Cotados para repetir a final do ano passado dentro de seis dias, Novak Djokovic e Dominic Thiem viveram uma terceira rodada de tensão e drama em que vislumbraram a queda inesperadamente precoce, mas souberam reagir em quinto sets muito bem jogados. Porém, se o austríaco sai fortalecido por uma virada espetacular contra um inspirado Nick Kyrgios e sua ruidosa torcida, o sérvio deixa preocupações sobre seu quadril machucado.
Thiem e Kyrgios justificaram a expectativas de emoções e equilíbrio, mas sinceramente esperava um pouquinho mais de qualidade. O austríaco jogou acuado nos dois primeiros sets, muito pela postura do adversário, que forçou devoluções mas também por sua atitude um tanto passiva. Um vacilo de Kyrgios no começo do terceiro set, em que exagerou na descontração – pouco antes havia fechado o segundo set com um saque por baixo -, foi o combustível para Thiem se soltar e daí em diante jogar no nível que se espera dele.
O jogo ficou então bem interessante, um grande duelo de saques e bolas na linha, variações constantes de Kyrgios e pés mais bem movimentados do cabeça 3. Conforme Thiem encostava no placar, o adversário saia do equilíbrio emocional, embora jamais tenha chegado aos destemperos conhecidos. A decisão veio ali no sétimo game do set final, na segunda tentativa de quebra, e Thiem fechou uma vitória extremamente importante com máxima eficiência no seu backhand. Note-se que ele fez mais winners do que Kyrgios (57 a 52). De seus 28 erros, 20 foram nos dois sets iniciais e apenas oito quando começou a reagir.
Djokovic vinha tendo trabalho contra Taylor Fritz, mas o jogo estava sob controle. É verdade que perdeu o serviço quando sacou para o primeiro set, mas depois fez um tiebreak impecável. O norte-americano voltou a perder o saque no game inicial da outra série, salvou break-points com coragem e teve chance de empatar no oitavo game antes de o sérvio sacar muito bem. Aí no terceiro game do terceiro set veio o contrapé e a torção de quadril. Djoko foi atendido no vestiário e nas viradas seguintes e claramente perdeu a potência no saque e a mobilidade para a direita. Com caretas de dor, enfim cedeu o saque e o set.
Virou drama e incerteza. Fritz levou o terceiro set e já tinha uma quebra no quarto quando houve a parada para retirar o público do estádio. Talvez isso tenha sido essencial para Nole. Embora não tenha recuperado a quebra e se viu no quinto set, ele voltou a jogar bem, distribuindo notáveis pancadas com o forehand e dominando as trocas novamente. É um competidor espetacular e foi plenamente justificável sua euforia ao se classificar pela 14ª vez para as oitavas do Australian Open e anotar o 299º triunfo de Grand Slam.
A luta por vaga nas quartas é curiosa para os dois. Thiem deve levar toda confiança para encarar Grigor Dimitrov, contra quem possui retrospecto negativo de 3 a 2, tendo perdido as duas mais recentes. Djokovic por seu lado encara o ‘freguês’ Milos Raonic, que só tirou três sets em 11 duelos, sete deles na quadra dura, porém o sérvio já diz que não tem certeza de que estará inteiro para o domingo. Exames preliminares indicam ruptura muscular.
Feminino vai pegar fogo
Sem surpresas, sete cabeças de chave e todos os grandes nomes que jogaram nesta sexta-feira avançaram para as oitavas de final da chave feminina, o que garantirá uma programação espetacular para domingo: Simona Halep x Iga Swiatek, Naomi Osaka x Garbiñe Muguruza e Serena Williams x Aryna Sabalenka. A outra partida envolverá Marketa Vondrousova e Su-Wei Hsieh.
Mas Serena ficou devendo. E muito. Fez uma partida de nível bem ruim diante da jovem Anastasia Potapova, que sequer está no top 100 e cometeu duplas faltas lá na linha de base. Ainda assim, sacou para o primeiro set e liderou o tiebreak. Se não controlar melhor os nervos, Williams não irá longe. Sabalenka confessou ter tido Serena como espelho na infância.
Osaka e Muguruza estão batendo muito na bola e farão um curioso primeiro duelo no circuito. Halep se recuperou do jogo que quase perdeu na rodada anterior e fará o ‘tira-teima’ contra Swiatek. São dois jogos de resultados bem imprevisíveis.
Sem público
Este pode ter sido o último dia de público no Australian Open. O surgimento de 13 novos casos em Melbourne, levou o governo a adotar rápidas medidas preventivas e determinar novo isolamento obrigatório a todos, que só poderão sair de casa em situações específicas.
Isso quer dizer que nos próximos cinco dias o torneio não poderá vender ingressos, nem ter pessoas nas arquibancadas que não sejam credenciadas. O diretor Craig Tailey diz que espera a retomada de torcida para a fase final. a partir de quinta, quando acontecem as semis femininas e a primeira semi masculina.
E mais
– Esta foi a quarta virada de 0-2 de Thiem em Slam. Duas aconteceram nos EUA (2014 e 20) e as outras na Austrália (2018 e 2021). Já Kyrgios tem 8 a 3 em quinto sets em Slam, com todas as derrotas em casa (Paire, Seppi e Thiem).
– Zverev manteve retrospecto perfeito contra Mannarino e realizou seu jogo mais tranquilo da semana. É super favorito contra Lajovic, a quem venceu duas vezes no quinto set em Roland Garros.
– Dimitrov só precisou jogar sete games antes do abandono de Pablo Carreño por lesão abdominal. O búlgaro fez semi no torneio em 2017.
– Notável atuação de Aliassime em cima do amigo e compatriota Denis Shapovalov, com destaque para sua eficiência nos contragolpes e passadas. Tenta repetir as oitavas do US Open-2020 contra Karatsev, russo de 27 anos que veio do quali e despejou 50 winners sobre Schwartzman e já totaliza 122 no torneio.
– Swiatek ganhou todos os últimos 20 sets que disputou em Grand Slam, já que levou Roland Garros invicta. Perdeu três serviços contra Ferro, um aspecto que precisa evoluir.
– Nadal não treinou na sexta-feira e tenta ficar pronto para encarar o canhoto Norrie na noite local.
– Expectativa pelo duelo de gerações entre De Minaur-Fognini e Rublev-López, ambos inéditos no circuito.
– A Rússia nunca teve mais de dois representantes nas oitavas de um Slam profissional e pode agora ter quatro, caso Medvedev, Rublev e Khachanov se juntem a Karatsev.
– Berrettini no entanto é favorito contra Khachanov, tendo vencido todos os três duelos.