Eu me dava muito bem com todas as meninas, era um grupo muito unido e elas seguem com esse clima. Lembro de quando a Carol chegou à equipe, acho que foi no México, e a gente logo a abraçou no grupo. Isso é o mais importante nessas competições, porque a gente joga pouquíssimas vezes juntas. Eu, de verdade, tenho ótimos relacionamentos com todas elas e me orgulho muito disso. O circuito é duro, você tem que tentar ser agradável. E não era um esforço! As meninas são ótimas e ainda cultivo essas amizades.
E com essa geração mais nova, como a Pietra, Victória e Naná… você consegue passar alguma coisa?
Tenho pouco contato com elas. Agora, quando surgiu a oportunidade de vir para cá, fiquei super feliz por poder ver essas meninas mais de perto. A Naná eu conheci ano passado, a Victória já conheço há um pouco mais porque ela já treinou em Curitiba durante um tempo. E a Pietra eu conheci pessoalmente aqui, mas já havia comentado um jogo dela na TV ano passado. É legal ver como elas são, porque cada uma tem um jeitinho. Umas já conseguem falar bem, outras são mais tímidas… É algo que, mais para frente, eu quero fazer: Estar mais perto dessas meninas, porque elas estão jogando super bem. Estou impressionada com elas.
Teliana foi sem dúvida um grande exemplo, quebrou vários tabus no tênis feminino brasileiro, que há anos não tinha uma menina top 100. Tinha limitações técnicas evidentes (como a Laurinha também) mas superou com vontade e persistência hercúleas, chegando ao inacreditável top 43. Com certeza motivou todo a geração que hoje colhe os frutos, Bia à frente…
Agora, como repórter televisiva ela é mesmo uma grande tenista…kkk Muito para aprender, mas ela vai conseguir (de novo…)
Se deixar de comentar na TV já faria um grande favor
Comentário de m…! Inveja pura!
É só não assistir! Simples assim!
Se vc deixar de comentar as coisas de sempre nesse site já faria um grande favor
vc não chega nem a um milésimo dela no tenis, imagina comentando TV ainda
Teliana orgulho do Brasil, redentora do tênis feminino brasileiro
Grande Teliana, gigante! Abriu espaço para a Bia, Laura e as demais tenistas dessa nova geração. Sem dúvidas que entre todos os nossos top 50 na história, tanto no masculino quanto no feminino, é quem escalou a maior montanha! Desejo toda a sorte do mundo nos projetos em que esteja envolvida.
A bia tem que ganhar os dois jogos de simples
Das possíveis adversárias, acho mais
provável ela vencer a Maria. Jogadora de slice no saibro é um prato cheio para alguém do calibre da Bia
Contra Kerber, vejo uma incógnita. A alemã voltou esse ano a jogar e não jogou jo saibro ainda. 2 anos longe de jogos no saibro, mas sabemos que ela ainda tem um bom jogo
Teliana foi uma guerreira e nos deu muitas alegrias. Esse boom do tênis feminino atual é derivado do sucesso dela, que mostrou que era possível, sim, a todas, mesmo sendo brasileiras.
Baita tenista. Não tinha bola perdida com ela. Que siga ajudando o tênis brasileiro.
3x1Brasil com ou sem duplas
PArabéns Teliana pelo seu sucesso e pela luta para termos um tenis melhor no Brasil