Roma é sempre um grande espelho para Roland Garros, não apenas pela proximidade entre os dois maiores eventos do saibro mas também pela similaridade das condições de umidade e temperatura, portanto na velocidade de jogo em si. E ao ver o domínio e a forma com que Novak Djokovic e Iga Swiatek desfilaram no Foro Itálico, não resta mais dúvida de que ambos chegarão a Paris como os nomes a ser batidos.
Djokovic já dava mostras evidentes de progresso físico e técnico em Madri. Fez uma partida espetacular na derrota para Carlos Alcaraz e o esforço de 3h38 foi superado sem susto. Era um indicativo importante de que a forma estava recuperada e aí faltavam ajustes finos, que Madri dificulta por conta da altitude. Assim, Roma caiu como uma luva para o sérvio.
Suas três últimas atuações foram soberbas, já que Felix Auger-Aliassime exigiu o máximo de empenho e precisão, Casper Ruud se mostrava um saibrista em condições de suportar um forte ritmo da base e Stefanos Tsitsipas era o experiente finalista de Roland Garros com jogo versátil e saque poderoso. Não tiraram set do número 1. Os seis primeiros games de Nole na final deste domingo registraram um volume avassalador, sufocante, e o tiebreak decisivo foi impecável. O grego teve sua chance, quando sacou para o segundo set, mas falhou no quesito mais importante de todos: o mental.
De forma diferente e talvez ainda mais taxativa, Swiatek está dois passos à frente de todas as concorrentes, o que nem é uma surpresa tão grande assim. Ao terminar Miami, eu já dizia que a polonesa migraria para o saibro, o piso em que realmente se sente mais à vontade, e da forma com que estava jogando seria muito difícil ser batida. Mas Iga foi além das minhas próprias expectativas porque atropelou quem cruzou sua frente em Stuttgart e Roma com raros momentos de equilíbrio ou de queda de intensidade.
Com exceção do saque, que certamente ainda pode melhorar, Swiatek mostra um repertório muito rico. Está extremamente veloz e resistente, chega facilmente nas bolas e com isso acha sempre a melhor resposta. Bate muito pesado em qualquer direção e a confiança atingiu um estágio tamanho que ela executa com apuro qualquer golpe mais exigente. E isso aconteceu repetidas vezes na final de Roma diante de Ons Jabeur.
Rainha do circuito no momento, e com folga, surge como favorita disparada para o bi em Roland Garros, já que nem a atual campeã parece ameaça, uma vez que Barbora Krejcikova está afastada desde o final de fevereiro.
O favoritismo de Djokovic ficou óbvio, porém um degrau abaixo. Além do crescimento de Alcaraz, um adversário 16 anos mais jovem e dono de um jogo poderoso, não se pode jamais descartar Rafa Nadal quando se chega a Paris. O multicampeão espanhol será dúvida a cada partida por conta do problema no pé, mas isso pode ser um handicap diante de oponentes desavisados. Tsitsipas mostrou no segundo set de hoje que não é bom vacilar contra ele e por isso me parece a quarta força em quadra. Eu não apostaria num campeão fora desse grupo.
E mais
- Bia Haddad Maia deixou escapar chances na final contra Claire Lu no saibro francês, ficou com o vice e jogará Roland Garros como 49ª do ranking. Será sua volta ao torneio desde 2017 e, sem pontos a defender, depende de um bom sorteio para continuar subindo.
- Sete brasileiros entraram no quali do Slam do saibro e vejo boas chances de Thiago Monteiro e Laura Pigossi avançarem para a chave principal. Thiago Wild, João Menezes, Matheus Pucinelli, Felipe e Carol Meligeni terão sempre um cabeça no caminho.
- Matteo Berrettini não se recuperou e desistiu de Roland Garros, ajudando Pablo Carreño a subir para cabeça 16.
- Daniil Medvedev enfim retorna ao circuito após a cirurgia de hérnia, tenta se adaptar ao odiado saibro em Genebra e será o cabeça 2 em Paris, o que é quase um desperdício.
- John Isner e Diego Schwartzman quase ganharam Roma. O gigante descobriu aptidão para a dupla, ganhou Indian Wells e Miami com parceiros distintos e será top 20 da especialidade aos 37 anos.
- Rafael Matos ganhou seu terceiro título do ano no challenger de Bordeaux – os outros dois troféus foram de ATP 250 – e grudou no top 50, barreira que pode quebrar em Roland Garros. Ele jogará ao lado do mesmo espanhol David Vega.
- Soares, Melo e Meligeni também entraram nas duplas de Paris, todos com parceiros estrangeiros.