Como é bom ver Thiago Monteiro cada vez mais confortável na quadra dura mais veloz. O canhoto cearense manteve o ritmo e a confiança de sua ótima campanha no ATP 250 de aquecimento da semana passada e superou o eslovaco Andrej Martin em sets diretos, ainda que tenha tido de se salvar no tiebreak inicial.
Monteiro obteve um padrão para encarar o piso sintético, baseado num primeiro saque bem eficiente e num forehand agressivo, geralmente combinados. A estratégia funciona muito bem no lado da vantagem, onde obviamente os canhotos podem usufruir mais do efeito contrário que colocam na bola e abrir bem a quadra. Também é importante observar que o backhand continua a evoluir, está mais compacto, correndo menores riscos. E a soma dessa melhoria na base permite hoje que o número 1 nacional devolva com maior qualidade.
Claro que tudo isso ainda não facilitará seu enorme desafio diante de Andrey Rublev, o jovem top 10 russo que foi quem mais colecionou títulos e vitórias em 2020, o que não é pouca coisa. Rublev se sente muito à vontade na quadra dura, saca muito bem e adora impor ritmo, mesmo na resposta de saque. Mas existe uma chance. Adepto de um tênis de risco, ele por vezes se perde rapidamente quando seus golpes começam a falhar e tem dificuldade em achar um plano B.
Ainda assim, ninguém pode sonhar em lhe tirar o favoritismo. Com justiça, Rublev está cotado para disputar as quartas contra Daniil Medvedev. O compatriota aliás chegou a 15 vitórias seguidas e jogou bem mais solto do que na ATP Cup, atropelando o estilo ofensivo de Vasek Pospisil. Descontraído, o 4º do mundo não quer saber de favoritismo, nem de invencibilidade e simplifica: “Ainda faltam 18 sets para isso”.
Nadal joga bem com saque alterado
O sérvio Laslo Djere, digno jogador de saibro, não seria mesmo um adversário à altura, mas Rafael Nadal procurou não ficar em quadra mais do que o necessário e fez uma estreia sem sustos, ainda que seus números não tenham sido empolgantes. Errou mais do que fez winners (24 a 19), subiu pouco à rede (7 pontos em 9 tentativas).
O mais preocupante no entanto foi o saque, cerca de 15 km por hora mais lento. A média de primeiro serviço ficou em 176 km/h e o mais veloz, em 195. Mais tarde, o espanhol garantiu que está mesmo com problema nas costas, desmentindo que a ausência na ATP Cup teria sido ‘fake’, não está à vontade e precisou mudar detalhes no serviço para diminuir a dor.
“Quero ganhar tempo para me recuperar”, afirmou. E os deuses do tênis estão dispostos a ajudar. O próximo adversário é o fraco Michael Mmoh, que ainda por cima jogou cinco duros sets para superar Viktor Troicki. E Daniel Evans, com quem poderia cruzar na terceira fase, nem passou da estreia. Assim, é muito provável que Rafa nem precisasse forçar seu jogo neste primeira semana e reserve seu melhor para o habilidoso Fabio Fognini e mais ainda se encarar Stefanos Tsitsipas ou Matteo Berrettini, que andam perigosos.
Vítimas da quarentena
Victoria Azarenka e Maria Sakkari se juntaram a Angelique Kerber como principais vítimas até aqui da quarentena absoluta a que foram impostas na chegada ao Melbourne, por terem viajado em aviões com passageiros contaminados.
Bicampeã e em bom momento, Vika repetiu o discurso de Kerber e culpou claramente a falta de tempo de treinamento, já que ficou 14 dias no quarto: “Tentei jogar contra a parede e as almofadas, mas isso não é o suficiente”, reclamou. Porém é importante observar que a cabeça 12 teve 5/2 e saque para fechar o primeiro set contra a boa Jessica Pegula e cometeu duplas faltas. Sakkari por sua vez preferiu reclamar de um mau dia.
Sofia Kenin e Elina Svitolina tiveram estreias com muito trabalho, Johanna Konta abandonou ainda no começo do segundo set e Karolina Pliskova ganhou fácil, mas o grande destaque ficou para a ‘bicicleta’ que a embaladíssima Ash Barty aplicou em Danka Kovinic. A 82º do mundo ganhou apenas 10 pontos na partida, cinco deles em erro da cabeça 1. Esta foi a 17ª vez na Era Aberta que o torneio viu um duplo 6/0.
E mais
– Boa terça-feira para os locais. De Minaur venceu fácil, Popyrin tirou um irreconhecível Goffin e Kokkinakis voltou a vencer no torneio depois de seis anos e marcou encontro com Tsitsipas.
– E por falar no grego, muito divertida sua entrevista em quadra com Jim Courier, com participação constante do público a cada resposta. Stef mostrou, é claro, bom humor depois de atropelar Simon.
– O garoto Alcaraz anotou outro pequeno feito e, aos 17 anos, se tornou o mais jovem a vencer num Slam desde o mesmo Kokkinakis, em 2014. E encara agora o sueco Mikael Ymer, cinco anos mais velho, que surpreendeu Hurkacz e enfim mostrou um tênis mais competitivo.
– Bautista já vinha mostrando problemas físicos na ATP Cup e caiu diante de Albot de virada. O cabeça 12 não deu desculpas e disse que há dias que a cabeça não segue o corpo.
– Jogo interessante de segunda rodada no feminino terá Pliskova contra Collins. A norte-americana, semi dois anos atrás, acabou de ganhar da tcheca no WTA de Yarra Valley.
– Encerrada a primeira rodada, oito cabeças do feminino já deram adeus. Petra Martic e Shuai Zhang aumentaram a lista.
– Djokovic busca contra Tiafoe sua 298ª vitória em Slam. O adversário de 23 anos tem 14. Já Thiem pega Koepfer tendo histórico de 5-0 contra canhotos no torneio. Shapovalov encara pela primeira vez o imprevisível Tomic.
– Halep enfrenta a local Tomljanovic, a quem venceu três vezes porém em dois a australiana tirou set. Sabalenka x Kasatkina também pode ter emoções