Felipe Priante
Rio de Janeiro (RJ) – Na última sexta-feira, o espanhol David Ferrer visitou o Rio Open, onde foi campeão em 2015, na segunda edição do torneio. Entre os diversos compromissos, o ex-número 3 do mundo conversou com a imprensa e deu entrevista exclusiva a TenisBrasil, na qual analisou o momento de baixa do tênis espanhol, a pressão sobre Carlos Alcaraz e as possibilidades para Rafael Nadal na temporada.
Capitão espanhol na Copa Davis e diretor do ATP 500 de Barcelona, Ferrer vê o momento da “Armada” como em transição, mas não acredita que exista uma crise. “Não se pode ser sempre top 10, na Espanha estamos mal acostumados”, afirmou o dono de 27 títulos no circuito.
Sobre a pressão sobre Alcaraz, o veterano espanhol pede paciência com o jovem compatriota. “O ano acabou de começar, é normal, agora Carlos joga com mais pressão e é mais difícil manejar esse peso, mas ele é um jogador que vai evoluir e não tem problema. Todos já passaram por isso. Eu me lembro que Roger, Rafa e Novak também tiveram momentos de perder partidas quando tinham 20 anos”.
Veja como foi a conversa com Ferrer:
Você é o atual capitão da Copa Davis, mas no ano passado o desempenho ficou um pouco abaixo do normal. Como você avalia isso?
A Copa Davis mudou muito nos últimos anos. Acho que era importante fazer pequenas mudanças, talvez no ano que vem algumas coisas mudem no formato, mas o torneio não deixa de ser algo muito importante para os jogadores, que defendem as cores de seu país, independentemente do formato que seja. Este atual nos inspira porque temos a chance de jogar na Espanha. Ser capitão é algo que me importa muito e espero que os jogadores possam ter a mesma emoção que tive como jogador.
O momento do tênis espanhol está um pouco abaixo, com bem menos jogadores entre as principais colocações do ranking. O que aconteceu nos últimos anos?
Acho que é um momento de transição com os jogadores. Não está fácil de encontrar tenistas do nível de Rafa (Nadal) e demos uma sorte de termos Carlos Alcaraz, que é um cara especial. Claro que também temos nomes como Alejandro Davidovich, Pablo Carreño que está lesionado e não está conseguindo voltar, a partir daí podemos levar um tempo até conseguirmos ter outros jogadores no top 10 novamente. Não podemos esquecer de Roberto Carballes, Pedro Martinez, Bernabe Zapata, que estão no top 100. Não se pode ser sempre top 10, na Espanha estamos mal acostumados.
Olhando para a nova geração como Landaluce e Rincon, o que falta para eles alcançarem um nível maior?
São jogadores jovens que necessitam de amadurecimento e tempo, são caras que têm uma boa projeção e precisam mesmo é de tempo. Cada jogador amadurece com uma idade, nem todos podem ser como Rafa Nadal ou Carlos Alcaraz, a partir daí veremos para chegar até o top 100, top 50. Um jogador que hoje em dia eu gosto muito é Martin Landaluce.
Como é a pressão em cima de Carlos na Espanha para que tenha os mesmos resultados de Rafa?
As pessoas viram que, com menos de 20 anos, ele já conseguiu dois Grand Slam, então é lógico que comparem com Rafa, mas Carlos tem que fazer seu caminho. Quando falamos de Nadal estamos falando de um dos melhores da história deste esporte. Entendo que a imprensa coloque essa pressão e faça essa comparação, mas também entendo que precisamos ter paciência e estar tranquilo para desfrutarmos dos dois jogadores.
Por falar em paciência, você acredita que perderam a paciência com Carlos, que é ainda muito jovem e ainda tem muito tempo de carreira pela frente?
O ano acabou de começar, é normal, agora Carlos joga com mais pressão e é mais difícil manejar esse peso, mas ele é um jogador que vai evoluir e não tem problema. Todos já passaram por isso. Eu me lembro que Roger, Rafa e Novak também tiveram momentos de perder partidas quando tinham 20 anos, é uma coisa normal. Quando vemos um jogador tão jovem vencendo, achamos que ele vai ganhar tudo, que vai fazer o que Rafa ou Djokovic fizeram, mas ele tem 20 anos. Calma, não tem problema, está tudo bem.
O que você acha dessa rivalidade entre Carlos e Jannik Sinner, que vai se solidificando?
Como fã de tênis, é algo que eu gosto muito, é bom que jogadores desse calibre tenham uma rivalidade. Quem sabe possa ser algo parecido com o que foi entre Rafa e Roger, ou Sampras e Agassi. Os dois jogadores são boa gente e gosto muito disso, são um exemplo para a sociedade.
Você também é diretor do ATP 500 de Barcelona e Nadal deve jogar lá. Você tem falado com ele? Tem alguma novidade sobre sua preparação?
Rafa está treinando para jogar a exibição de Las Vegas contra Alcaraz, depois joga Indian Wells e segue para a temporada de saibro. A partir daí vamos ver como vai evoluindo.
Você já passou por seus últimos anos de circuito e agora é a vez de Rafa. Como vê essa reta final dele na ATP?
Eu acho que, se Rafa estiver competitivo e não sofrer lesões, vai seguir jogando um ano mais. Se ele se sente capacitado para competir com os melhores e ganhar um Grand Slam, acho que ele vai tentar.
Nadal ainda é o maior favorito no saibro?
Precisamos ver primeiro. Se ele estiver bem, não tiver nenhuma lesão e estiver competindo bem, com certeza vai ser um dos favoritos. O maior favorito eu não sei, precisamos ver o começo da temporada de saibro para poder falar algo.
Este ano temos dois grandes torneios no saibro, não apenas Roland Garros, mas também os Jogos Olímpicos. Quais as chances do tênis espanhol neles?
É no saibro, então tanto Rafa como Carlos, além de Davidovich são jogadores que vão muito bem na terra batida. Em Roland Garros, Carlos e Rafa, se estiver bem, ambos estão entre os favoritos. E nas Olimpíadas espero que os dois joguem duplas juntos e possam conquistar uma medalha.
O problema para a nova geração é que o sarrafo ficou mais alto. Qualquer jovem talento que apareça, começa a se especular e criar expectativa se ele vai repetir o sucesso do Big 3. E aí a responsabilidade fica enorme. Ainda mais se considerarmos que o Djokovic ainda está na ativa e em condições de aumentar ainda mais os seus números. Se o Alcaraz esquecer o Big 3 e tentar construir a sua história sem tanta cobrança de repetir os números do Big 3, talvez tenha mais tranquilidade para jogar os torneios. Se manter no patamar mais alto é muito mais difícil do que chegar lá. No esporte, quando se atinge o ápice de determinada carreira, a badalação da imprensa e do público é enorme e aí fica muito difícil administrar a cabeça para não se desviar do caminho. Além disso, existe uma tendência da pessoa se acomodar e esse é um outro grande desafio que o atleta tem que superar. Então, o Alcaraz tem que esquecer o Big 3 e tentar construir a sua história sem se preocupar se vai chegar perto dos números do Federer, Nadal e Djokovic.