Primeiro campeão da era profissional, Ashe ganhou só US$ 20 por dia

Nova York (EUA) – Inaugurado em 1997, o Arthur Ashe Stadium é o maior estádio de tênis do mundo, peça central do remodelado USTA National Tennis Center. Sua capacidade atual é de 23.859 espectadores, contando com 21 estandes de alimentação, 10 elevadores, mais três para pessoas com deficiência.

O nome de Arthur Ashe é reverenciado por fãs e tenistas. Nascido em 10 de julho de 1943, em Richmond, no estado da Virgínia, Ashe foi um dos maiores embaixadores do tênis. Em 1968, no início da Era Aberta, quando os profissionais foram admitidos nos torneios, Ashe se tornou o primeiro homem afro-americano a vencer o US Open ao derrotar Tom Okker em cinco sets, com parciais de 14/12, 5/7, 6/3, 3/6 e 6/3 e chegar à final de duplas. Em 1972, foi vice-campeão diante do romeno Ilie Nastase, também em decisão de cinco sets..

O campeão do US Open, em 1968, porém, ao invés de ganhar US$ 14 mil pelo título, por ser amador, levou para casa apenas US$ 20 por dia de disputa. No total, o campeonato daquele ano distribuiu US$ 100 mil em prêmios em dinheiro. Apenas 6% do total, US$ 6 mil, foram para a campeã Virginia Wade.

Ashe ganhou 33 títulos na carreira, incluindo também o Australian Open em 1970 e Wimbledon em 1975. Antes disso, ele foi o primeiro afro-americano a ganhar o título de simples da NCAA (pela UCLA em 1965), e defendeu os Estados Unidos na Copa Davis de 1965 a 1970, ajudando o país a ganhar o título de 1968 a 1970. Ashe mais tarde adicionou mais dois títulos da Copa Davis, como capitão da equipe, em 1981 e 1982. Em maio de 1976, ascendeu ao 2º lugar do ranking mundial.

Arthur Ashe Stadium (Foto: US Open/ Facebook)
Luta contra o racismo. a pobreza e melhor saúde

Fora da quadra, Ashe trabalhou para eliminar o racismo e a pobreza ao redor do mundo. Em 1973, depois de ter seu visto negado três vezes, ele viajou para a África do Sul pela primeira vez e se tornou o primeiro homem negro a competir no Aberto da África do Sul. Ele foi vice-campeão em simples e campeão nas duplas, mas sua maior vitória foi ter seu pedido às autoridades sul-africanas, em época de Apartheid, atendido: que os assentos do Ellis Park, segregados, não deveriam ter separação entre negros dos brancos.

Depois de ganhar o título de duplas com Tom Okker, o poeta sul-africano Don Mattera disse a Ashe: “Você mostrou à nossa juventude negra que eles podem competir com os brancos e vencer.” Os sul-africanos negros deram a Ashe um apelido durante sua viagem à África do Sul, “Sipho”, que significa “um presente de Deus” em zulu.

Arthur Ashe e Nelson Mandela (Foto: Acerco de Jeanne Moutoussamy-Ashe)

Ashe foi preso duas vezes por sua luta contra o racismo. A primeira vez foi em janeiro de 1985, quando protestava contra o Apartheid, na embaixada da África do Sul, em Washington. A segunda em 1992, em frente à Casa Branca, em protesto pacífico contra a política americana de extradição de refugiados haitianos.

Ashe também dedicou tempo e esforço ​​para criar oportunidades de tênis para jovens de todas as origens. Em 1969, ele foi cofundador da National Junior Tennis League (atualmente denominada National Junior Tennis and Learning Network) com Charlie Pasarell e Sheridan Snyder. Ashe imaginou a NJTL “como uma maneira de ganhar e manter a atenção dos jovens nas cidades do interior e outros ambientes pobres para que possamos ensiná-los sobre questões mais importantes do que tênis”. Desde então, NJTL cresceu e atende mais de 225.000 jovens a cada ano.

“Há muitos jogadores de tênis que ganharam mais Slam do que Arthur, mas não consigo pensar em um único jogador que tenha impactado a comunidade mundial tanto quanto ele fez e ainda faz”, disse Malivai Washington, vice-campeão de Wimbledon em 1996. “Seja por sua dedicação à juventude, lutando contra a AIDS ou lutando pelos direitos humanos, ele percebeu que seu propósito na Terra ia muito além de bater em uma bola de tênis. Isso para mim é inspirador.”

Arthur Ashe em protesto contra repatriamento de haitianos (Foto: reprodução do YouTube)

Após uma cirurgia cerebral em 1985, Ashe descobriu que era HIV positivo, provavelmente tendo sido infectado através de transfusão de sangue em uma das duas cirurgias cardíacas que passou em 1979 e 1983. O diagnóstico, no entanto, só fortaleceu a determinação de Ashe. Ele discursou na Assembleia Geral das Nações Unidas em 1992, pedindo aumento de financiamento para pesquisa sobre Aids, e também fundou o Arthur Ashe Institute for Urban Health, uma organização para educar e promover melhores cuidados de saúde.

Também em 1992, Ashe foi nomeado “Esportista do Ano” pela Sports Illustrated, um ano antes de sua morte aos 49 anos, devido a pneumonia relacionada à Aids. Em 2000, a USTA inaugurou o Jardim Comemorativo Arthur Ashe no USTA National Tennis Center. O jardim apresenta a estátua “Soul in Flight”, bem como uma gravura da citação de Ashe, “Do que ganhamos, ganhamos a vida; o que damos, no entanto, faz uma vida.” Arthur Robert Ashe Jr ingressou no Hall da Fama em 1985 e faleceu em 6 de fevereiro de 1993, em Nova York, aos 49 anos.

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JClaudio
JClaudio
9 dias atrás

Incrível como os americanos conseguem produzir líderes negros que ultrapassam os limites esportivos.
No Brasil, apesar da maioria da população ser negra (pardos juntos) não conseguimos fazer o mesmo.
Nosso maior nome esportivo, não era um líder, era um ídolo esportivo (Pelé).

Neri Malheiros
Neri Malheiros
9 dias atrás
Responder para  JClaudio

Também tivemos e temos nossos líderes negros, JClaudio, basta uma pesquisa no Google sobre o tema para encontrar várias figuras históricas e lendárias, a começar por Zumbi dos Palmares. O problema todo é o sufocamento dessas memórias pelas ‘elites’ brancas e pelos poderosos.

Mais recentemente, João Cândido, o ‘Almirante Negro’, cuja heróica resistência protagonizou a Revolta da Chibata, em 1910, quando liderou a tripulação do navio ancorado no porto contra os costumeiros castigos com golpes de chibata. Ouça a lindíssima homenagem a ele prestada pelos compositores Aldir Blanc e João Bosco em ‘O Mestre-sala dos Mares’. Ou seja, muitos líderes negros também permearam nossa história e deixaram legados e contribuições em diversos campos, mas precisamos ‘garimpá-los’.

Neri Malheiros
Neri Malheiros
9 dias atrás
Responder para  Neri Malheiros

Desculpe, JClaudio, fiz uma péssima interpretação de teu texto, que tratava de líderes negros nos esportes. Não lembro de grandes destaques como existiram e ainda existem nos EUA, talvez porque lá, apesar de muita repressão, não tenha havido períodos de ditadura, que aqui foram longos e ferozes, como na era Vargas e durante os governos dos militares.

Mas lembro de algumas figuras heróicas ligadas ao futebol e que não ficaram em cima do muro nem mesmo durante os chamados ‘anos de chumbo’. Na década de 80, um grupo de atletas liderado por Sócrates, Wladimir e Casagrande, lançou a Democracia Corinthiana, movimento até hoje lembrado. Doutor Sócrates, como ficou conhecido, irmão de Raí, era grandioso também no nome (Sócrates Brasileiro Sampaio de Souza Vieira de Oliveira), virou nome de rua na França e, igual ao negro Wladimir Rodrigues dos Santos, aparentava traços de origem africana.

Além desses, tivemos o jogador Reinaldo (José Reinaldo de Lima), do Atlético Mineiro, e o igualmente médico Afonsinho (Afonso Celso Garcia Reis), nascido em São Paulo mas com passagem pelos grandes clubes cariocas, que também afrontaram e enfrentaram os ditadores.

Guilherme E.S. Ribeiro
Guilherme E.S. Ribeiro
9 dias atrás

Fantástisca história. Grande tenista, grande homem, grande ser humano

João Sawao ando
João Sawao ando
9 dias atrás

Incrível a vida de Ashe

Rafael Guimaraens
Rafael Guimaraens
9 dias atrás

É uma daquelas pessoas que não veio ao mundo pra fazer sombra e um daqueles tenistas que não estão aí só para acumular títulos e recordes.

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