Justamente na semana em que um russo assume o reinado no tênis masculino, com a liderança do ranking da ATP nas mãos de Daniil Medvedev, o mundo vive um conflito dos mais execráveis com a guerra na Ucrânia. Mas este momento de animosidades não deve gerar o ódio no esporte. Afinal, alguns dos principais jogadores e jogadoras do circuito já se manifestaram contra a invasão russa e merecem também a paz.
Um dos melhores exemplos partiu do também russo Andrey Rublev. Ao conquistar o título do ATP de Dubai ele fez um bonito e marcante apelo pela paz. Escreveu na lente da câmera em quadra a frase “No War Please”, não a guerra, por favor. O vice-campeão da competição, Jiri Vaseli seguiu na mesma escrita com os dizeres de “Não a guerra”.
É claro que na entrevista coletiva, pós jogo, foi questionado sobre o conflito e foi enfático ao dizer que quer a paz, não a guerra. Contou que coisas terríveis estão acontecendo na Ucrânia e pede a união entre os jogadores.
Mesmo assim, a ucraniana Elina Svitolina ameaçou não entrar na quadra diante de adversárias russas se as autoridades não seguissem a determinação do COI (Comitê Olímpico Internacional) de banir o hino e a bandeira russa nas competições esportivas.
A adversária de Svitolina no WTA de Monterrey, no México, a russa Anastasia Potapova considerou-se refém de uma situação em que não teve qualquer participação. Também confessou-se contra a guerra na Ucrânia. E esse tipo de ação, como a exigida por Svitolina, atingiu também outra russa Anastasia Pavlyuchenkova, que revelou estar com medo de represálias.
Jogar com as cores de sua bandeira é um fato raro no tênis. Apenas surge em algumas competições como Copa Davis, a ex-Fed Cup, Jogos Olímpicos, entre outas poucas oportunidades. Na verdade, alguns tenistas nem mesmo revelam interesse, pois muitos são brigados com suas federações e cresceram mundo afora, sem qualquer ajuda de seus países.
Ainda assim, os principais órgãos governamentais do tênis, como a ITF (Federação Internacional de Tênis), ATP (Associação dos Tenistas Profissionais) e WTA (Associação das Tenistas Profissionais) rapidamente elaboraram um manifesto dizendo-se fortemente contra a ação russa na Ucrânia. Além disso, determinaram o cancelamento do torneio, masculino e feminino, de Moscou; a suspensão das federações da Rússia e Belarus; e o que já era esperado o fato de reafirmar que jogadores russos seguirão aceitos no circuito, mas sem serem representados por bandeira e hino de seu país. O que me assusta um pouco é a advertência no início da frase de ‘por agora’. Ora, jogadores em busca de paz declarada não devem de forma alguma sofrerem ameaças ou restrições.
Nunca é demais lembrar que por muitos e muitos anos, jogadores da chamada “Cortina de Ferro”, países do Leste Europeu, não eram bem vindos ao circuito de tênis. Podia-se contar nos dedos, os tenistas que obtinham autorização para participar de eventos internacionais. Mas, assim que houve a liberação, o tênis feminino foi o que mostrou maior impacto. Afinal, das 128 vagas dos Grand Slams, cerca de 1/3 passaram rapidamente a serem ocupadas por jogadoras do Leste.
A esperança é de que paz reine no mundo e no tênis. Mas fica a expectativa como rivais em quadra irão se comportar em meio a um conflito que envolve praticamente todas as nações. A começar pelo exemplo do tenista ucraniano Sergiy Stakhovsky, que se alistou no exército de seu país e ainda publicou em mídias sociais que gostaria de dançar sobre o túmulo de Putin. A meu ver colocar armas na mão de quem sabe bem manusear uma raquete, diante de soldados bem preparados e treinados, só irá servir para justificar o ataque a civis.
O esporte sempre jogou pela paz… e que sirva para este fim, sem animosidades.