Nova York (EUA) - Apesar do título do Masters 1000 de Cincinnati neste sábado, o principal assunto na entrevista de Novak Djokovic foi a criação de uma associação de jogadores paralela. O número 1 do mundo confirmou a movimentação que está sendo feita por parte de tenistas insatisfeitos com a atual liderança da ATP, sob o comando do italiano Andrea Gaudenzi.
Djokovic também esclareceu alguns pontos: Ele diz que a nova entidade tem aparato legal para funcionar e não vai concorrer com a ATP, no sentido de promover torneios. Com nome de Professional Tennis Players Association (PTPA), o grupo visa cuidar exclusivamente dos interesses dos jogadores nas negociações do circuito.
"Li na carta da ATP que eles acham que não podem coexistir com a associação. Eu tenho que discordar respeitosamente. Legalmente, estamos 100% seguros e autorizados a formar uma associação de jogadores. Isso não é um sindicato, não estamos pedindo boicotes. E não estamos formando circuitos paralelos", disse Djokovic, na videoconferência com jornalistas.
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O sérvio também comentou sobre as negativas de Roger Federer e Rafael Nadal, também integrantes do Conselho da ATP. Além deles, Andy Murray também não é signatário do grupo, citando entre suas razões que as mulheres não foram consultadas. "Adoraria ter Roger e Rafa a bordo. Adoraria ter todos os jogadores a bordo, mas entendo", explica o líder do ranking. "Eles não acham que é a hora certa. Eu acho que é a hora certa. A hora é sempre certa. É como ter um bebê. A hora nunca é certa ou sempre é certa".
Sérvio enviou carta aos jogadores
Na última sexta-feira, Djokovic havia enviado uma carta aos demais jogadores elencando as razões para a criação de uma associação de atletas. "Tenho participado da 'política do tênis' através do conselho de jogadores nos últimos 10 ou 15 anos. Já vi 4 ou 5 presidentes diferentes e muitos representantes do conselho. Saibam que o projeto de uma associação de jogadores não é novo. É uma ideia que circula nos bastidores do circuito há 30 anos. Muitos jogadores em diferentes gerações tentaram estabelecer uma união, que permitiria uma representação melhor e mais forte no ecossistema do tênis".
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"Até agora ninguém conseguiu concretizar esta associação. Existem muitos motivos e fatores pelos quais isso não aconteceu. Mas provavelmente o maior motivo é porque os jogadores não estavam unidos. A estrutura ATP é ruim para jogadores. Não acho que a estrutura e o sistema ATP estejam ajudando os tenistas. Já foi provado muitas vezes no passado que esse sistema vai contra nós", afirmou o sérvio de 33 anos, que era presidente do Conselho dos Jogadores, mas deixou o cargo.
"Não estou culpando ninguém individualmente. Vários presidentes tentaram fazer coisas diferentes ao longo dos anos. E é claro que algumas coisas boas foram feitas para o nosso circuito, sem dúvida. Mas eu acho que a maioria de vocês que estão no circuito há bastante tempo concordaria que os jogadores não são tratados e considerados como deveriam", complementou o atual líder do ranking.
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Em sua carta, Djokovic também elencou exemplos de sua insatisfação. Um deles foi o cancelamento da rodada da última quinta-feira de Cincinnati, em respeito aos protestos contra o racismo e violência policial nos Estados Unidos. As manifestações começaram por outras ligas do esporte americano, como a NBA e a MLB (beisebol), e chegaram ao tênis por meio de Naomi Osaka.
"Por exemplo, essa semana o CEO da ATP decidiu em 5 minutos que iria cancelar uma rodada. Ninguém entrou em contato comigo ou com qualquer outro jogador que ainda estava no torneio. Achei isso muito desrespeitoso e errado. Claro, este é apenas um exemplo. Há muitos. Tenho feito parte do Conselho porque esta plataforma era a única em que podemos lutar pelos direitos dos jogadores", disse Djokovic, que já estreia na segunda-feira no US Open.
"Mas quem conhece como essa estrutura funciona sabe que o conselho de jogadores não está tomando nenhuma decisão. Nós escolhemos os nossos representantes, mas nos últimos 10 anos algumas decisões importantes foram contra o interesse da maioria dos jogadores. E como vocês sabes, outros três membros do Conselho são representantes dos torneios. É por isso que estamos lutando tanto com os Grand Slam por premiação, direitos de TV, discussões de calendário, obrigações nos Masters 1000 e etc".
Vitória contra Raonic na final
A respeito da vitória sobre Milos Raonic neste sábado na final de Cincinnati, o sérvio reconheceu que não estava tão bem no primeiro set, muito por conta dos problemas físicos. "Nos últimos três ou quatro dias, eu sofri um pouco com a minha condição física, mas consegui superar isso. Foi um jogo muito duro e que poderia ter ido para qualquer um", disse após vencer por 1/6, 6/3 e 6/4.
"No primeiro set, obviamente, ele estava jogando muito bem e eu cometi algumas faltas duplas e dei duas oportunidades para ele", disse o sérvio, que venceu todos os 11 jogos que fez contra Raonic. "É sempre difícil jogar contra o Milos. Ele tem um dos melhores saques do circuito e coloca muita pressão nos seus games de serviço".
Invicto na temporada, com 23 vitórias, ele também destaca esse fator. "Continuar invicto até agora no ano, obviamente, traz ainda mais confiança a cada partida. Estou tentando aproveitar ao máximo a minha carreira, ainda mais quando sinto que estou no meu auge físico, mental, emocional, e em termos de jogo".