Duas jogadoras no atual top 10 do ranking mundial passaram pelo Brasil no início de suas carreiras. Classificadas pela primeira vez para o WTA Finals, a grega Maria Sakkari (número 6 do mundo) e a espanhola Paula Badosa (décima colocada) atuaram em vários torneios do circuito da ITF nas cidades de São Paulo, Campinas e Curitiba entre 2014 e 2017, e também disputaram o Rio Open há cinco anos, quando o torneio ainda contava com uma chave feminina. Em entrevistas a TenisBrasil durante o Finals de Guadalajara, Badosa e Sakkari relembraram o começo de suas trajetórias no tênis profissional e deixaram mensagens para as jogadoras que hoje disputam torneios deste nível.
"Eu me recordo, sim, de estar no Brasil. Estive várias vezes, entre 2014, 2016 e 2017. Sempre tenho ótimas lembranças de jogar no Brasil e também ficava muito feliz de jogar na América do Sul. Gosto muito da maneira como as pessoas nos tratam e cuidam de nós, os torneios são sempre muito bem organizados", disse Paula Badosa, vinda do maior título na carreira no WTA 1000 de Indian Wells.
.@paulabadosa getting ready for the WTA Finals in Guadalajara pic.twitter.com/sc57PwjgCt
— Jimmie48 Photography (@JJlovesTennis) November 8, 2021
"A mensagem que posso deixar para as jogadoras que estão disputando torneios deste nível é que até 2019, há menos de dois anos, eu estava jogando ITFs. Mesmo em 2020, antes da pandemia, eu ainda estava jogando ITF. E em um ano, consegui mudar totalmente a minha carreira e a minha vida", explica a jogadora de 23 anos, que só chegou ao top 100 no fim de 2019 e iniciou a atual temporada ocupando apenas o 70º lugar do ranking.
"E quero dizer a elas que se você trabalhar muito e acreditar que pode conseguir, obviamente tendo talento também, as coisas são possíveis e sonhos podem se tornar realidade. As grandes tenistas, e não apenas eu, saem desses torneios de 15 mil e 25 mil. E para chegar até aqui, todas precisam passar por essa fase. Todas têm um nível muito alto. É lá que tudo começa", acrescentou a espanhola, que está no mesmo grupo de Sakkari, além de Iga Swiatek e Aryna Sabalenka no Finals.
'O tênis feminino pode crescer muito na América do Sul', diz Badosa
"Creio que o tênis na América do Sul pode crescer pouco a pouco, há jogadoras como a Nadia Podoroska, Bia Haddad Maia e muitas outras que também são ótimas e estão no nível mais alto. Isso é muito importante, porque assim vão surgindo novas jogadoras que vão se motivar para se tornarem profissionais", afirmou Badosa, que espera contar com o apoio do público mexicano durante esta semana. "Espero ser a favorita dos fãs em Guadalajara ou que eu e Garbiñe [Muguruza] sejamos. Por sorte, estamos em grupos diferentes, então é possível que os fãs torçam por nós duas. É claro que é muito bom que haja espanholas na chave e que as latinas possam se sentir representadas no Finals".
👋@mariasakkari making her WTA Finals debut in Guadalajara pic.twitter.com/yz0Dz2rdJF
— Jimmie48 Photography (@JJlovesTennis) November 7, 2021
Maria Sakkari, de 26 anos, disputou nesta temporada suas primeiras semifinais de Grand Slam em Roland Garros e no US Open. A grega corrobora com o discurso da colega de circuito em incentivar as meninas que estão atualmente nos torneios menores. "Não faz muito tempo que eu estava jogando esses torneios de 15 mil e 25 mil. É só uma questão de quem acredita mais e de quem trabalha mais. Uma coisa que tenho a dizer é que eu realmente acreditei em mim durante todos esses anos. Não o tempo todo, mas na maioria das vezes (sorrindo). Posso dizer com certeza que realmente trabalhei muito para estar aqui. É só que é uma questão do quanto você confia em si mesma".
Finals na América Latina anima Garbiñe Muguruza
Outra jogadora bastante empolgada com a possibilidade de disputar um grande torneio na América Latina é a também espanhola Garbiñe Muguruza, ex-número 1 do mundo e atual quinta colocada aos 28 anos. Ela está ciente de que o fato de haver duas jogadoras que falem espanhol no top 10 pode atrair um novo público para o esporte e inspirar jovens jogadoras. Nascida em Caracas, na Venezuela, Muguruza se mudou para a Espanha com a família quando era criança, mas não deixa para trás suas origens sul-americanas. No ano passado, durante o período mais restritivo da pandemia, participou de vídeo-conferência com várias juvenis do continente.
"Sinto que eu e a Paula podemos ser as favoritas dos fãs apenas, porque temos uma cultura semelhante, a cultura latina em geral. Eu sinto que é ótimo", disse Muguruza a TenisBrasil. Ela estreia nesta quarta-feira contra Karolina Pliskova. "Já faz muito tempo que não tínhamos duas espanholas no Finals, são 21 anos. Acho que a nossa presença no torneio vai motivar as jovens da Espanha e também da América Latina, que podem se identificar conosco ao nos ouvirem falar. Elas podem se sentir mais próximas do tênis, o que nem sempre acontece quando se vê jogadoras distantes ou estrangeiras. Sinto que desta vez elas podem estar mais perto de nós".
Muguruza: 'It's been 21 years since 2 🇪🇸🇪🇸 qualified. This is going to motivate young girls from Spain, Latin America. They can relate, hear us talk, get a more familiar feeling of tennis, not always seeing foreign players. This time they can be more close to us.’ #AKRONWTAFinals pic.twitter.com/yEF8LClmhr
— WTA Insider (@WTA_insider) November 9, 2021
A espanhola diz ainda que a transferência de sede do Finals, inicialmente marcado para a China, mas levado para o México em função da pandemia, trouxe motivação extra para que ela se classificasse para o torneio. "Bom, pra ser sincera, eu nunca pensei que a América Latina pudesse realizar o Finals, porque é muito complicado, sob muitos aspectos. Quando Steve [Simon, CEO da WTA] disse que Guadalajara era uma opção, eu pensei: 'Oh, meu Deus, tem certeza? Você quer dizer Guadalajara, México, certo? Não tem outra Guadalajara (sorrindo)?' Eu estava muito ansiosa para ver isso acontecer".
Muguruza também espera que a América do Sul também possa sediar grandes torneios da WTA nos próximos anos. Atualmente, o único 250 na região ocorre em Bogotá, enquanto Buenos Aires e Montevidéu têm eventos da série 125 no calendário deste ano. Ela também já jogou no Brasil e chegou a ser finalista de um WTA que acontecia em Florianópolis ainda em 2014.
"É sempre bom jogar o WTA Finals, mas não é a mesma coisa jogar na China ou na América Latina. É uma oportunidade única na vida. Isso teve um grande efeito em mim. Eu acho ótimo porque o tênis feminino não é uma prioridade na América Latina. Eu sinto que é algo que parecia impossível, mas agora é possível. Espero que outros países fiquem mais animados. Seria incrível fazer um pequeno circuito na América do Sul em algum momento do calendário".