É bem verdade que foi o pior Rafael Nadal da temporada 2022, mas ganhar sem jogar o melhor tênis é também uma virtude dos campeões e o canhoto espanhol sabe muito do assunto. Na base de garra, com tremendas oscilações principalmente no saque, ele contou com a falta de determinação do garoto Sebastian Korda na hora de concluir o placar e com isso chega à 16ª vitória consecutiva.
A batalha de Indian Wells foi aquele típico jogo de capítulos claramente distintos. Korda entrou apressado e levou um baile, mas depois calibrou a devolução, ousou mais da base e achou um buraco interessante ao fugir para bater o forehand cruzado. Tudo é claro favorecido por um serviço muito instável do número 4 do ranking.
De repente, Korda estava com duas quebras, saque e 5/2 de vantagem. Parecia irreversível. Apenas parecia. O norte-americano sentiu os nervos na primeira chance e viu Rafa aplicar grandes contragolpes na segunda. AInda teve um break-point incrivelmente fácil para ir a 6/5. Conseguiu empurrar para o tiebreak e de novo teve dois saques com 3-2. Faltou a ele o que sobra para Nadal: controle mental. Ainda assim, consciente do dia ruim, o espanhol admitiu que teve sorte e frisou a dificuldade de se controlar a bola no deserto californiano.
Nadal, que antecipadamente já descartou Miami do seu calendário – um dos raros grandes torneios que jamais conquistou, mas uma decisão sábia frente à longa trajetória no saibro europeu -. tentará terceira vitória na quadra dura contra Daniel Evans, que não ganhou set até hoje. Se estiver inteiro na parte física, é de se esperar o espanhol explorar sem descanso o backhand do britânico, que abusa no uso do slice. E todos sabemos que esse golpe não incomoda Rafa.
Bem mais cedo e com muito maior facilidade, Daniil Medvedev deu o primeiro dos três passos que precisa para manter o número 1 do ranking. Até demorou um pouquinho para achar o ritmo de fundo de quadra, mas daí em diante o tcheco Tomas Machac foi presa fácil. Reencontra agora Gael Monfils, contra quem perdeu uma e venceu outra em 2019, e se confirmar terá outro jogo duro diante de um espanhol, Carlos Alcaraz ou Roberto Bautista.
A parte inferior da chave masculina ainda terá a estreia dos favoritos neste domingo e alguns jogos parecem interessantes: Berrettini-Rune, Aliassime-Zandschulp, Carreño-Munar, Nakashima-Tiafoe, Querrey-Isner e Bublik-Murray. Com a desistência de Novak Djokovic, Grigor Dimitrov herdou o lugar do cabeça 2 e sua caminhada, mas o búlgaro não anda confiável e pode então pintar a grande chance de Murray fazer um Masters decente, algo que não acontece desde seu título em Bercy de 2016.
Dez cabeças fora no feminino. E contando.
A chave feminina, mais adiantada, completou todo o quadro da terceira rodada e manteve o padrão atual: festival de surpresas e grandes nomes deixando a briga muito cedo.
O lado superior perdeu Garbiñe Muguruza, Karolina Pliskova, Elina Svitolina, Belinda Bencic, Tamara Zindasek e Alizé Cornet, enquanto o lado inferior já não tem mais Aryna Sabalenka, Ons Jabeur, Jelena Ostapenko e Jessica Pegula. Ouso dizer que somente as quedas de Jabeur e Ostapenko foram menos esperadas.
E não foi só. Simona Halep, Emma Raducanu, Iga Swiatek e Petra Kvitova foram levadas ao terceiro set e a atual campeã Paula Badosa quase se enrolou. Estreia realmente tranquila coube apenas para Anett Kontaveit e Maria Sakkari.
Três destaques, um tanto tristes. Primeiro, a virada inacreditável que Muguruza levou da boa Alison Riske, já que a espanhola fez 6/0 e 3/0 e ganhou depois tão somente mais um game até o fim da partida. Depois, o abandono completamente sem sentido de Amanda Anisimova depois de perder quatro match-points contra a guerreira Leylah Fernandez. E pior de tudo, a ofensa da torcedora que tirou Naomi Osaka de órbita, levou a japonesa às lágrimas e à derrota. Como ela bem lembrou, isso aconteceu com Serena e Venus lá mesmo em Indian Wells, levando a longo boicote das irmãs ao torneio.
A briga por vaga nas oitavas tem como destaque Halep-Gauff, Swiatek-Tauson, Kasatikina-Kerber, Azarenka-Ribakina e Sakkari-Kvitova.
Bia Haddad Maia fez três jogos distintos. Em simples, se aproveitou dos mais de 70 erros de Sofia Kenin nos dois sets disputados, mas diante da jovem Tauson faltou um saque mais contundente. A canhota paulista até aguentou a pancadaria imposta pela dinamarquesa, que faz tudo muito direitinho. Em duplas, Bia e Anna Danilina deixaram escapar cinco match-points diante das campeãs do US Open de 2020.