St. Petersburg (Flórida/EUA) – Em 16 temporadas como profissional, Madison Keys construiu uma carreira de sucesso. Ela venceu quase 300 partidas, ganhou quase US$ 20 milhões em prêmios e se estabeleceu em uma posição confortável como uma das 20 melhores jogadoras do circuito profissional, resumiu o site da WTA. A única coisa que faltava era um título de Grand Slam. Mas a lacuna foi preenchida sábado passado com sua conquista no Aberto da Austrália, superando a bielorrussa Aryna Sabalenka por 6/3, 2/6 e 7/5.
No início do ano passado, à medida que seu relacionamento com Bjorn Fratangelo se aprofundava, eles começaram a discutir seriamente seu futuro. Keys casou-se com Fratangelo, em novembro passado, e ele se perguntou em voz alta: “Quando o que é bom não é bom o suficiente? Era como se eu quisesse saber quanto você quer tirar disso”, disse Fratangelo aos repórteres antes da final do Aberto da Austrália. “Você está feliz em ficar entre o 11º e o 25º lugar do ranking? Você quer tentar pressionar por mais? O que você quer?”
Keys, que fará 30 anos no mês que vem, decidiu que queria mais. Então, os dois começaram a fazer algumas mudanças técnicas drásticas: na raquete, nas cordas e no saque. A maior modificação, porém, foi interna.
Keys, jogando à vontade mesmo com a partida acirrada no sábado em Melbourne, fez bonito. Ela não recuou diante da número 1 do, acabando com a sequência de 20 vitórias de Sabalenka na competição e com a esperança de ganhar um terceiro título consecutivo.
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Após sua vitória na semifinal sobre Iga Swiatek, Keys explicou: “Estou chegando ao ponto em que estou começando a apreciar minha carreira pelo que ela tem sido, e não é preciso ter um Grand Slam para que eu possa olhar para ele e dizer: “Fiz um trabalho muito bom”.
Houve um momento no crucial terceiro set em que Keys ofereceu um vislumbre de sua nova mentalidade. Sacando em 2 a 2, ela estava avançando quando Sabalenka lançou um lob. Keys girou e deu um excelente backhand por cima da cabeça — o golpe mais difícil do tênis — que atravessou a quadra em um ângulo bem agudo. Keys, apesar da tensão do momento, não conseguiu conter o riso. Ela também estava solta na semifinal contra Iga Swiatek, salvando um match point e jogando com convicção.
Sabalenka disse mais tarde: “Ela simplesmente entrou em cena e jogou, tipo, sem nada a perder no final e estava apenas dando seus golpes”.
Após a conquista inédita, as estatísticas ressaltaram o quão improvável o resultado era para Keys: a jogadora mais velha a derrotar a número 1 e a número 2 do mundo nas semifinais e na final de um Grand Slam desde que o ranking da WTA foi publicado em 1975 — e a primeira a fazer isso em 16 anos; a jogadora com menor ranking (19º) a vencer o Aberto da Austrália na Era Aberta; ganhou seu primeiro título importante em sua 46ª oportunidade — apenas Flavia Pennetta (49), Goran Ivanisevic (48) e Marion Bartoli (47) esperaram mais na Era Aberta.
Em reunião posterior com a imprensa, Keys falou de forma honesta sobre sua jornada. “Desde muito jovem, eu sentia que se nunca tivesse vencido um Grand Slam, então não teria vivido de acordo com o que as pessoas achavam que eu deveria ter sido”, disse Keys. “Era um fardo bem pesado para carregar. Acho que isso me forçou a me olhar um pouco no espelho e tentar trabalhar na pressão interna que eu estava colocando em mim mesma.”
Keys atribuiu à terapia — muita terapia — a mudança em sua perspectiva. “Realmente começar a me aprofundar em como me sentia sobre mim mesma e ser honesta comigo mesma sobre isso, foi muito difícil”, disse. “Então, ser realmente honesta e realmente obter ajuda e falar com alguém, não apenas sobre tênis, mas sobre como me sentia sobre mim mesma. Sinceramente, acho que se eu não tivesse feito isso, não estaria sentada aqui.”
Keys abriu a temporada vencendo 14 partidas (a melhor entre as jogadoras da WTA e perdendo apenas uma. Ela construiu uma sequência de 12 vitórias, a mais longa de sua carreira. Nesse período de três semanas, ela derrotou cinco Top 10 do mundo: Sabalenka, Swiatek, Elena Rybakina, Jessica Pegula e Daria Kasatkina.
Nesta segunda-feira, ela subiu para a 7ª posição no ranking da WTA, igualando seu melhor desempenho na carreira, alcançado há mais de oito anos, na primavera de 2016. O sucesso recente de tantas mulheres mais tarde em suas carreiras, ela disse, foi um motivo para otimismo. “Eu realmente acho que sim”, disse Keys. “As coisas estão começando a mudar um pouco. Acho que chegar aos 30 anos ou mais não é mais o fim de uma carreira.”
De volta aos Estados Unidos, Madison Keys tirou uma selfie em Nova York diante de um cartaz que diz “Não acontece da noite para o dia, até que acontece.”
História belíssima!!!
Mereceu o troféu!
Jogou demais!
E se continuar jogando com a mesma garra e qualidade nos golpes, vai longe…
Sempre achei a Keys a mais simpática das tenistas norte-americanas. Agora, nessa gira na Austrália, deu um show de humildade, simpatia e bom humor. Nas quadras, colhe um pouco tardiamente os melhores resultados do seu empenho e talento, sem nunca abrir mão da ofensividade que tem sido sua marca registrada. Que venham mais grandes conquistas!
Seu relato sobre como se sentia pelo fato de não ter um Grand Slam e toda a pressão e desequilíbrio que isso exerceu durante anos sobre seu estado emocional mostra como alguns comentários aqui são completamente levianos e como na maioria das vezes não temos informações suficientes para pré-julgamentos, críticas e cobranças, principalmente pela falta de um quadro mais amplo e preciso das reais condições de cada atleta.
Sempre bateu golpes pesados de direita e de esquerda, gerando potência com facilidade, embora ainda sofresse com inconsistência no início da carreira. Que grata surpresa vê-la vencendo seu primeiro grand slam batendo 5 top 10, com a confiança de aço. Parabéns e que permaneça no topo do ranking por um longo tempo.