Alguns dos principais jogadores do circuito vivem reclamando do calendário. Dizem que é exigente demais, não se olha para o lado dos atletas, impondo mudanças de pisos, fuso horários, continentes etc e tal. Mas nem bem os tenistas saem de férias e começam a cruzar o planeta para jogos de exibição. A melhor definição para estas partidas talvez fosse jogos da cobiça, com o desejo desmedido pelo dinheiro, pelos bens materiais, glórias.
Rafael Nadal é uma voz forte contra o calendário. Recentemente ensaiou uma briga com Roger Federer, insinuando que o suíço só olhava para o lado dos dirigentes, esquecendo-se do verdadeiro objetivo de defender os jogadores. O espanhol vive sob ameaça de lesões. Mas não se assusta com isso. Em dias de férias enfrenta Novak Djokovic, em encontro que a imprensa chilena definiu como de alto nível. Ou seja, os dois tenistas empenharam-se em quadra… correram, exigiram do físico.
Existe uma verdade no esporte de alto nível: descansar também é treino. O corpo tem limites, ainda mais para quem esteve afastado das quadras por sete meses para cuidar do joelho. Lembro que quando Nadal esteve em São Paulo para o Brasil Open chegou a dar a impressão de que estava com seu futuro ameaçado. Bem… o restante da temporada, com o tamanho sucesso do espanhol, deixou claro que tudo não passava de sua velha mania de reclamar.
Nem é preciso dar exatas cifras para definir que a excelente temporada de Nadal engordou bastante a sua já polpuda conta bancária. Nem tenho as cifras exatas dos cachês acertados para a turnê na América do Sul para confirmar o valor da cobiça.
Este pecado capital da avareza, a cobiça, não ameaça levar apenas Nadal para o purgatório. Recentemente Novak Djokovic, exausto após um final de temporada dos mais impressionantes, abriu mão de participar da partida de duplas – atenção duplas – no confronto final da Copa Davis. A Sérvia perdeu o título para a República Tcheca, não só por isso, é claro, mas a presença do número dois em quadra poderia sim ter mudado o rumo da história. Mas é certo que Nole não aguentava mais jogar. A última notícia que li, ele venceu Nadal ‘em jogo de alto nível na exibição em celebração à despedida do medalhista de ouro chileno Nicolas Massu’.
Os argumentos são muitos. Há algumas semanas vi uma entrevista do preparador físico Eduardo Farias – da equipe brasileira da Copa Davis – dizendo que um dos motivos da temporada instável de Roger Federer em 2013 foi motivada pelas exibições na América do Sul e, consequentemente, sem plenas condições de realizar uma boa pré temporada, atualmente algo imprescindível para o atlético tênis.
Não tenho nada a reclamar da turnê de Federer ao Brasil. O Ginásio do Ibirapuera esteve lotado todos os dias. O clima da torcida estava eletrizante, as partidas de encher os olhos e não tenho dúvidas tornou-se um incentivo para o nascimento de novos tenistas. Particularmente curti muito o evento, especialmente pelo fato de Federer ter participado de uma edição especial do Ace Bandsports, quando concedeu a única entrevista ao vivo no Brasil. Isso graças ao pessoal da Koch Tavares, que operou o milagre.
É claro que Federer levantou um bom cachê. O mesmo deve estar acontecendo com Nadal e Djokovic. Mas será que uma vida longa dentro das quadras, em milionários torneios ao redor do mundo não seria suficiente? Ou será que a cobiça fala mais alto?