Jogar tênis é uma verdadeira benção

Mauro Marim de Barros
De Santo André/SP

Em 1990 estava no “auge” do meu tênis. Participava de todos os torneios possíveis da FPT, incluindo Interclubes (defendia o Clube Atlético Aramaçan, de Santo André), quando minha carreira tenística sofreu um revés importante: Perdi a visão do olho direito decorrente de agressão de delinquentes.

Quando cheguei no hospital Cristóvão da Gama já percebi a gravidade da situação pois o médico disse que não poderia fazer nada e que era necessário que eu fosse encaminhado ao Hospital de Clínicas em São Paulo. Tão logo cheguei os médicos me encaminharam para o centro cirúrgico e na mesma tarde fiz a primeira de 3 cirurgias.

Ainda no Hospital de Clínicas recebi o diagnóstico de que estavam lutando para que eu não perdesse o globo ocular, porém a visão do olho direito estava definitivamente perdida. Minha primeira pergunta foi se eu conseguiria jogar tênis e a resposta que eu tive foi que isso não seria possível pois eu não teria mais a visão tridimensional.

De fato o tempo demonstrou que mesmo para pequenas atividades existia limitações ou obstáculos, mas o problema maior no momento era uma insistente hemorragia que demorou muito para desaparecer e também a necessidade de tomar altas doses de remédios que provocaram a retenção de líquidos e somando ao fato da necessidade de total repouso (foram mais de 2 anos sem poder realizar nenhuma atividade física pois agravava a hemorragia ocular).

Quando o Dr. Pedro Paulo me autorizou a pequenas caminhadas, eu tinha saído de 62 kg (tenho 1,78m) para 94 kg. O processo exigiu muito esforço e perseverança pois tinha muitas náuseas e o esforço físico (simples caminhadas) provocava vómitos. Assim eu levava algumas bananas e, quando vomitava, comia meia ou uma banana com água e retornava as voltas no campo de futebol do dente de leite. Em um único dia, cheguei a vomitar 5 vezes, mas após algum descanso e banana com água retornava ao processo…

Outro importante obstáculo era fazer com que meu cérebro criasse mecanismos para compensar a visão monocular e incorporei o pingue-pongue meu exercício diário pois era de “baixo impacto”. Encostava meia mesa na parede formando um “paredão de tênis de mesa” e jogava a bolinha alta e tentava golpeá-la antes de pingar na mesa. De fato era quase impossível conseguir identificar o momento exato de impactar a raquete com a bolinha e depois de aproximadamente 1 ano e meio meu cérebro aceitou minha teimosia e começou a colaborar… rsrsrs

Somente após oito anos é que voltei a pisar na quadra de tênis. Foi uma manhã de domingo às 6h (horário que o clube abre). Fui para treinar saque. Nesta época já estava autorizado a maiores esforços e batia paredão. Uma curiosidade é que, antes do problema, eu jogava saque e voleio e quando retornei tive que adaptar meu jogo para base. E o paredão foi meu grande parceiro neste processo.

Nesse dia que pisei na quadra de tênis novamente não consegui conter o choro. Sentei na quadra e fiz uma oração, agradecendo ao Pai pela benção de retornar a uma quadra de tênis.

Minha mensagem é de que para nós, tenistas brasileiros, poder jogar tênis é uma verdadeira benção e todas as vezes que piso em uma quadra mentalmente agradeço a Deus.

Em dezembro farei 60 anos e estou em plena forma física e emocional, jogando um tênis de boa qualidade… rsrsrsrs.

Um grande abraço a todos.

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Guilherme E.S. Ribeiro
Guilherme E.S. Ribeiro
8 horas atrás

Que bela história de superação. Cheguei a arrepiar ao ler sua crônica. Você conseguiu transmitir a emoção. Parabéns pela perseverança e determinação. Belíssimo exemplo

Paulo A.
Paulo A.
5 horas atrás
Responder para  Guilherme E.S. Ribeiro

Sim, muito emocionante! Você já é um vitorioso e muito inspirador. Como é jovem ainda, terá muitos anos e alegrias jogando tênis. Obrigado por compartilhar sua bela estória de superação. Saúde a você!

João Sawao ando
João Sawao ando
8 horas atrás

Que bom Mauro. Que continue a jogar tenis eternamente. Saúde e paz .joao ando

JClaudio
JClaudio
7 horas atrás

Parabéns pela superação, muito legal ver o esporte sendo parte disso.

Vanda Ferraz Lopes de Oliveira
Vanda Ferraz Lopes de Oliveira
7 horas atrás

Parabéns!!!!!!!
Também me emocionei!!!
Fiz parte de uma família de tenistas!!!!
Aprendemos muuuuito com o tênis!!!
Sua história é linda!!

Emerson Ferrandini
Emerson Ferrandini
5 horas atrás

Tive o privilégio de ser parceiro de tênis do Mauro por muitos anos, até que, há 10 anos, mudei para outro país. É impossível não me emocionar ao reencontrar aqui no site um grande amigo que me proporcionou tantas memórias dentro de uma quadra de tênis. Sempre com um sorriso no rosto, pessoa de caráter, de bom coração, Mauro nunca se colocou diante das adversidades da vida como vítima. Muito pelo contrário, transformou os desafios em oportunidades de crescimento e inspirou muitos com sua positividade. Todo começo de partida sempre afirmava em tom de brincadeira “tô jogando muito”, e o resultado final nunca importou. Sempre em quadra pelo prazer de jogar tênis. Mauro meu caro, você é uma referência para muitos! Enorme abraço!

Maurício Luís *
Maurício Luís *
4 horas atrás

Grande exemplo de superação. Acho que nesse ponto, em nada ficou devendo ao Nadal, talvez até mais. Impressionante. Parabéns mil vezes!

Samuel, o Samuca
Samuel, o Samuca
4 horas atrás

Deus te abençoe!!!

Neri Malheiros
Neri Malheiros
3 horas atrás

De fato, Mauro, tua história de amor com o tênis é comovente, edificante e inspiradora. Parabéns pela resiliência e superação quando tudo indicava que terias que deixar de lado a paixão pelo esporte. Vida longa e muitas alegrias na vida. Um abraço!

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