Quando Andrey Rublev e Anastasia Pavlyuchenkova subiram ao lugar mais alto do pódio das duplas mistas, o último do tênis nesta edição do Jogos Olímpicos, todo o protocolo a ser seguido já era sabido. Os campeões olímpicos receberiam suas medalhas, mas não veriam a bandeira russa ser hasteada no lugar mais alto e tampouco ouviriam o hino de seu país. Tudo isso porque a Rússia oficialmente não veio a Tóquio.
A história toda começa lá atrás, em 2019, quando a Agência Mundial Antidoping (Wada) baniu a Rússia de competições oficiais devido aos escândalos de doping evolvendo atletas do país. Encontrou-se então um subterfúgio para que os russos pudessem competir em Tóquio: eles não defenderiam a Rússia como nação, mas o Comitê Olímpico Russo (ROC, na sigla em inglês), jogando sob a bandeira do comitê e não da nação.
Em conversa com alguns jornalistas russos na sala da imprensa, eles contaram que logo que saiu a punição houve revolta e que mesmo depois de serem permitidos nos Jogos Olímpicos, representando o ROC, o descontentamento seguiu por um tempo. Contudo, ao perceberem que efetivamente pouca coisa mudaria, os russos passaram a não ligar mais muito para isso e focaram mesmo na competição.
E até mesmo os jornalistas russos acabaram “afetados”, pois eles também não estão credenciados como russos e sim como representantes do ROC. Eles até me atentaram para olhar nas credenciais no pescoço. Onde na minha aparece uma inscrição de BRA, em referência ao Brasil, a deles mantém o padrão dos atletas e está com ROC.
📞"Wow. I did not foresee this."
— The Exploding Heads (@Exploding_Heads) July 29, 2021
Lord Coe reacts to Russia, banned from the Olympics, taking part in the Olympics with a slightly different name. #Olympics pic.twitter.com/yvLLWz7j3P
Principal estrela do país no tênis, Daniil Medvedev se desentendeu com um jornalista que questionou se os russos não ficam com o estigma de trapaceiros. Já o medalhista de prata Karen Khachanov preferiu não comentar nada para não polemizar ainda mais quando lhe perguntei se via alguma diferença competir pela bandeira do comitê russo e não da Rússia.
Sem poder ostentar a bandeira russa, embora as cores estejam liberadas, o hino do país também ficou de fora, mas para não deixar o pódio dos atletas sem nada, o COI (Comitê Olímpico Internacional) acatou um pedido e permitirá que uma música do compositor Pyotr Tchaikovsky (1840-1893) seja executada em substituição ao hino, como aconteceu no pódio das duplas mistas e que parece não ter feito diferença para os tenistas.
"Eu joguei pelo meu país, mas também joguei por mim mesma, então não fez tanta diferença. Estou aqui para competir e venci uma medalha de ouro, foi isso que aconteceu”, disse a campeã Pavlyuchenkova. “Não estava nem pensando nisso porque já sabia as regras desde o começo, estava pensando que mesmo nessas condições conseguimos vencer uma medalha, então me senti duplamente feliz”, completou o parceiro Rublev.
Ainda sobre o hino, a primeira opção não era tocar Tchaikovsky no pódio e sim a canção patriótica Katiusha, composta entre a Primeira e a Segunda Guerras Mundiais, mas acabou sendo rejeitada.
Seja com o nome que for, a campanha dos representantes daquele país que sediou a última Copa do Mundo de futebol e que não pode ser citado nos Jogos Olímpicos foi a melhor no tênis, terminando em primeiro no quadro de medalhas da modalidade. Eles foram os únicos a conquistar três medalhas, uma de ouro e duas de prata. Ao todo, 10 países saíram medalhados do tênis em Tóquio 2020, mas que aconteceu em 2021.
The #Tokyo2020 #Olympic #Tennis Event ends with 5 different nations winning gold medals and 10 nations winning medals overall. ROC tops the final medal table, while Brazil, New Zealand and Ukraine all won medals in tennis at the #Olympics for the first time. pic.twitter.com/hz1XWtRMNA
— ITF Media (@ITFMedia) August 1, 2021