Depois de tantos jogos irregulares e estranhos, enfim surgiu um novo Roger Federer. Ou melhor, o velho Federer. Abusado, agressivo, determinado, chegando firme em bolas difíceis, backhand mais calibrado e o dom nato para jogar na grama. Será que agora vai?
O primeiro set contra Richard Gasquet não foi grande coisa, é verdade. Muita ‘madeirada’, golpes presos e cuidado excessivo em tentar se manter nos pontos. Mas depois de ganhar o tiebreak, o suíço se soltou e aí passou a jogar bem mais próximo daquele tenista tão temido sobre o piso natural do tênis. Fez dois belos sets, o backhand ficou muito mais sólido, as devoluções ganharam peso e, talvez o mais importante de tudo, ele saiu sorrindo e claramente feliz por ter evoluído.
É cedo ainda para otimismos exagerados, porque vem agora um desafio real: o canhoto Cameron Norrie. O britânico não é um favorito ao título, porém ganhou ritmo e confiança em Queen’s. Aliás, vem mostrando um tênis confiável desde o saibro, com boas campanhas em Estoril, Roma, Lyon e Roland Garros. E ainda terá obviamente a torcida, que não vai tentar empurrar Federer como de costume.
Se voltar a jogar bem, Federer ganha então favoritismo contra Lorenzo Sonego ou James Duckworth para um possível e já aguardado duelo diante de Daniil Medvedev nas quartas. O russo no entanto também tem desafios. Fez outra bela apresentação contra o garoto Carlos Alcaraz com um cardápio bem completo de golpes, e cruzará agora com Marin Cilic, aí sim um autêntico jogador de grama. O vice de 2017 não vive seus melhores dias, mas é adepto de um tênis rápido, saque forçado e pontos curtos, e num dia inspirado é osso duro nessa superfície. E não se pode descartar o estilo kamikaze do cazaque Alexander Bublik, adversário de Hubert Hurkacz.
O ‘fator Kyrgios’
O aparecimento de Nick Kyrgios em Wimbledon criou um ‘fator surpresa’ no outro quadrante da chave inferior. Mostrou-se fisicamente bem após a maratona da véspera e venceu Gianluca Mager com 90% de seriedade. Tentou é claro seus malabarismos e me diverti muito no ponto final do tiebreak do primeiro set, quando fingiu que ia dar um saque por baixo, o que levou o italiano a dar um passo à frente, e aí disparou um foguete. Para concluir, pediu ‘conselho’ a uma torcedora. O público britânico o adora e até mesmo voluntários da organização o aplaudiam com euforia após pontos bonitos.
Muito interessante o duelo que fará no sábado contra o embalado Felix Aliassime, que o venceu na grama de Queen’s dois anos atrás. O canadense anda sacando muito e é bem firme da base, o que exigirá muito mais de Kyrgios, incluindo seu humor. Melhor ainda, quem vencer pode muito bem ser o adversário de Alexander Zverev, que para mim tem favoritismo contra Taylor Fritz. O alemão só tem uma oitavas em Wimbledon e economizou muita energia nos dois primeiros jogos.
Outro candidato sério a essa vaga na semi é Matteo Berrettini. Depois de pegar o canhoto e paciente Guido Pella na estreia, passou pelo saque pesado e jogo agressivo de Van de Zandschulp e achou soluções para tudo. Precisa de cuidado com Aljaz Bedene, que já jogou como britânico e gosta da grama. Adiante, estão Jordan Thompson e Illya Ivashka.
Mais surpresas no feminino
A chave das meninas era sabidamente um campo fértil para novidades e surpresas e o complemento da segunda rodada justificou isso, com a queda de mais dois nomes importantes. Elina Svitolina parou em Magda Linette num dia pouco inspirado e Victoria Azarenka caiu diante do tênis muito competente de Sorana Cirstea. Vamos analisar os diferentes quadrantes, que estão bem curiosos.
Ashleigh Barty e Barbora Krejcikova caminham para o confronto direto já nas oitavas e quem vencer pode dar um grande salto rumo à decisão, já que o quadrante anexo é onde está agora Cirstea e aparece o jogo pesado de Jelena Ostapenko. Grande ‘zebra’ desse setor é Emma Raducanu, britânica de apenas 18 anos e atual 338ª do ranking, que fica lá atrás buscando linhas.
Não há um nome realmente favorito no outro quadrante. A campeã de 2018 Angelique Kerber vem é verdade embalada, mas quase se enrolou com a saibrista Sara Sorribes. De qualquer forma, gostaria de ver um embate com Coco Gauff nas oitavas. A jovem americana tem um estilo bem propício para Wimbledon e talvez por isso surja inesperadamente como a terceira mais bem cotada nas bolsas de apostas londrinas. Esse lado também tem Anastasia Pavlyuchenkova, a vice de Paris, que precisa ficar esperta no sábado contra Karolina Muchova.
E mais
– Djokovic reencontra Kudla, a quem venceu duas vezes em 2019, uma delas em Wimbledon, cedendo meros 7 games. Kudla já esteve nas oitavas do torneio em 2015.
– Murray e Evans pegam adversários inéditos: Shapovalov e Korda, ambos na Central. Se vencer, Murray enfim volta ao top 100 e já entre os 90.
– Rublev faz oitavo duelo contra Fognini, o primeiro na grama, e o italiano lidera por 5-2. Na ATP Cup de fevereiro, russo arrasou.
– Serrano, adversária de Sabalenka, é uma das tenistas que mais evoluíram em 2021. Furou o quali tanto de Roland Garros como de Wimbledon. Colombiana tem 19 anos.
– Com a contusão de estreia, Serena deixará o top 15 após Wimbledon.
– O canhoto gaúcho Rafael Matos faz sua estreia em Slam nesta sexta-feira em dupla com Monteiro. Os dois entraram no lugar do machucado Mannarino.
– Kyrgios e Venus são grande atração da chave mista, atuam nesta sexta-feira e podem entrar até na Central.
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