A temporada 2024 do tênis começou ainda no ano velho, mas expectativas estão renovadas. Gostei do que vi da postura que Beatriz Haddad Maia deve trazer para seu novo calendário entre as tops do circuito e Thiago Wild deu mostra de que pode ao menos permanecer firme entre os 100 melhores. Isso tudo apesar de termos vencido apenas um de seis jogos da United Cup. Será que estou otimista demais nesta virada?
Bia trouxe uma proposta claramente diferente para sua primeira partida em Perth, quando encarou o tênis muito regular e brigador de Sara Sorribes, aquela que a levou a quatro horas de tortura no saibro de Roland Garros do (quase) ano passado, aliás eleita até pela mídia europeia como a melhor partida de 2023.
Ao invés de competir na regularidade, Bia fugiu muito do backhand e usou ao máximo seu forehand para desequilibrar a espanhola, quando não para matar diretamente o ponto. E para fazer isso, no melhor estilo Nadal, é preciso de muito ajuste de pernas. Deslocar-se para o lado assim que perceber a chance e dar aqueles fundamentais passos curtos para ficar bem posicionada para o golpe. E Bia fez isso às maravilhas, a ponto de terminar o jogo com 21 winners com o forehand.
Claro que nada disso funcionou contra Iga Swiatek. Porque a polonesa jogou de forma muito inteligente e precisa. Pegou a bola bem na frente, encurtando o tempo, e tomou a iniciativa sempre que percebeu ter deixado a brasileira na defensiva, geralmente com uma paralela. Com esse padrão tático tão apurado, Bia não teve qualquer chance de fugir do backhand e o placar largo se explica porque nossa canhota também não sacou tão bem como deveria.
Ou seja, devemos dar muito mais crédito à excelente atuação da número 1 do mundo do que achar defeitos no jogo da brasileira. Claro que, num piso que está veloz, principalmente nos primeiros games de bola nova, Bia terá de sacar bem melhor para encarar tenistas de jogo pesado, como até Swiatek mostrou que tentará fazer em 2024. Vamos ver o que ela faz no duro torneio de Adelaide da outra semana.
Wild por sua vez jogou muito melhor contra o top 10 e especialista no piso Hubert Hurkacz do que diante do 26 do mundo e saibrista nato Alejandro Davidovich. Ele só fez um bom primeiro set diante do espanhol, perdendo completamente o ritmo depois, mas compensou isso com um primeiro set de alto nível diante do polonês. É bem verdade que Hurkacz não primou por um alto índice de primeiro saque e o paranaense soube explorar isso nas trocas de bola. Gostei de sua ousadia em algumas transições à rede, ainda que por vezes na hora imprópria.
Há de se destacar que o brasileiro está sacando bem melhor, e isso vem desde a incrível vitória sobre Daniil Medvedev em Roland Garros. Wild tem apenas 27 pontos a defender entre janeiro e fevereiro, o que abre portas para jogar solto e quem sabe até subir no ranking.
E lá fora…
– Há uma série de gente importante que retoma, ou menos tenta, a carreira neste comecinho de 2024. Claro que todos os olhos estão em cima de Rafa Nadal, mas é bom lembrar também de Marin Cilic, Naomi Osaka, Angelique Kerber e Emma Raducanu.
– Rafa está treinando muito e com diferentes parceiros. Já bateu com Rune, Thiem, Murray e Shelton lá em Brisbane, gente de estilo e pegada muito distintos.
– A partida de duplas, ao lado do aposentado Marc López, não serve para grande referência, porque afinal o tenista cobre só metade da quadra e é justamente o deslocamento que precisamos observar no espanhol. A estreia será na terça-feira local diante do mesmo Thiem, que sofreu horrores para furar o quali. Nada mau.
– Osaka é quem mais me chama a atenção nessa leva de retornos femininos, porque não consigo ver tanto futuro imediato em Kerber ou Raducanu. A japonesa ao contrário pega pesado na bola, adora a quadra dura e já ganhou duas vezes em Melbourne. Vamos ver como se sai em Brisbane.
– Quem continua o mesmo é Novak Djokovic. Ótima estreia na United Cup, empenhou-se na mista e teve uma sacada espirituosa e simpática ao pedir para o público ficar e comemorar ali mesmo o Ano Novo, que chegaria em cinco minutos. O sérvio parece muito leve e feliz para pesadelo de seus adversários.
– Feliz Ano Novo a todos vocês. O tênis promete uma temporada espetacular.