Há duas verdades possivelmente absolutas sobre Roger Federer. Pode sem dúvida parecer o trabalho mais fácil para qualquer treinador, mas no fundo deve ser a tarefa mais difícil para o mais experiente técnico.
Teoricamente, é uma incrível vantagem você tentar propor alternativas táticas para um jogador de tão vastos recursos técnicos, capaz de fazer praticamente tudo com uma raquete e uma bola de tênis, seja em que piso for. Mas ao mesmo tempo, o que se pode ensinar a um jogador do tamanho de Federer? Pior ainda: até que ponto um megacampeão como ele estará disposto a ouvir críticas e conselhos?
Ao entrar em sua 19ª temporada como profissional, Federer acaba de anunciar a oitava troca no comando. E talvez tenha sido a pior delas, em termos práticos. Vamos a um rápido histórico.
O australiano Peter Carter foi quem conduziu Roger em seus dois primeiros anos de circuito, na famosa transição, entre 1998 e 1999. Aí veio a opção dolorosa porém acertadíssimo pelo sueco Peter Lundgren – o suíço sofreu por ter de se separar do amigo Carter, que ainda por cima morreria alguns anos depois -, o responsável pelo grande salto de sua carreira. Entre 2000 e 2003, Lundgren encorpou o jogo de Federer, conseguiu colocar sua cabeça no lugar e lhe deu enfim o Grand Slam tão cobrado.
Com o fim do relacionamento, Federer preferiu ficar sozinho e só voltou a ter um técnico fixo em 2006 e 2007, optando pelo australiano Tony Roche. Foi o auge total, transformou-se num tenista quase imbatível. A saída em 2007 deu lugar ao amigo de adolescência Severin Luthi, que permanece no time até hoje, num cargo entre conselheiro, mentor e confidente. Nos três anos seguintes, Roger agregou por curto período o espanhol Jose Higueras, em 2008. com quem pretendia evoluir no saibro. O fruto foi colhido na temporada seguinte com o troféu em Roland Garros.
Perdendo espaço para a nova geração – além do nêmesis Rafael Nadal, apareciam agora Novak Djokovic e Andy Murray como fortes adversários -, a saída foi chamar Paul Annacone em 2010. O competente americano ficou conhecido por dar o último Slam a Pete Sampras e de certa forma cumpriu a missão, ao levar o suíço ao histórico título de Wimbledon de 2012, quebrando todas as marcas e recuperando a liderança do ranking. Durante 2013, a dupla decidiu tentar a troca de raquete, mas muitos problemas físicos contribuíram para um ano sem graça.
Em outubro daquele ano, Federer anunciou o rompimento com Annacone, mas dois meses depois contratou Stefan Edberg, para o que deveria ter sido um período de trabalho. Primeiro como amigos, depois como parceiro de treinos e por fim como guru. O novo sueco na vida de Federer recuperou sua confiança, o levou de volta à rede, lhe deu talvez seu mais alto padrão técnico já visto.
O que será agora com Ivan Ljubicic? O croata tem vasto currículo como top 10, possui a preferência pelo estilo agressivo e acabou de passar dois anos como orientador de Milos Raonic. E o problema é justamente esse. Vimos muito pouco progresso no canadense nesse tempo todo, com pequeno desconto para suas contusões. Mas nada de um jogo de rede vistoso, que combinaria com seu fantástico saque e grande forehand. Não se viu o dedo do técnico croata em quase nada, exceto pequena melhora no backhand, que era um grande golpe de Ivan (que usa uma mão).
Minha impressão é que pela primeira vez Roger deu um passo para trás na troca de treinador. O que, aos 34 anos e num circuito extremamente vigoroso, pode ser uma notícia ruim.